A noite é escura e eu sou a noite escura
Espírito que és sombra, que mais queres,
Do que a Dor, o sacrário da amargura,
Se precisas da Dor para viveres?
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
domingo, 31 de julho de 2011
sábado, 30 de julho de 2011
Cegas luzes... - GASTÃO CRUZ
Cegas luzes conhece de escassez
a nudez que desprende
do corpo devagar a claridade
das chamas desoladas
EM - OUTRO NOME/ESCASSEZ/AS AVES - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
a nudez que desprende
do corpo devagar a claridade
das chamas desoladas
EM - OUTRO NOME/ESCASSEZ/AS AVES - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Fuga de Bizâncio - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Não queria nenhum lugar
viajava ao longo dos anos mais para longe
sem nada de muito caro
sem pedidos de socorro
implacável nessa forma de gentileza
tão própria a quem não ousa
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
viajava ao longo dos anos mais para longe
sem nada de muito caro
sem pedidos de socorro
implacável nessa forma de gentileza
tão própria a quem não ousa
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Natureza-morta - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA
Quem sabe a textura da madeira,
as primícias do fogo,
acordar para uma razia de luz,
na fermentação do barro?
Decifrar a textura da madeira
segreda a primazia do fogo,
o olhar submetido
à revelação das coisas.
Quem sabe o gosto da fruta,
o azul manchado de sombras,
onde os fragmentos do mundo
resistem ao apelo de uma ordem?
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
as primícias do fogo,
acordar para uma razia de luz,
na fermentação do barro?
Decifrar a textura da madeira
segreda a primazia do fogo,
o olhar submetido
à revelação das coisas.
Quem sabe o gosto da fruta,
o azul manchado de sombras,
onde os fragmentos do mundo
resistem ao apelo de uma ordem?
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Aves - JOÃO RUI DE SOUSA
Enlouquecem-se-me as aves
em seu sinal trepidante
como um lume navegante
sobre a leveza da brisa
sobre um ovo triunfante
no peixe que alfim desliza
como um martelo de pranto
a desfazer-se em descida
para o esplendor das vindimas.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
em seu sinal trepidante
como um lume navegante
sobre a leveza da brisa
sobre um ovo triunfante
no peixe que alfim desliza
como um martelo de pranto
a desfazer-se em descida
para o esplendor das vindimas.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
terça-feira, 26 de julho de 2011
Jogo - LITA LISBOA
Do baralho da vida,
Foste a carta apetecida
Que punha minha alma em fogo...
À minha mão vieste parar...
Não te consegui segurar
Por ter azar ao jogo,
Ou não saber jogar...
E querer jogar,
Eu queria...
Mas bem cedo percebia
Que não iria ganhar.
E havia tantas cartas...
Meu Deus, havia tantas!
Mas nenhuma era a que eu queria,
E desisti de jogar!
EM - FRAGMENTOS DE MIM - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
Foste a carta apetecida
Que punha minha alma em fogo...
À minha mão vieste parar...
Não te consegui segurar
Por ter azar ao jogo,
Ou não saber jogar...
E querer jogar,
Eu queria...
Mas bem cedo percebia
Que não iria ganhar.
E havia tantas cartas...
Meu Deus, havia tantas!
Mas nenhuma era a que eu queria,
E desisti de jogar!
EM - FRAGMENTOS DE MIM - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Sonetilho - DOMINGOS DA MOTA
Medo do medo de amar
medo do medo de ser
medo até de se afogar
e com medo perecer
medo de estar e não estar
à beira do desencanto
medo de não se abrigar
de viver sem acalanto
medo de agora perdida
o que outrora foi a vida
e que jamais viverá
medo dos olhos do medo
medo do chão do degredo
mais medos não: oxalá
EM - BOLSA DE VALORES E OUTROS POEMAS - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
medo do medo de ser
medo até de se afogar
e com medo perecer
medo de estar e não estar
à beira do desencanto
medo de não se abrigar
de viver sem acalanto
medo de agora perdida
o que outrora foi a vida
e que jamais viverá
medo dos olhos do medo
medo do chão do degredo
mais medos não: oxalá
EM - BOLSA DE VALORES E OUTROS POEMAS - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
domingo, 24 de julho de 2011
Afeto - EDGARDO XAVIER
Recupero-te
na febre do tempo
que arde
como a ternura
mansamente
Na minha boca
a tua sede
incendeia a madrugada
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
na febre do tempo
que arde
como a ternura
mansamente
Na minha boca
a tua sede
incendeia a madrugada
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
sábado, 23 de julho de 2011
Poema de amor - NATÉRCIA FREIRE
Teu rosto, no meu rosto, descansado.
