sábado, 31 de dezembro de 2022

Viagem no tempo - RUNA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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naqueles dias em que a nostalgia
se infiltra por dentro do peito
e um nó gigante vem cercar o coração
levanto-me e vou buscar à estante
um antigo álbum de fotografias
escolho uma de quando era criança
e fico a admirá-la algum tempo
até que lentamente o nó se dissolva

quando isso não resulta
escolho um álbum ainda mais antigo
e dele retiro uma foto de minha mãe
a sorrir para mim de braços estendidos
que coloco ao lado da minha de criança
para que me sinta mais protegido
e fico a admirar as fotos lado a lado
até que alguma luz se acenda no peito
dissolvendo todos os nós da solidão

quando também isso não resulta
volto ao álbum muito antigo
e procuro uma foto do meu pai
com o seu ar imponente e protetor
que coloco ao lado da minha de criança
e a da minha mãe de braços estendidos
ainda a sorrir para mim
à espera que essa súbita reunião
imponha um fim à dor que sinto

quando nem mesmo isso resulta
procuro numa velha caixa de cartão
guardada num recanto do sótão
uma foto da casa onde nasci
coloco-a encostada à parede
e à minha frente muito bem alinhadas
a foto do meu pai imponente e protetor
a foto da minha mãe a sorrir para mim
de braços abertos e estendidos
e a minha própria foto de criança
e fico a admirar esse estranho quadro
durante horas e horas sem fim
à espera que as sombras se afastem
ou o tempo crescendo muito lentamente
nos volte a apartar de novo

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Xeque-mate! - NICOLETA PECELI

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Conta até três e imagina um jogo de xadrez.
Pensa duas vezes: uma vez por ti e uma por mim.
Atenção! O jogo começa em ti,
Mas sou eu que controlo os passos do destino.
Não sejas tolo! O coração não tem força aqui,
mas a intimidade sim.
De forma arrebatadora e sublime,
Tempero-lhe o apetite autorizando-o a explorar-me.
Os dedos acariciam sedutoramente o peão,
Em movimentos suaves, desnudando-o,
Enquanto os lábios, entreabertos,
induzem um gemido sublime.
Inesperadamente, o ar torna-se cada vez mais quente.
A ansiedade invade-me o corpo carente num ritmo
alucinante.
Atrevidos, os dedos abrem-me as pernas,
Acariciando-me, habilmente, a intimidade.
A seguir vêm os lábios provar.
O corpo roga para parar e pede piedade.
– Amor fecha os olhos e conta até três.
No final descobrirás a estratégia da sensualidade.
Xeque-mate…!

EM - (E)TERNA SENSUALIDADE - NICOLETA PECELI - IN-FINITA

Navegante - ROSALINA VAQUEIRO

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Sonho que sou navegante
Por mares a descobrir
Um eterno viajante
Por India e Alcácer Quibir

Sou um descobridor
De novos mundos e gentes
E quero ser povoador
De terras e continentes

Em feitos e guerras empenhado
Com a força do meu destino
Cabo das Tormentas dobrado
Do mundo sou um paladino

Descubro gente escura
De pele pouco tapada
Em terra de muito calor
Gente que não sabe nada
Da cultura do povoador

Olho o indígena com a superioridade
De quem comanda muita caravela
Eu, que venho da cidade
Quero ensinar tudo a este povo ateu
Língua, Deus, idade
Acordo e, na realidade, o ignorante sou eu!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Os Meus Caminhos - LUÍSA GALVÃO

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Eu traço os meus caminhos
Por onde gosto de andar
Se não existem eu faço
Com meus pincéis de pintar.
Vejo onde ponho os pés
Faço um carreirinho.
Se tem pedras eu tiro
Gosto que tenha verdinho
Tenho a luz que me acompanha
P'ra ver os passos que dou
Essa eu não pintei.
Entre os ramos chegou.
Pintei casinha modesta
Aquela que em sonhos vejo
Tem a paz e o sossego
Que noutros lugares não vejo.
Com tintas pintei resguardo
Com buracos para arejar,
Quando eu estou cansada
É lá que vou descansar

