terça-feira, 31 de agosto de 2010

Brasil - MIGUEL TORGA


Pátria de emigração,
É num poema que te posso ter...
A terra - possessiva inspiração;
E os rios - como versos a correr.

Achada na longínqua meninice,
Perdida na perdida juventude,
Guardei-te como pude
Onde podia:
Na doce quietude
Da força represada da poesia.

E assim consigo ver-te
Como te sinto:
Na dorida moldura da lembrança,
O retrato da pura imensidade
A que dei a possivel semelhança
Com palavras e rimas e saudade.

in... Poesia completa vol. II - MIGUEL TORGA - Dom Quixote

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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lago - LILI LARANJO

Livro gentilmente oferecido pela autora

Lago largo lindo e límpido
Olho a água e vejo os peixes
Olho a água e vejo-a azul e transparente
Ao longe... a ponte...

Ponte lembrando a forma de uma mulher...
Ponte serena e esplêndida...
Com formas firmes e fortes...

E ao olhar:
... A água...
... O lago...
... A ponte...

Atravesso-a e consigo...
Sentir-te e abraçar-te...

in... Reticências apenas!... - LILI LARANJO - Edição de autor

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domingo, 29 de agosto de 2010

Abeiro-me de ti... - EDUARDO ALEIXO


Abeiro-me de ti,
Companheira
De rosto sereno.
Alimenta as minhas forças
Contra os inimigos da paz.
Beija-me na face
E apazigua as tempestades
Que se avolumam no meu peito.
Que sejas a água
Da rocha
Lisa e forte
Que quero ser.
E que ambos
Passemos
Atentos
E juntos
Pelo centro das aldeias
E cidades,
Mais ricos do amor
Que o mundo nos concede,
Muitas vezes nos nega,
Mas sempre nos merece!...

in... As palavras são de água - EDUARDO ALEIXO - Chiado Editora

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sábado, 28 de agosto de 2010

O vazio - LURDES DIAS (CLEO)


O vazio do horizonte
No vazio da alma
De sonhos vazios...

O vazio do tempo
O vazio das palavras
O vazio do pensamento...

O olhar vago
Perdido no lamento
De um lugar vazio

Um copo vazio
No vazio da madrugada

E permanece vazio
O lugar
Que olhei vezes sem conta

O vazio de ti...

in... In Pulsos - LURDES DIAS (CLEO) - Temas Originais

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Em louvor do poeta anónimo - NATÁLIA CORREIA


Tinha a idade de uma flor
Em seu enleio embebida
E a viola era o seu modo
Amante de estar na vida.

No amor nascera o rio
Que o coração lhe inundava.
Nascera o rio no amor
Mas o fim não lhe enxergava.

De cada vez que tocava
No infinito se perdia
Do corpo dessa viola
Que mais amor lhe pedia.

Ficou entre nós o tempo
Que fica uma andorinha.
Deu-nos essa Primavera
Porque era tudo o que tinha.

Foi-lhe o corpo atrás da alma
Que lhe pedia mais amor.
O seu nome ninguém sabe
Dizem que era Trovador.

in... Poesia completa - NATÁLIA CORREIA - Dom Quixote

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

gostava de te conhecer...* - JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES


gostava de te conhecer melhor inocência (há tantos
lagos quantos disserem as nuvens) não quero ser as
muitas águas em mim fácil disfarce que se visita.

um momento: é este o único eléctrico para a Foz?
todos os dias se tem de acordar mas talvez exista
um sol de sombras. as estátuas que eles movem da
luz para a lua e outro sol meu amigo essa imaterial

ilusão de possuir um pequeno canteiro (kiwi e milhã)
acaso o açucar sabe mergulhar no café quente sem
se dissolver? assim é o homem (vou dizer: o ritmo)

eu já sei ler e escrever já sou mais mãe: votei no
vencedor (mas tu ainda nem sequer votas meu
filho) isso onde importa? esta é a vila onde as
ondas murmuram apenas o que o mar quiser

in... 3 - JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES - Gótica

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* Os poemas deste livro não são titulados. Usei parte do 1º verso como titulo por questões logísticas.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Buçaco Penitente - FR. ANTÓNIO DAS CHAGAS


Neste oculto deserto levantado,
Ditosa habitação de santa gente,
O mesmo Monte as asperezas sente,
De tanto espinho duramente ornado.