Meu corpo, no teu corpo, adormecido.
Bater de asas, tão longe, noutro tempo,
Sem relógio nem espaço proibido.
Oh, que atónitos olhos nos contemplam,
Nos sorriem, nos dizem: Sossegai!
Românticos amantes, viajantes eternos,
olham por nós na hora que se esvai!
Que música de prados e de fontes!
Que riso de águas vem para nos levar?
Meu rosto, no teu rosto de horizontes,
Meu corpo, no teu corpo, a flutuar.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
Meu corpo, no teu corpo, adormecido.
Bater de asas, tão longe, noutro tempo,
Sem relógio nem espaço proibido.
Oh, que atónitos olhos nos contemplam,
Nos sorriem, nos dizem: Sossegai!
Românticos amantes, viajantes eternos,
olham por nós na hora que se esvai!
Que música de prados e de fontes!
Que riso de águas vem para nos levar?
Meu rosto, no teu rosto de horizontes,
Meu corpo, no teu corpo, a flutuar.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Lágrimas ocultas - FLORBELA ESPANCA
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida,,,
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida,,,
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Hermengarda - DOMINGOS MONTEIRO
Ó Hermengarda, ó pálida donzela,
Ó pálida donzela enlouquecida,
Que à porta da caverna adormecida
Sonhavas com Eurico, à luz da estrela.
Ó Hermengarda, ó pálida donzela,
Rosabranca de luz, emurchecida,
Canção d'amor, triste canção dorida,
Que uma alma santa, um coração, revela.
Amo também a tua sombra altiva,
Amo também essa memória viva
Do teu nome, espalhada em derredor,
E no Além, nas trevas do passado,
Eu vejo ainda o teu olhar velado
Quase a sorrir, enlouquecer d'amor.
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
Ó pálida donzela enlouquecida,
Que à porta da caverna adormecida
Sonhavas com Eurico, à luz da estrela.
Ó Hermengarda, ó pálida donzela,
Rosabranca de luz, emurchecida,
Canção d'amor, triste canção dorida,
Que uma alma santa, um coração, revela.
Amo também a tua sombra altiva,
Amo também essa memória viva
Do teu nome, espalhada em derredor,
E no Além, nas trevas do passado,
Eu vejo ainda o teu olhar velado
Quase a sorrir, enlouquecer d'amor.
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
quarta-feira, 20 de julho de 2011
A dor... - GASTÃO CRUZ
A dor com que de sob
os dedos a nudez desaparece
da
boca funesta que te envolve
os dentes
e tens na escuridão
dos dias que
esconder deste fogo da amargura
de junho
EM - OUTRO NOME/ESCASSEZ/AS AVES - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
os dedos a nudez desaparece
da
boca funesta que te envolve
os dentes
e tens na escuridão
dos dias que
esconder deste fogo da amargura
de junho
EM - OUTRO NOME/ESCASSEZ/AS AVES - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 19 de julho de 2011
A casa - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Esta casa é a tua casa
quanto ao que permanece
nem sei que dizer
tanto me feriu a
insignificância do mundo
a relativa veracidade concedida aos lírios
minhas habilidades inexperientes
a obscuridade brilha para lá
da própria enseada
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
quanto ao que permanece
nem sei que dizer
tanto me feriu a
insignificância do mundo
a relativa veracidade concedida aos lírios
minhas habilidades inexperientes
a obscuridade brilha para lá
da própria enseada
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Edvard Munch - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA
O grito,
o grito verde, adstringente,
e as raparigas
na ponte,
evitando a repetição
das cores
e o fascínio da água.
Eu que não sei,
que posso aprender?
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
o grito verde, adstringente,
e as raparigas
na ponte,
evitando a repetição
das cores
e o fascínio da água.
Eu que não sei,
que posso aprender?
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
domingo, 17 de julho de 2011
Da verdade nunca achada - JOÃO RUI DE SOUSA
O pior é que sabias
quantas mortes transportavas
quantas fronteiras erguias
em ti próprio que afundavas
os vários sóis que trazias
em nebulosas e praias
quantas noites eram dias
piores que as noites mais bravas
de patentes arrelias
(sarrisca e cinza empolgadas)
de saber que dor havia
de saber que havia o nada
o movimento cindido
entre sombra e alvorada:
a falha de um só sentido
- de verdade nunca achada.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
quantas mortes transportavas
quantas fronteiras erguias
em ti próprio que afundavas
os vários sóis que trazias
em nebulosas e praias
quantas noites eram dias
piores que as noites mais bravas
de patentes arrelias
(sarrisca e cinza empolgadas)
de saber que dor havia
de saber que havia o nada
o movimento cindido
entre sombra e alvorada:
a falha de um só sentido
- de verdade nunca achada.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
sábado, 16 de julho de 2011
Ser criança - LITA LISBOA
Ser criança é ter amor, ter carinho
Ter alimento na mesa,
Ter o bibe bem limpinho,
Ter cuidados de saúde,
Ter gente em sua defesa!