EM - MEMÓRIAS DE UM ROUXINOL - LUÍSA GALVÃO - VENTOS SÁBIOS/RUTH COLLAÇO/IN-FINITA

Além dos meus horizontes - RITA QUEIROZ

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Um mar que me cerca
Uma floresta que me banha
Sou Silva da Costa
Sou beira de rio,
Ribeirando meus horizontes
Em vastos ninhos de Brasis.
Leio meus futuros,
Quiromanciando passados
De além-mar, de África e Europa,
Dos ventres que me pariram
Na terra de Santa Cruz,
Onde o vermelho tinge o chão,
Sertões agrestes de fome e sede,
De justiças que limpem as máculas
Dos séculos e séculos, amém!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

O segredo das palavras - LUÍS FARINHA

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Como numa melodia
Em teus lábios
Encontrei minha sabedoria
No tocar dos teus dedos sábios

Eu lia e tornava a ler
O amor que procurava
E o sentimento de crescer
Só assim te amava

Nas folhas caídas de outono
No calor de verão
Nesse olhar que me tira o sono
E no palpitar do teu coração

Ó precipício, maravilhoso
Enquanto em ti me gravas
No teu amor harmonioso
Está o segredo das palavras.

EM - O UNIVERSO ENCHE-SE DE POESIA - LUÍS FARINHA - IN-FINITA

Respirar! - RAQUEL CONTI

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Levantar e suas tarefas diárias,
Fazer como "piloto automático"
Cozinhar, lavar, são coisas primárias
E celular, às vezes é dramático
Mas seguimos nossa meta,
Olhando no relógio e voou a hora!
Mesa posta ou não, não foi bem direta
Alvoroço de família, logo vão embora.
Voltemos ao levantar...
Nem todos levantam sempre
Também, aquela senhora
Mal te pode olhar,
Crianças de pulsos quentes...
Alguns já foram pra fora.
Quem lembrou de agradecer?
Pedimos pra já, agora!
Será que fazemos por merecer
Tantas maravilhas vividas,
Queremos desde o nascer
E sonhar, vidas sofridas
Não importa os custos.
Sabemos que podemos vencer!
Tomamos alguns sustos...
Alcançar estrelas, subir aos céus
Isso nos faz evoluir, subir e ser
As imagens, sem véus
Mas lembrar, sim lembrar de orar e bendizer
Todo bem que pra nós não tem fim!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Paciente - RUTH COLLAÇO

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Quando o teu olhar perdido
fita a linha do horizonte
alcança um paraíso
onde eu paciente te espero.

EM - PÉ DE CARVÃO E POEMAS NA PALMA DA MÃO - RUTH COLLAÇO - VENTOS SÁBIOS/RUTH COLLAÇO/IN-FINITA

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Vou fazer um desenho! - CARLA SANTOS

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Vou fazer um desenho!
Mas que vou eu desenhar?

Uma flor deste tamanho
Ou um pássaro a chilrear?

Hum... ainda não sei bem!
Rabisco as barbas do pai...
Ou os cabelos da mãe?

Vou pintar a minha tia
Que é mesmo trolaró...

A minha boca assobia
E logo vem a minha avó.

Vou fazer um desenho!
Já sei o que vou pintar...

A família por inteiro
Para ninguém se chatear.