De folhas veste, para que enlaçado
Com as cadeias de hera penitente,
E entre árvores agrestes abstinente,
Seja sempre dos ventos açoutado.

A profundo silêncio se retira,
E desde a solidão adonde mora,
Elevado chegar ao Céu aspira:

Pois remontado ao bem que humilde adora,
Vozes os ventos são com que suspira,
Olhos as fontes são por donde chora.

in... A poesia das Beiras - ANTOLOGIA - Caixotim

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Apenas um bago - CASIMIRO DE BRITO



Às vezes sou visitado por um enxame
de ruídos, ou apenas
um bago, e tenho medo
medo porque não sei o segredo
não conheço a fenda
por onde se passa para o país
dos ruídos: é preciso
respirar sem ruído
para ouvir por exemplo o diálogo da água
e do vento: o desenrolar
dos seus pensamentos
de prata.
Outras vezes sou visitado
pelo rumor do teu dorso
a meu lado: água
um pouco mais compacta.

in... Animal volátil - CASIMIRO DE BRITO/ ROSA ALICE BRANCO - Edições Afrontamento

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Especial - ANA CASANOVA



És pedaço de mim,
meu sangue, meu ser

Luz dos meus olhos,
razão do meu sorrir

És motivo de amor
e por ti morro
se tu sofres

Serei os teus olhos
e sempre a tua voz

Porque em ti escrevo
e por mim tu lês

És diferente sim
meu filho

de tão especial!

in... Desabafos d'alma - ANA CASANOVA - MoVandArt

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domingo, 22 de agosto de 2010

Mentira de Verdade - MAFALDA FERREIRA

Imagem do livro e poema gentilmente cedidos pela autora

Imploro-te que me iludas,
Representa, sê hipócrita
Sem misericórdia de mim.
Diz-me que sim
Diz-me que são...
Sim, estou aqui contigo
São verdadeiros os sorrisos que vês.
Mistura álcool aos pensamentos
Infesta sentimentos crédulos
De formas banais.
Corre pela cama em que te deitas
Agarra-me quando eu estiver de olhos fechados,
Aperta-me contra o teu peito
Estrafega o meu coração
De utopias.
Maravilhas nos teus olhos desvendei
Sinais de algo mais que em ti vivia,
Em clausura perpétua
Condenado a perder a luz do dia.
Fazes de ti desumano
Em semblante carregado vejo a tua aura,
Acreditas no mundo
Foges de ti.
Mais uma vez representa
Mostra-me que és feliz
A meu lado por instantes.

in... Os meus Sonhos nas tuas Mãos - MAFALDA FERREIRA - Corpos Editora

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sábado, 21 de agosto de 2010

Coloridos e floridos* - GLEIDSTON CÉSAR


Coloridos e floridos
Afagos penetrados
Saudades...

Lembro
Instantes vividos
E abraços apertados.

Na fotografia extinta
O reflexo vivido
Retorno sem tempo
Quisera eu perpetuar no
Tempo, sem devaneio,
Quem diria? Retorno presente,
Eu ausente. Sem tempo.

in...  Os sentimentos por detrás das palavras - GLEIDSTON CÉSAR - Temas Originais

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*Os poemas deste livro não são titulados. Usei o 1º verso como titulo por questões logísticas.

A pedido do autor deixo aqui o seguinte convite:

O autor, Gleidston César, e a Edium editores têm o prazer de o convidar para a sessão de lançamento do livro "Vidas Urbanas" a ter lugar no Hotel Real Palácio (Rua Tomás Ribeiro 115, Lisboa) no dia 4 de Setembro, Sábado, pelas 17.00 horas.
A apresentação da obra e autor estará a cargo de Isabel Fontes.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O país sem mal - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Um etnólogo diz ter encontrado
Entre selvas e rios depois de longa busca
Uma tribo de índios errantes
Exaustos exauridos semimortos
Pois tinham partido desde há longos anos
Percorrendo florestas desertos e campinas
Subindo e descendo montanhas e colinas
Atravessando rios
Em busca do país sem mal -
Como os revolucionários do meu tempo
Nada tinham encontrado

in... Ilhas - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - Caminho

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Para Jimi Hendrix - MARIA ANDRESEN