Ter brinquedos para brincar,
Ter livros para estudar,
Ter agasalho no frio,
Ter quem enxugue uma lágrima,
Quando um joelho esfolar,
E encontrar um sorriso,
Que o incentive a saltar
Ter um abraço
Um beijinho
E ter alguém bem juntinho,
P'ra em calma fantasia
Adormecer e sonhar.
EM - FRAGMENTOS DE MIM - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
Ter alimento na mesa,
Ter o bibe bem limpinho,
Ter cuidados de saúde,
Ter gente em sua defesa!
Ter brinquedos para brincar,
Ter livros para estudar,
Ter agasalho no frio,
Ter quem enxugue uma lágrima,
Quando um joelho esfolar,
E encontrar um sorriso,
Que o incentive a saltar
Ter um abraço
Um beijinho
E ter alguém bem juntinho,
P'ra em calma fantasia
Adormecer e sonhar.
EM - FRAGMENTOS DE MIM - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Cantiga - DOMINGOS DA MOTA
Ouço contigas d'amigo,
faço contigas d'amor,
d'água e searas de trigo,
de vinho e pão, do pascigo
fonte de vida: o fulgor
de ver o sol quando a lua
sobre a terra desnudada
e dizeres-me que sou tua
com a ternura mais crua
(sermos assim, tudo ou nada)
Só este amor eu persigo
ora e sempre, lado a lado,
tu comigo, eu contigo
e ambos porto de abrigo
do princípio até ao cabo
EM - BOLSA DE VALORES E OUTROS POEMAS - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
faço contigas d'amor,
d'água e searas de trigo,
de vinho e pão, do pascigo
fonte de vida: o fulgor
de ver o sol quando a lua
sobre a terra desnudada
e dizeres-me que sou tua
com a ternura mais crua
(sermos assim, tudo ou nada)
Só este amor eu persigo
ora e sempre, lado a lado,
tu comigo, eu contigo
e ambos porto de abrigo
do princípio até ao cabo
EM - BOLSA DE VALORES E OUTROS POEMAS - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Terra tua - EDGARDO XAVIER
Veste-me com o aroma da tua boca
e devassa-me
como se fosse terra tua
Ara-me
Que seja eu
o prémio e o castigo
a sede e a água
o fim e a eternidade
consentidos
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
e devassa-me
como se fosse terra tua
Ara-me
Que seja eu
o prémio e o castigo
a sede e a água
o fim e a eternidade
consentidos
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Imagem - NATÉRCIA FREIRE
A vida da bem-casada
Está, toda branca, estirada
Sobre a cama
De casal.
A vida da bem-casada
Pulsa dentro da redoma
De cristal.
Em claro sol entornada,
Tem abismos de paisagem
Irreal...
E depois de abandonada,
Parece jazer à espera
Das três pazadas de cal.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
Está, toda branca, estirada
Sobre a cama
De casal.
A vida da bem-casada
Pulsa dentro da redoma
De cristal.
Em claro sol entornada,
Tem abismos de paisagem
Irreal...
E depois de abandonada,
Parece jazer à espera
Das três pazadas de cal.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 12 de julho de 2011
Tortura - FLORBELA ESPANCA
Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que disseste, a chorar, isto que sinto!!
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que disseste, a chorar, isto que sinto!!
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Velas II - DOMINGOS MONTEIRO
Partir convosco, ir também, seguir
Convosco sempre pelo mar afora,
Era o desejo meu, que a toda hora
Na minha mente, em mim, anda a sorrir.
Como um romeiro antigo sem partir,
Sempre ao meu lábio doloroso aflora
Esta ânsia tremente, criadora,
Meu supremo desejo, também ir...
E já partem as velas, docemente,
E eu sinto em mim, angustiadamente,
A saudade d'alguém, que nunca vi;
Mas as velas lá vão, lá vão, seguindo
Por sobre as vagas, que se vão florindo,
Por sob a luz do sol, que lhes sorri.
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
Convosco sempre pelo mar afora,
Era o desejo meu, que a toda hora
Na minha mente, em mim, anda a sorrir.
Como um romeiro antigo sem partir,
Sempre ao meu lábio doloroso aflora
Esta ânsia tremente, criadora,
Meu supremo desejo, também ir...