EM - TROLARÓ - CARLA SANTOS - IN-FINITA

Rio de Janeiro - PRISCILA FARIAS

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Rio nossa cidade
Repleta de luz e mocidade
Brilhas sorrindo com a graça e a esperança num Brasil
que te possui e conduz.
Rio nossa cidade
Possuis um povo rico, generoso, acolhedor e trabalhador
Uma força sem igual.
Humanidade é o valor presente em seus moradores
que através da solidariedade lutam destemidamente
com o labor em seus corações.
Professores, artistas, motoristas, garis, médicos, vendedores, 
todos vivem intensamente não esquecendo nunca
que Cristo é o salvador.
O povo abre assim seus corações, as janelas e as portas 
para o mundo.
A cidade mostra seus encantos, suas belezas, paisagens 
e sentimentos brilhantes para todos os irmãos das mais 
variadas terras distantes que aqui chegam.
Somos todos iguais, pessoas viajantes de veredas distintas
e as vezes esquecidas.
Sob dias radiantes de sol, manhãs corridas e dias gloriosos 
vivendo com crianças as quais nos ensinam como 
poderemos melhorar o planeta.
Nossas florestas, praias e favelas retratam 
cenários constantes de uma grande novela.
Segredos, enredos, motivos e afins são temas
que os moradores guardam enfim.
Em sua História trazes lutas, alegrias e conquistas.
Músicas memoráveis são agraciadas pelos artistas.
Cantores, atores, bailarinos e pintores atuam
harmoniosamente como um mosaico universal.
Lindas orquestras onde os músicos interpretam 
versatilmente os sons cariocas e de toda a constelação 
brasileira universal.
Somos cariocas. Somos brasileiros que buscam 
ardorosamente o empenho por uma cidade mais rica 
como as águas límpidas do rio que correm de janeiro
a janeiro no peito desse mundo.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Fronteiras - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD

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Amor que atravessas fronteiras pois tens visto universal.
Amor que estás longe, tão longe, mas que sinto bem presente
como no primeiro dia em que te vi chegar.
Amor que a tudo subsiste e nada corrói. Ouve-me,
«tens um abraço e muitos beijos deste lado à tua espera».
Amor não desistas. O meu amor por ti não tem limites.
Haja o que houver estarei sempre aí no teu pensamento, e tu
aqui no meu coração, pois serei sempre tua mãe e tu meu filho.

EM - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Odisseia das letras - PIETRO COSTA

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Na era dos devaneios farsantes,
Plangentes noites, tom escarlate,
E das ondas egóicas insinuantes,
Clama-se por um bote de resgate.

Salvai-nos dos pixels em demasia,
De emoticons, trendings iterativas,
Nesta dimensão rasa da existência,
Não há imersão, apenas virulência!

Provei-nos da coragem de Ulysses,
Para defrontar os mares irascíveis.
Incólumes aos enganos das sereias,
Vivamos a vertigem real das letras!!

Clássicos não são barcos esquecidos,
Mas âncoras, portos, itinerários vivos,
Mapas para transpor temíveis abismos!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Lua cheia - CELSO CORDEIRO

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É noite de Lua Cheia…
a primeira depois da última Lua Cheia
e no entanto ela é tão diferente
apesar de igual para tanta gente.

Na beleza desta Lua Cheia
o meu pensamento vagueia
enquanto a olho da minha janela
e vou procurando uma Estrela…

EM - CADERNOS DE ENSAIOS EM VERSO - CELSO CORDEIRO - IN-FINITA

Rio - CONCEIÇÃO FERREIRA

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Não sei se choro quando rio
Ou se rio quando choro…
Sei que em mim corre um rio
E é nesse rio que moro!

EM - OLHAR A ESCRITA - CONCEIÇÃO FERREIRA - IN-FINITA

domingo, 25 de dezembro de 2022

Eu era a sua sede - NICOLETA PECELI

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Após uma demorada introdução, os beijos exigem o prazer
intermitente.
Difícil resistir quando os lábios atrevidos frequentaram
lugares tão quentes.
– Não tenha pressa – sussurrou, enquanto o olhar duro
instigava-me a continuar.
E eu, eu continuei...
Em movimentos deliciosamente dolorosos a língua
dominava-lhe a vontade.
Um gemido inspirado denunciava o passo a seguir,
E numa inocência pecaminosa, a saliva ativava a sede.
– Relaxa – desafiei-o calmamente,
enquanto me deliciava com o seu delírio.
Em legítima defesa as pontas dos dedos libertavam
as emoções
O ataque era suave, e eu continuei...
Os lábios dele estremeceram,
esforçando-se a acompanhar-me.
Confuso, recebeu-me, bebendo-me o erótico devaneio.
Na verdade, eu era a sua sede!