Às vezes gosto de ouvir o teu rock, Hendrix,
o seu romântico limite, não tanto pela rave
como depois se disse, gosto da raiva ácida
a corroer o Hino
(o hino-rajada, sob o som da guitarra)

eras o exímio, o afincado
da corda o enamorado

eu quero sentir tudo de todas as maneiras
eu quero ser tudo de todas as maneiras

antes de ti outros o disseram
antes de ti outros o fizeram

de todas as maneiras, Jimi, até à partida
na pobreza do imoderado hino

in... Lugares,3 - MARIA ANDRESEN - Relógio D'Água

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Comunidade - NUNES DA ROCHA


Quisera um alguidar sob
O pescoço da galinha
Logo por cima da televisão

Quisera uma taça de vinho
A nódoa roxa na camisa
De domingo
O canivete, clac, na ponta da unha

Quisera uma alcunha
Que a toda a gente pagasse
A amizade cheia até cima
A rasar os lábios estendidos

Um croquete, pastel de bacalhau
A recolha do óleo na discrição
Da manga da camisa às calças
E daí advir uma braguilha mais alta

Porque a Fátima (oh, a Fátima de avental)
Faria cabidela para a finalíssima
Da Taça de Portugal

in... Cancioneiro da Trafaria - NUNES DA ROCHA - &etc

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Unidade - ALBERTO DE LACERDA


Em gradações subtis, cada vez menos
Intensas, os meus sonhos libertassem
Os traços convergentes e amenos
Emergindo de aonde as formas nascem

Uma unidade límpida viesse
Ao meu encontro, após a tempestade!
O nimbo antigo que o mistério tece
Quisera eu habitar sua verdade.

Vértice, inigualável convergência!
Aspiração à unidade austera:
A sumptuosa e pura, pura ausência
De quem espera num sonho, e o sonho espera.

Os sonhos cansam, mais do que a esperança
Busco a unidade, resta-me a mudança.

in... O pajem formidável dos indícios - ALBERTO DE LACERDA - Assírio & Alvim

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Crónicas - INÊS LOURENÇO


Mulheres de canastra à cabeça, que num recôncavo
de esquina, não calcetada, onde uma nesga
de terra desmentia o urbanismo
invasor, mijavam de pé
com rara pontaria dissimulando
entre as grossas saias, as
pernas afastadas. Não usavam cuecas
tal como uma modelo da Vogue,
cujo profundo decote dorsal,
prolongado abaixo da cintura,
as abolia.

Coincidências
da baixa plebe
e da alta-costura.

in... Coisas que nunca - INÊS LOURENÇO - &etc

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domingo, 15 de agosto de 2010

adeus ao passado - VASCO GRAÇA MOURA


adeus ao passado,
ao sonho dos sonhos
que eram tão risonhos
por estar a teu lado,

adeus ao meu bem,
a tanta ternura
que era uma aventura
sempre mais além,

adeus ao que fomos,
a mim e a ti,
adeus ao que somos,
a quanto vivi,

adeus, vou sem norte
neste enredo louco
de um amor tão forte
que durou tão pouco,

adeus, ilusão,
espr'ança perdida,
adeus, foi em vão,
adeus, minha vida

in... Poesia 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - Quetzal

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sábado, 14 de agosto de 2010

Escadas - MARGARIDA FERRA


Se fosse possível subir
pelo corrimão,
e os degraus
não se ouvissem debaixo dos meus pés,
o sol que ontem
entrava na tarde pela clarabóia
chegaria até agora.

Caminho,
o saco que trago marca
o peso das minhas mãos,
uma pausa
e alcanço mais um patamar
com vasos, ainda não o último.
Deixo no átrio do prédio
o vestígio dos maracujás,
um quilo e meio torna
esta vida mais íngreme
e merecida a porta da esquerda.

in... Curso intensivo de jardinagem - MARGARIDA FERRA - &etc

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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Medidas tomadas - PAULO DA COSTA DOMINGOS


A fina película que aparta
da Igreja o Estado, propícia
aos líquidos conteúdos, ao alivio
do tenso músculo, às
ideias feitas, rompeu
e o verbo se fez carne
e a carne, apetecível, encheu-se
de um pó e friccionou-se com
os santos óleos, e...
a Humanidade é aquilo
que hoje bem sabemos.