E já partem as velas, docemente,
E eu sinto em mim, angustiadamente,
A saudade d'alguém, que nunca vi;
Mas as velas lá vão, lá vão, seguindo
Por sobre as vagas, que se vão florindo,
Por sob a luz do sol, que lhes sorri.
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
domingo, 10 de julho de 2011
Junho é um mês funesto - GASTÃO CRUZ
Junho é um mês funesto
com o céu coberto
de armas
Da secura de junho
ninguém ainda morre
em cada corpo a boca
envolve os dentes mansos
EM - OUTRO NOME/ESCASSEZ/AS AVES - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
com o céu coberto
de armas
Da secura de junho
ninguém ainda morre
em cada corpo a boca
envolve os dentes mansos
EM - OUTRO NOME/ESCASSEZ/AS AVES - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
sábado, 9 de julho de 2011
Calle Principe, 25 - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Perdemos repetidamente
a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos
conservar
mas levamos anos
a esquecer alguém
que apenas nos olhou
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos
conservar
mas levamos anos
a esquecer alguém
que apenas nos olhou
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Interior - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA
Caminhadas pelo Outono, junto
à fronteira. Rochas e mato.
A preocupação de manter a correspondência
em dia. Pedacinhos de tristeza:
era quase uma melodia.
Revejo os pinhais, ou soutos, a madeira
com que fazem os barcos e os caixões.
Desciam pelos últimos meses,
com os sapatos na mão, para não fazerem
barulho. Ao jantar, uma sopa
de beldroegas.
Encostado à aridez, caminhando sobre
folhas castanhas, dentro de dias cinzentos,
com o coração nublado.
Sem remorso, juro-o.
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
à fronteira. Rochas e mato.
A preocupação de manter a correspondência
em dia. Pedacinhos de tristeza:
era quase uma melodia.
Revejo os pinhais, ou soutos, a madeira
com que fazem os barcos e os caixões.
Desciam pelos últimos meses,
com os sapatos na mão, para não fazerem
barulho. Ao jantar, uma sopa
de beldroegas.
Encostado à aridez, caminhando sobre
folhas castanhas, dentro de dias cinzentos,
com o coração nublado.
Sem remorso, juro-o.
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Camuflagem - JOÃO RUI DE SOUSA
A emalar a desgraça
a guardar todo o recheio
de tapetes e espingardas
enferrujadas e veios
onde a corrente não passa
onde o suspiro é o meio
de dizer que tudo cansa
ou que parar é o primeiro
movimento de quem junta
a solidão ao recreio
- lá vou seguindo na marcha
com minha trompa e pandeiro
a esconder nódoas e facas
a tapar as rotas velas
do meu secreto veleiro;
lá vou seguindo na praça
como quem vai em recreio
da telha ao piso da casa
do gelo ao rio que disfarça
a dureza do terreiro.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
a guardar todo o recheio
de tapetes e espingardas
enferrujadas e veios
onde a corrente não passa
onde o suspiro é o meio
de dizer que tudo cansa
ou que parar é o primeiro
movimento de quem junta
a solidão ao recreio
- lá vou seguindo na marcha
com minha trompa e pandeiro
a esconder nódoas e facas
a tapar as rotas velas
do meu secreto veleiro;
lá vou seguindo na praça
como quem vai em recreio
da telha ao piso da casa
do gelo ao rio que disfarça
a dureza do terreiro.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Incongruências - LITA LISBOA
Influências
De negligências,
Que não querem
Advertências,
Dão
Consequências,
E nefastas
Absorvências,
Em vivências,
Cheias de
Inconsequências,
Pelas
Dependências!
São
Incongruências!
EM - FRAGMENTOS DE MIM - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
De negligências,
Que não querem
Advertências,
Dão
Consequências,
E nefastas
Absorvências,
Em vivências,
Cheias de
Inconsequências,
Pelas
Dependências!
São
Incongruências!