EM - (E)TERNA SENSUALIDADE - NICOLETA PECELI - IN-FINITA

Aguardando pelas palavras - PEDRO CALDEIRA SANTOS

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Aguarda pelas palavras
ditas, com o intuito de lhe escorregarem no corpo
esperando que cada silaba esboroe na blusa que lhe pesa sobre a pele

Expetante
interpreta o sentido das frases
esperando que façam sentido

Provoca o salivar na boca, imagina a língua
que ainda desconhece, mas cujo sabor já adivinha

Espera pela boca
que anseia provar no seu leito
Imaginando-a, deliciosa, explorando os seus seios
Apanágio do despudor

Os deuses
famintos da deusa
Escondem-se entre as coxas
E preparam-se para a purificação

Aguardam o banho em águas turbulentas
que fervem e borbulham escondidas

Cresce o desejo nesta deliciosa espera
Em segredo, inquietasse
Anseia em si que lhe preencham o ventre
Roçando a alma
Fazendo-a sentir-se mulher

Toco-a com todas as letras das palavras que junto
E reúno nas frases que construo e nela deposito

Sente-se demoníaca,
Possuída por todas as palavras que imagina e deseja.

Na calada de uma tarde sentida à flor da pele
Deixo-a arrepiada
Com um gesto de terno calor
E se nesse silêncio
as suas palavras não se soltam

Porque não libertá-las da boca …

 EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

sábado, 24 de dezembro de 2022

Mensagem - LUÍSA GALVÃO

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Mandei por estes dois pombos
Que no ar estão voando
Uma mensagem de amor
Que o mundo está precisando.
Correm nos rios as águas
Lavam quem não tem guarida
Levam mensagens de amor
A água é fonte da vida.
Regam os rios os campos
Os frutos e as flores
Dão comida a quem não tem
E as flores a seus amores
A mensagem destes pombos
É pedido que se faz
Espalhar p'lo mundo inteiro
Comida, amor e paz
Corre rio, corre, corre
Mas corre bem de mansinho
Os pombos estão cansados
Agora dormem no ninho.

EM - MEMÓRIAS DE UM ROUXINOL - LUÍSA GALVÃO - VENTOS SÁBIOS/RUTH COLLAÇO/IN-FINITA

Consonância - PAULO DE TARSO BRANDÃO

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A caverna abolçou inesperadamente
A turba ignara que mantinha acorrentada
Nas trevas da ignorância e da barbárie
Atingiu impiedosamente com seu golfo
O rosto límpido da civilidade
Ao gesto vil não houve retorsão
Com resiliência não se fez a guerra
- Feito tomado como frouxidão -
A humanidade cumpre a fatalidade
De não retrogradar ou ser contraditória
O pagamento com a mesma moeda
A sorveria para o interior do antro
Emparelhando-a com a estupidez
Ferida com o dardo do falso triunfo
Sucumbiria com sua própria história

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Outro universo - LUÍS FARINHA

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Volátil é minha voz, quando estamos sós
Por palavras que nunca te direi
Laços, laços e nós, amarram minha voz
Como num sonho que nunca te direi

Sublime é meu pensamento, para uma abalada
Em abnegação, atinjo meu destino
Sim, pelo tudo e pelo nada
Como quem de coração escuta seu hino

Páginas e páginas brancas, por preencher
Por palavras que se aventuram
Somente, não as consigo esquecer
Palavras que em minha mente perduram

Ao acaso, senti intuição
Por linhas que nunca teria pensado
Como amor e paixão
Por um destino traçado

EM - O UNIVERSO ENCHE-SE DE POESIA - LUÍS FARINHA - IN-FINITA

Jardim Secreto - MARIANA FREITAS

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De todas as minhas ruas sem saída, encruzilhadas
e acostamentos, você foi a mais imprevisível.

