sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A viagem - CELSO CORDEIRO

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De novo uma viagem
te remetia a miragem
e iria repor a distância
que por regra nos separa.

Nesse cais de embarque
no momento de partida
senti-me porta de saída
que deixaste para trás.

Passadas breves semanas
a mesma gare desabrigada
onde esperei a tua chegada
era já cais de desembarque.

Afinal o tempo o diria,
de forma bem crua e fria
- o que saía da carruagem
era holograma e miragem.

EM - VERSOS COM REVERSOS - CELSO CORDEIRO - IN-FINITA

Oferenda de amor - MARCOS CORDEIRO

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Tens o brilho pernambucano
Do sol do nordeste
No teu olhar cigano

Tens o Cheiro pernambucano
Dos dourados araçás
Do verão tropicano

Tens o timbre pernambucano
Do sabiá laranjeira
Na voz de flauta e soprano

Tens a alegria pernambucana
Dos volteios do frevo
Nos coqueirais em ciranda

Tens a beleza pernambucana
Das colinas de Olinda
De carnação quase humana

Tens a cor pernambucana
Nas faces acucenadas
De princesa moura e cigana

Tens a graça pernambucana
De esguia garça branca
Redondilhando nas canas

Tens a alma pernambucana
Do mel de engenho nos lábios
Do fino açúcar da cana

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Olhares - JOÃO SEVIVAS

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Quando os olhares se cruzam
Verte-se um copo de vinho sobre as abstémias almas
Uma reprodução de fotões acelera os sentidos
Ondas eletromagnéticas obedecem a outras luas
Agitam-se as partículas
Cria-se o universo
Em cima se afasta o que em baixo nos une
Cada periferia é o centro a saltar à corda num verso.

EM - POESIA 2020 - JOÃO SEVIVAS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Sol na rua do sobe e desce - RONALDO WERNECK

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para António Jaime Soares

à sinistra, o sol, o que assombra:
sobre as árvores, o céu tomba
solitário, à espreita:

à destra, o dia anoitece
entre as frestas da tarde estreita:
no coração, a sombra cresce:

na rua, o sol sobra e desce.

EM - MOMENTO VIVO - RONALDO WERNECK - ETM

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Densidade - BEATRIZ H. RAMOS AMARAL

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casulos
perdidos na lama
enternecendo os sentidos
primários
jorrando lucidez
como renda
na possível densidade
narrativa do poema

como qualquer gerúndio
a transitar num pântano
de veleiros insólitos
passos entre máscaras
e subjetividades brandas
já nem
disfarçam a dança

EM - O AVESSO DO ARQUIPÉLAGO - BEATRIZ H. RAMOS AMARAL - IN-FINITA

Rabiscos poéticos - LUIZA MOURA DE SOUZA AZEVEDO

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Me risca
Com riscos
Ariscos
Arriscas
Que em risco
Me arrisco
Riscar-te
De amor.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

As cordas gemiam - MARIA GOMES CABANA

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A guitarra emitia um som,
De dormência na voz.
Os dedos articulavam apenas o tom,
O momento era melancólico e a sós.

As cordas gemiam ao serem dedilhadas,
Por frágeis dedos, doces, inquietos.
No espaço mente de encruzilhadas,
Buscando no seu silêncio, afetos.

Sombras vegetavam aguardando,
O momento ideal para intervir,
Na melancólica música que ecoando,
Não se queria fazer ouvir.

O presente, passado se fazia,
No exíguo espaço de solidão.
Onde a triste guitarra gemia.
Dedilhada apenas pelo coração.

EM - PÊNDULO DE VIDA - MARIA GOMES CABANA - IN-FINITA

O sol viu-se hoje - RICARDO D MAR

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O Sol viu-te hoje, disse-me que lhe roubaste alguns dos seus
raios e só o deixaste ficar com quatro. Não consegui esconder a
minha cara de felicidade, tu... com o poder do Sol,
quente e ainda mais iluminada.
Nessa noite vieste nua, sem frio, espelhaste-te em mim
e aqueceste o mundo... o deles e o meu, este que é tão teu...
meu amor.
Soubesse o Sol que uma Lua com os raios “roubados” prolonga
os dias e transforma as noites em magia, aquece os mais
desalentados e faz-nos tão amados.
Lua das noites iluminadas, das luzes do Sol roubadas...
Lua que iluminas o meu fundo... sei eu, o teu Planeta e tu...
meu mundo...