in... A escrita - PAULO DA COSTA DOMINGOS - &etc

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Eros - DOMINGOS DA MOTA


Embarco, subo ao céu do desvario
num vértice de fogo alucinado:
retesada a paixão, fremente o rio
desagua num mar encapelado:

no meio da volúpia, desafio
a língua, tua boca, o mar salgado,
os seios, a cegueira, o tresvario
dos corpos num só corpo arrebatado:

apetece, acalentas, desatino:
e vamos ofegantes, mar adentro,
nos braços da alegria e da ternura:
no centro da fogueira o sol a pino

enterra-se bem fundo e extasia
a súbita vertigem da loucura

in... Bolsa de valores - DOMINGOS DA MOTA - Temas Originais

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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Quadras - FERNANDO PESSOA


I

A terra é sem vida, e nada
Vive mais que o coração...
E envolve-te a terra fria
E a minha saudade não!

II

Morto, hei-de estar ao teu lado
Sem o sentir nem saber...
Mesmo assim, isso me basta
P'ra ver um bem em morrer.

III

Já duas vezes te disse
Que nunca mais te diria
O que te torno a dizer
E fica para outro dia.

IV

O vaso do manjerico
Caiu da janela abaixo.
Vai buscá-lo, que aqui fico
A ver se sem ti te acho.

V

Baila o trigo quando há vento
Baila porque o vento o toca
Também baila o pensamento
Quando o coração provoca

VI

Quando ao Domingo passeias
Levas um vestido claro.
Não é o que te conheço
Mas é o que mais reparo.

VII

Dei-lhe um beijo ao pé da boca
Por a boca se esquivar.
A ideia talvez foi louca,
O mal foi não acertar.

VIII

A luva que retiraste
Deixou livre a tua mão.
Foi com ela que tocaste
Sem tocar, meu coração.

IX

Nuvem alta, nuvem alta,
Por que é que tão alta vais?
Se tens o amor que me falta,
Desce um pouco, desce mais!

X

Quando vieste da festa
Vinhas cansada e contente.
A minha pergunta é esta:
Foi da festa ou foi da gente?

in... Quadras - FERNANDO PESSOA - Assírio & Alvim

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

O rouxinol de Bernardim - JOSÉ RIBEIRO MARTO


O rouxinol de Bernardim
era teu ou era meu
quando veio de madrugada
tecer seu canto no muro do jardim?
E após breve pousada
levou os séculos voando
quando perto já de ti,
vim abrir para dentro as portadas.
Ouviam-se carros nas estradas
o rouxinol desaparecia, voava.
À procura de uma árvore
destroçada sobre a terra exangue
na paisagem, vidros partidos, papéis,
galhos, jornais, a tinta a sangue.

No jardim da minha casa
há sempre uma rima de Bernardim
que canta aflita de madrugada,
como se houvesse uma levada
e essa fosse, a do teu amor por mim!

in... Pastoreio - JOSÉ RIBEIRO MARTO - Temas Originais

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Olhar - MARIA FÁTIMA SANTOS


Para onde olhas?
Sinto a tua presença.
Não te vejo,
Mas algo me diz
Que o teu olhar
Vibrou no meu coração,
Olhar penetrante
Que o vento leva e traz!
Mas não o encontro.
Onde estão os teus olhos
Em comunhão com os meus?
Difícil olhar...
Só mesmo o teu!

in... No mais íntimo do nosso ser - MARIA FÁTIMA SANTOS - Papiro

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domingo, 8 de agosto de 2010

A noite abre meus olhos - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA


Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes

A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta

o amor é uma noite a que se chega só

in... A noite abre meus olhos - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - Assírio & Alvim

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sábado, 7 de agosto de 2010

O meu voo - LUIS FERREIRA


Somente sinto o espaço,
Nesta dimensão que me cerca
Rasgo o céu...
Encontro a liberdade
Na plenitude serena que me invade.
Nas asas do vento,
Atravesso o infinito...
Apaixonadamente plano
Entre sonhos,
Realidades que persigo
Procurando a felicidade.
Nuvens de algodão,
Que penteio com os meus dedos
Limiares divãs onde me deito
Sentindo licores em pétalas
Néctares perfumados
Da paz que me cerca.
Acendo as estrelas
Com o brilho do olhar
Cintilantes viagens
Esfera da imaginação,
Magia que embebeda o meu ser.
Como um pássaro
Além do horizonte...
Voo sem limites
Livre... E feliz!