Todos os meus atalhos e curvas, mesmo na contramão,
me levavam ao refúgio do jardim secreto.

Aquele jardim de trevos de quatro folhas, de cheiro,
pele e canções de amor. Da serendipidade.

O impulso certeiro pra funcionar minha engrenagem.
Um remédio anti instabilidade. Uma dose de autoconfiança 
e um olhar clínico no fundo da alma. Fugaz e intenso.

Seguindo a ciranda natural dos ciclos, nossas estradas 
deixaram de se cruzar. Meus desvios já não vão mais
em direção aos seus. Os trevos dão lugar a outras flores,
mas quem de nós poderá duvidar da sorte?

O que é lembrado vive.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Nas tuas mãos - RUTH COLLAÇO

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Está tudo nas tuas mãos
A tua vontade, o teu destino.
O desejo e sonho que escolhes
Está nas tuas mãos se me queres ou não
Estou eu muito mais nas tuas
que tu nas minhas...
... noites, redes e teias.
Estou nas tuas mãos.
E quero-me aí
Nessas mãos que me acolhem
Socorrem quando ameaço cair
Quando temo pedir, quem sabe partir
Nas tuas mãos, perdida caí
Sem asas para voar, sem forças para andar!
Não me emprestes as tuas asas
O meu voo não é livre
Guarda-me apenas nas tuas mãos
Sempre que em ti cair.

EM - PÉ DE CARVÃO E POEMAS NA PALMA DA MÃO - RUTH COLLAÇO - VENTOS SÁBIOS/RUTH COLLAÇO/IN-FINITA

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Rola a bola - CARLA SANTOS

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Rola a bola
E continua a rebolar
A bola quando mais rola
Mais rebola sem parar.

Salta a bola
E continua a saltitar
Saltita a saltitona
Até parar no portão...
E quem a vai buscar...
A cadela ou o cão?

Correm os dois a valer
Quem a vai apanhar...
A cadela que a correr
Se esquece de ladrar
Ou o cão que sem querer
Escorregou sem parar?

Rola a bola
E continua a rebolar.

EM - TROLARÓ - CARLA SANTOS - IN-FINITA

A coisa - MARIA JOÃO NEVES

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Sozinha, sozinha assumo sozinha,
que
não é necessário preencher o espaço com palavras,
que
são sentimentos persecutórios de solidão crónica.
E?
Que parte se posiciona perante o mal?
E?
Que parte reconstrói a vida?
Ser-se integradora da diversidade humana:
Eis a possibilidade do afeto.
Trabalhar em comunidade. Eis a possibilidade do afeto.
Explosão.
Sim, diálogos interiores, ensurdecedor és, és,
Sim, és,
" uma deslocada e estes aqui não gostam de ti".
Irmãos, primas, pais e tio: entre esses alguém foi bombista fascista e ainda disse:
E sim,
Ainda disse: "A pessoa de quem mais gosto é de mim".
Aqui está o início da justificação das perdas.
Como fugir para relações de proteção paternalista
sem nunca procurar uma verdadeira autonomia?
E, sim e,
Por dentro fica o objeto negligenciado.
E por fora?
Sim, por fora a aparência.
Na realidade o sentimento de abandono emocional
é maior que qualquer tarefa a executar.
E sim,
Foi uma perda no caminho afinal alguém era e
Sim, uma doença nas relações de intimidade
e, sim
Sim, no limite o sério risco de,
Sim de,
Sim de,
de, de, de,
de em momentos incapacitantes não ter qualquer apoio afetivo.
E, sim e
a questão para além do mal é qual a posição perante o mal.
E sim, no posicionamento perante a coisa maldita, talvez,
Sim talvez a procura afectuosa da alternativa e,
e sim,
Fim de assunto,
Por agora,
Sim por agora.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