EM - FRAGMENTOS DE MIM - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
terça-feira, 5 de julho de 2011
Icebergue talvez - DOMINGOS DA MOTA
Prego os olhos em ti: são como as aves
a tentar debicar-se lentamente:
ante a sede e a fome dos meus lábios
com desejos de voar sinto as retinas:
voo então sobre ti, pássaro errante
em busca de alimento na seara
pra ver-te distraída (se distante)
icebergue talvez e tão avara
No voo secante dos meus olhos,
levado pela urgência, queimo os lábios
e atravesso-te o corpo, a contra-pêlo:
e perante a nudez fresca dos poros
sei da porta aberta a sete chaves
entregue à fusão do quebra-gelo
EM - BOLSA DE VALORES E OUTROS POEMAS - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
a tentar debicar-se lentamente:
ante a sede e a fome dos meus lábios
com desejos de voar sinto as retinas:
voo então sobre ti, pássaro errante
em busca de alimento na seara
pra ver-te distraída (se distante)
icebergue talvez e tão avara
No voo secante dos meus olhos,
levado pela urgência, queimo os lábios
e atravesso-te o corpo, a contra-pêlo:
e perante a nudez fresca dos poros
sei da porta aberta a sete chaves
entregue à fusão do quebra-gelo
EM - BOLSA DE VALORES E OUTROS POEMAS - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Tempo raso - EDGARDO XAVIER
Da boca ao peito
do ventre à aventura
é nos meus dedos que nasces
e no meu mar que navegas
à bolina do espanto
Em ti é que trago o tempo
varo a noite
bebo auroras
e sou
na agonia do nada
o tudo que me justifica
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
do ventre à aventura
é nos meus dedos que nasces
e no meu mar que navegas
à bolina do espanto
Em ti é que trago o tempo
varo a noite
bebo auroras
e sou
na agonia do nada
o tudo que me justifica
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
domingo, 3 de julho de 2011
Descontente - NATÉRCIA FREIRE
Abafada, afogada no Tejo,
Tristemente esquecida no fundo.
É só água que vejo! E não vejo
As janelas abertas do mundo!
Tristemente esquecida na sala.
Descontente, em ninguém deixou pena...
Na pequena moldura não fala,
No pequeno retrato é serena.
É só água que vejo. Talvez
Os meus braços se alonguem para o cais.
Mas o mar que me bate nos pés
Rasga um som de cristais... de cristais...
Às janelas do mundo, ninguém.
Sobre o cume das serras, a Lua.
Pelo frio da noite que vem,
Sou de pedra, no fundo, e estou nua.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
Tristemente esquecida no fundo.
É só água que vejo! E não vejo
As janelas abertas do mundo!
Tristemente esquecida na sala.
Descontente, em ninguém deixou pena...
Na pequena moldura não fala,
No pequeno retrato é serena.
É só água que vejo. Talvez
Os meus braços se alonguem para o cais.
Mas o mar que me bate nos pés
Rasga um som de cristais... de cristais...
Às janelas do mundo, ninguém.
Sobre o cume das serras, a Lua.
Pelo frio da noite que vem,
Sou de pedra, no fundo, e estou nua.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
sábado, 2 de julho de 2011
Castelã da tristeza - FLORBELA ESPANCA
Altiva e couraçada de desdém,
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor.
Passa por ele a luz de todo o amor...
E nunca em meu castelo entrou alguém.
Castelã da Tristeza, vês?... A quem?...
- E o meu olhar é interrogador -
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr...
Chora o silêncio... nada... ninguém vem...
Castelã da Tristeza, porque choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais?...
À noite, debruçada, plas ameias,
Porque rezas baixinho?... Porque anseias?...
Que sonho afagam tuas mãos reais?
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor.
Passa por ele a luz de todo o amor...
E nunca em meu castelo entrou alguém.
Castelã da Tristeza, vês?... A quem?...
- E o meu olhar é interrogador -
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr...
Chora o silêncio... nada... ninguém vem...
Castelã da Tristeza, porque choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais?...
À noite, debruçada, plas ameias,
Porque rezas baixinho?... Porque anseias?...
Que sonho afagam tuas mãos reais?
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Velas I - DOMINGOS MONTEIRO
Velas brancas, tão brancas que parecem
Todas feitas d'alvíssimo luar;
Tais frémitos de sol que esmorecessem
Na mansidão da luz crepuscular.
Desejos alongados amanhecem
No vento que vos leva sobre o mar;
Almas de sonho e almas que padecem
Num lento, doloroso agonizar.
Asa num voo aberta; como é lindo,
Por sobre as vagas que se vão florindo
Como flocos de neve, uma por uma,
Sentir poisar o vosso dorso d'ave,
Num cântico de luz triste e suave,
Numa alvorada d'hálitos de espuma.
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
Todas feitas d'alvíssimo luar;
Tais frémitos de sol que esmorecessem
Na mansidão da luz crepuscular.
Desejos alongados amanhecem
No vento que vos leva sobre o mar;
Almas de sonho e almas que padecem
Num lento, doloroso agonizar.
Asa num voo aberta; como é lindo,
Por sobre as vagas que se vão florindo
Como flocos de neve, uma por uma,
Sentir poisar o vosso dorso d'ave,
Num cântico de luz triste e suave,
Numa alvorada d'hálitos de espuma.
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
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