EM - PARA LÁ DA PELE - RICARDO D MAR - IN-FINITA

Abraça-me - JORGE FERREIRA

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Quero o teu abraço
Bem apertado
Com o teu afeto
Aquele que me afaga o coração
Sentimento, uno
Fecho os olhos e sinto-te
Não sei sentir de outra forma
Ai! Como quero o teu abraço.
Olha-me, sente-me. Respira-me!
E abraça-me

EM - LÁGRIMAS EM PALAVRAS - JORGE FERREIRA - IN-FINITA

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Primavera - CARLA DE SÀ MORAIS

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Apresenta-se cheia de flores
Rodeada de todas as cores
Emanando perfumes e sabores
Que se evaporam num céu de amores

Tez fresca e vigorosa
Renasce constante e formosa
A todos seduz esplendorosa
Mostrando a sua força poderosa

Um deleite para os olhos
Pavoneia-se entre folhos
Evitando os abrolhos
Para não acabar em restolhos

Belo tempo ela tivera
Para dar o que pudera
Dos Equinócios à Esfera
Ela chama-se Primavera

EM - DE GAVETA EM GAVETA - CARLA DE SÀ MORAIS - IN-FINITA

Neologismo em entrelinhas - LUIZA MOURA DE SOUZA AZEVEDO

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Tal qual Lacan propõe o “sinthoma”
Eu proponho o “senthir”
E não se busque sentido
Ao que não se pode definir
Aqui só convido ao mergulho
Os que se arriscam imergir
Pois a vida tem desses segredos
Que nem precisam emergir
Apenas se entregue sem medo
Permita se redescobrir.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Além de nós - ALVES DOS SANTOS

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Nunca te amei por calculismo
Ou de forma calculada

Nunca fui capaz de jogar pelo seguro
E ir com calma

Este amor não se anunciou timidamente
Este amor arrombou portas que julgava cerradas
E entrou violentamente
Levando toda a razão contigo

Foi um amor que não consentiu espaço
Que não se escondeu nem arranjou desculpas
Que foi delírio e paixão
Que foi tempestade e bonança
Que foi desejo e rendição
Que foi grito e sussurro
Que foi corpo e alma
Que nos consumiu por inteiro
E que se extinguiu a si próprio

E agora entre nós não existe nada mais
Além de nós

EM - O LIVRO DE TODOS OS PECADOS - ALVES DOS SANTOS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Arco-íris - JORGE GASPAR

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Todas as cores se deslumbram no fenómeno
Em círculo enfeitam a natureza
Tatuando de Paz a paixão da quietude.

Na plenitude da harmonia e perfeição
Uma paleta no céu
Desvendando aguarelas em desafio

Cintila o arco-íris
Diversificando momentos com impactos na alma
Na beleza da serenidade com vida.

EM - ODE ÀS PALAVRAS - JORGE GASPAR - IN-FINITA

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Beirais - ANTÓNIO MR MARTINS

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O grão
que a asa
culmina
se vislumbra
na ave

cantada pelo bico
a melodia
temperadora

um cismar
esvoaçante
que nesse voar
se grave

num voo
sem adoçante

EM - JUÍZOS NA NOITE - ANTÓNIO MR MARTINS - IN-FINITA

Gran Finale - LISIEUX BEVILAQUA

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Gotas misturam-se no meu rosto
Com esse orgulho ferido.
Amarga minha boca, um desgosto,
Mas, mantenho o corpo detido.

Sabes que sonho com teu regresso
E tu, também, meu perdão aguardas.
No entanto, nenhum de nós dá acesso
Às vontades, no fundo, guardadas.

Se o telefone gritasse um “triiiimmm”
Eu sei, um ao outro daria razão.
Chorando dirias me amar, sim,
E eu te falaria da minha paixão.

Se o silêncio ao tempo, então, vencer,
Cicatrizando nossas ânsias, enfim,
Meus olhos no passado vou perder
E sempre em teus desejos verás a mim.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Saudade - NATÁLIA MATOS GOMES

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Quão é difícil dizer-te, agora,
O que nunca te disse, antes,
Na casa onde regressas todas as tardes,
Em espírito e saudade,
Em tempos tão distantes.
Tão dolorosa é a tua ausência,
Quando festejo a tua vida
E apenas encontro a tua essência
Numa jarra inerte onde jazem
As flores dos teus caminhos,
As tuas hortênsias,
Mãe!...