O Quarto - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD

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Sabes que estou aqui. por ti e por mim.
Estou aqui pelos anjos e as suas trombetas que apelam
ao silêncio convertido em oração.
Sim, estou aqui por todos aqueles que não têm voz,
pois a perderam em vão.
Somos juntos um pequeno número, mas cada qual sabe que está
alguém lá fora por nós, e assim fazemos uma multidão ao cair
do sol de serenata ao anoitecer...
Estou aqui pois nessa multidão me encontro e tu estás aqui
por mim e eu por ti.

EM - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD - ANTOLOGIA - IN-FINITA

O tempo é o causador - MARIA JOÃO ABREU

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Jogando às escondidas,
deixando feridas abertas,
feridas atormentadas,
pelo tempo e ausência.

Fugindo de memórias e palavras,
afastando olhares em encontros casuais,
infringindo nosso próprio pacto,
de te deixar cair em esquecimento.

Tentando ir além das memórias,
sobreviver aos nossos próprios juízos,
vagando por passagens já vividas,
renuncio, abdico e desprezo.

Estando ainda mais do que perdida,
com as palavras prestes a explodir por não dizê-las,
olho para ti à distância,
e sigo-te, mas no final...
deixo-te passar sem te olhar!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

O teu voar - CELSO CORDEIRO

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Um sorriso de sedução,
o desassossego do olhar,
um jogo de provocação
feito de cumplicidade,
e no desafio à emoção
ousar o tudo e o nada
da adiada transgressão,
e na palavra amordaçada
o sonho de uma paixão
que cresceu desenfreada.

Tão bela és tu borboleta
que no teu voo corres o céu,
pairas como uma estrela
e cruzas o caminho da Lua.

EM - CADERNOS DE ENSAIOS EM VERSO - CELSO CORDEIRO - IN-FINITA

Moldura - CONCEIÇÃO FERREIRA

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Pudesse eu não ter dúvidas, incertezas,
Soltar toda a alegria das represas
Deitar-me num leito a céu aberto
Alucinar o olhar na solidão dos campos
E permutar o tempo dúbio pelo certo.

Pudesse entrelaçar silêncio pelos dedos
E nele baloiçar livre de medos,
Pintar e dourar o meu firmamento
De azul luminoso e de sol-posto
E nele emoldurar a vida, o rosto.

Pudesse eu decalcar esses encantos
E nunca… nunca… em nenhum momento
Volveriam a mim teimosos prantos!

EM - OLHAR A ESCRITA - CONCEIÇÃO FERREIRA - IN-FINITA

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Capela - MARIA ELIZABETE NASCIMENTO OLIVEIRA

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Nessa capa que é porta,
solidão acompanhada,
tão profunda...
que no fundo é quase nada.
Abro a porta.
Que enrosco!
Me encosto nas paredes
dessa casa de palavras, tão estreitas,
que no fundo é quase nada.

Eu percorro os corredores e
dirijo-me à janela entreaberta.
Na varanda uma rede.
Me espreguiço,
me enguiço,
quase nado nessas águas tão profundas
do meu ser, que é quase nada.

Que estranho!
Vejo-me vindo ao meu encontro...
Me levanto do balanço
e encosto-me na parede, assustada!
Ouço a guerra ancestral.
os navios se atracando,
os rumores de tambores,
multidão que vem chegando.