in... Momentos - LUIS FERREIRA - Temas Originais

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

não me peças perdão - VASCO GRAÇA MOURA


não me peças perdão. a culpa é minha:
foi este tempo todo descuidado,
foi não achar que o fim um dia vinha
foi ficar sem defesas a teu lado

foi nunca te lembrar em sobressalto
foi não deixar falar a tua boca
foi não pensar em ventos no mar alto
foi tanta coisa, tanta, hoje tão pouca

foi deixar-me viver em falsa paz
foi afagar-te as mãos sem as prender
ou foi prendê-las mal e tanto faz
julgar que se morria de prazer

agora é tarde, sim, tarde de mais,
tropeço às cegas nesta dura lei,
não sei se vale a pena dar sinais
e o que te hei-de dizer também não sei.

in... Poesia 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - Quetzal

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pinceladas da natureza - ANTÓNIO MR MARTINS


Quando cantam as aves
Melodias da liberdade
Logo ecoam nos campos
Vestígios de felicidade
Se encantam em seu redor
As árvores que as recebem
Num abraço de empatia
E na sua sombra as acolhem
Nesta troca que é pureza
Sem a procura de proveitos
São as riquezas da natureza
Com seus singelos defeitos

in... Foz sentida - ANTÓNIO MR MARTINS - Temas Originais

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Terras da Beira - José Monteiro


Terras da minha Beira, onde perpassa
a heróica luz duma energia antiga
e o sentimento, o amor e a eterna graça,
- eu vos saúdo, ó terra minha amiga!

Olhai a serra! a preia-mar das cores
como se alastra pelo mês de Abril,
quando à floresta chegam os cantores,
e o sol inflama os altos céus de anil.

Gigantes assombrosos, medievais,
à terra dando a sombra que seduz,
dando ao azul seua braços mais e mais...

Cerros, planaltos, onde o ar e a luz
têm o vigor das eras patriarcais,
- ó terra santa, abraço a tua cruz!

in... A poesia das Beiras - ANTOLOGIA - Caixotim

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Nirvana - ANTERO DE QUENTAL


Para além do Universo luminoso,
Cheio de formas, de rumor, de lida,
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso.

A onda desse mar tumultuoso
Vem ali expiar, esmaecida...
Numa imobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso...

E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturais,

À bela luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tedio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais.

in... Sonetos - ANTERO DE QUENTAL - Ulmeiro

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Os abutres - ALEXANDER SEARCH*


Oh, abutres desta terra sem vida
Onde a ventania sopra desabrida,
Que ossos são esses, sob o vosso voo?
- O rei Hermagoras, que aqui habitou.

P'ra outra corte a rainha partiu,
Um novo rei no trono surgiu,
No Oriente estão os teus haveres,
Os cortesãos folgam em prazeres.

Sua carne podre foi para comer,
Sua pele suave foi fácil romper;
Pois o manto negro e o que trazia
Pegaram os servos quando aqui jazia.

O seu esqueleto o sol branqueou
E os vermes comeram o que nele ficou,
E os que ele amou, que acaso aqui passem,
Desdenham dos ossos que sob o céu jazem.

in... Poesia - ALEXANDER SEARCH - Assírio & Alvim

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* Alexander Search é um dos heterónimos de Fernando Pessoa

domingo, 1 de agosto de 2010

O poeta anda pelas ruas solitário - ANTÓNIO CARLOS CORTEZ


o poeta anda pelas ruas solitário
é um pássaro ferido que canta e imagina
e o seu canto é o labor incendiário
sua incerteza de espuma que termina
o poeta é a linha de sombra e não sabe
que oculta em si a última fúria inimiga
é a perpétua imagem de que tudo arde
pode ser a lira ou o lastro a palavra antiga
o poeta esse brutal assassino da nossa vida
com os dedos alongados e infinita cabeleira
com seu corpo diluído nos cristais
o poeta ninguém o pode conduzir na despedida
ou esperar sua palavra verdadeira
aquele amador que não volta mais

in... A sombra no Limite - ANTÓNIO CARLOS CORTEZ - Gótica

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