Não! Não é festa.
É a tinta dessa casa escorrendo na parede
desse ser que: é quase nada.
Aquarela!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Com muito fogo na pele - NICOLETA PECELI

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O encanto começa cada vez mais perspicaz.
O instinto não quer perdoar.
Sinto o sopro do prazer, mas falta-me a coragem
para começar.
Os olhos tinham um longo diálogo,
penetrando-me numa carência frenética.
Instintivamente, a adrenalina atribuía-me a honra de tocar.
Suspiro, submetendo-me aos seus desejos,
mas adorando liderar.
O corpo enfeitiçado preza-se no poder das minhas mãos,
E num movimento natural o abraço vem devagar.
– A tua língua será castigada - comentei,
Enquanto as pernas se abrem, imperiosamente.
De joelhos, acabou por ficar implorando pelo meu amor,
ao mesmo tempo que os lábios brilhantes se vestiam com
o meu sabor.
Sou um coração delicado, mas com muito fogo na pele.
Se me queres ao teu lado, submete-te ao meu prazer.

EM - (E)TERNA SENSUALIDADE - NICOLETA PECELI - IN-FINITA

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Não, não, não… - MARIA CABANA

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Não, não, não sou assim
Sou apenas eu, sou apenas eu
Sou apenas o meu eu assim!

Não, não, não sou o diabo!
Sou apenas tempo, sou apenas tempo
Sou apenas filha de um tempo escravo!

Não, não, não sou o sujeito
Sou apenas gente, sou apenas gente
Sou apenas gente de lágrima ao peito!

Não, não, não sou uma vírgula!
Sou apenas um ponto, sou apenas um ponto
Sou apenas um ponto e vírgula!

Não, não, não libertina!
Sou apenas amor, sou apenas amor
Sou apenas amor e um sorriso de menina!

Não, não, não predicado
Sou apenas verbo, sou apenas verbo
Sou apenas verbo no futuro, presente e passado!

Não, não, não sou egoísta
Sou apenas partilha, sou apenas partilha
Sou apenas partilha do meu ponto de vista!

Não, não, não sou o caminho
Sou apenas decisão, sou apenas decisão
Sou apenas decisão de escolher meu próprio destino!

Não, não, não sou mulher perfeita
Sou apenas mulher, sou apenas mulher
Sou apenas mulher de uma outra colheita!

Não, não, não sou assim
Sou apenas eu, sou apenas eu
Sou apenas o meu eu
Tal e qual assim!
         Fim

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Guitarra toca baixinho - LUÍSA GALVÃO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Guitarra toca baixinho
Não acordes minhas mágoas
Vim ver o rio correr
Para esquecer minhas lágrimas.
Me acompanho á guitarra
Faço acordes sol e dó
Dedilhando suas cordas
Passa o tempo, não estou só
Ouço o barulho do rio
Da guitarra o seu trinar
Lembro-me de coisas tristes
Mando as lembranças brincar.
Uma lágrima teimava
Em rolar na minha face
Ergui os olhos ao céu
Se pequei, peço perdão
Meu Deus, fazei que isto passe.

EM - MEMÓRIAS DE UM ROUXINOL - LUÍSA GALVÃO - VENTOS SÁBIOS/RUTH COLLAÇO/IN-FINITA

domingo, 18 de dezembro de 2022

Inerte - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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Estagnei naquela rua onde um dia passavas
A paragem de autocarro desapareceu
Talvez tenhas partido com ela
Para onde, não sei, nem importa
Fechei o meu mundo quando me fechaste a porta
Perdida e sem teto cansei de viver
O destino traiçoeiro ria-se de mim
- Quando acabas? Quando tens o teu fim?
Sonâmbula de sofrimento, gelada
Da noite dormida ao relento
Pousei meu coração no chão
Elevei a voz numa canção de amor
E encantada comigo, dancei contigo
Enamorada da lua, fui tua
E o autocarro passou
Noutra rua, noutro lugar
O sonho acordou na paragem
E eu, estagnei no momento
Deixei voar o pensamento
E encontrei-te na passagem de mais outro dia.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VII - COLECTÂNEA - IN-FINITA