EM - REFLEXOS NO OLHAR - NATÁLIA MATOS GOMES - IN-FINITA

X - CARLOS CAMPOS

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Plantei flores na lua
Fui sem abrigo na tua rua
Reguei o sol
Orei no jardim das ESTRELAS
Pequei no paraíso
Transgredi na curva do pensamento
Lavrei o mar para perfume te poder dar
Comi a maçã do pecado
Mesmo a dormir estive acordado
Voei nas asas de um arcanjo
Corri com o mundo às costas
Passei por pontes sem rios
E rios sem pontes
Acordei nas margens do rio Carinho
Por vezes no meio de muita gente
Me encontro sozinho
Bebi vinho da tua fonte
Me embebedei na tua nascente
Desaguei na tua foz
Quebrei o cântaro pelo caminho
Roubei cerejas ao vizinho
Atravessei montes e marés
Rezei no deserto
Porque todos os dias
Estás SEMPRE SEMPRE tão perto

EM - POEMAS SEM NOME - CARLOS CAMPOS - IN-FINITA

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Sem palavras - CRISTINA AMARO CASADINHO

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No meio de tantas palavras
afinal eu estava só.

Nem ao menos o som da nascente
dos teus passos entoa na calçada.
E como corre dentro de mim!

Com loucura arrasto
a tua sombra pelas estradas
e levo-a comigo como um pássaro morto
gelado, quieto e de olhos fechados.

Agora que não tens voz,
procuro nas florestas do silêncio
a lembrança do teu cantar.

EM - (DES)FLORIDOS - CRISTINA AMARO CASADINHO - IN-FINITA

Autópsia urbana - LISIEUX BEVILAQUA

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De cirrose, câncer no pulmão,
De neurose ou de depressão.
De cima de um prédio, debaixo de um carro,
De frente para o tédio, detrás de um cigarro.
Não faz isso, meu irmão!
De fumaça, nas fábricas de frustração,
De cachaça ou da falta de pão,
Nas esquinas de cada dia,
Cansado de luta, forçado a labuta,
Morreu mais um cidadão da agonia.
Clichê, arisco, sem perdão.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Desassossego I - ANTÓNIO SILVA MELO

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É tanta a idade que me separa das coisas. De não estar na beira
de nada. Dessa razão que ordena fazer em nome dos iguais
a mim.
Oh verdade que não existes. Malabarismo da humanidade
onde o corpo se mexe por destino ou açoite.
E mando apagar o eu no tudo que se veja, porque o direito
ainda está do lado de quem respira.
E esses que pensam pelo que sou, que ocupem as sepulturas
que construí.

EM - POESIA SUBMERSA - ANTÓNIO SILVA MELO - IN-FINITA

Ensaio - BEATRIZ H. RAMOS AMARAL

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

aqui nada me flagra
indiferente à culpa
move-se o tédio

inclino-me
sobre o impasse
como quem pesca

vou anasalando o vento
chuva que condena o medo

as mãos conspiram:
remos forjando
a dispersão das águas

EM - MUNDO(S) 6 - COLECTÂNEA - EDIÇÕES COLIBRI

domingo, 26 de janeiro de 2020

Pele da minha pele - CLARA PATACHÃO

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És prisioneiro da minha pele
Navegas no semblante do meu sonho distante no qual
Me sinto triunfante!... Traição é a minha solidão...
Nunca digas nunca, não me esquecerei do olhar
Do teu amar... A chuva corre pela rua, gélida,
Eu fiquei paralisada!
Secou e a noite repousou!...
Reflexos da noite, desabrocha, luz!
Lançou em mim o corredor do fim...
Amadureceu e o amor em mim cresceu!...

EM - AMOR SENTE-SE - CLARA PATACHÃO - IN-FINITA

Ás águas e as mulheres - LINDETE SOUZA

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Ás águas e as mulheres
Sendo água e mulheres
Nascidas ou não
Mulheres
Em total beleza
Plenas
Banham-se
Tristes adocicadas
Águas serenas, águas
Água viva
Que não queima
Aquece
Água
Que ensina
A ter sede
Verde mar, de novo
Água, rio particular
Também água
Onde coração vagueia
E lá límpida e fecunda
Nasce de novo
Água
Dique
Ilhas
No aconchego
E escrevo no feminino
Água - você é amor
Eu mulher, fêmea
Água

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Culpa sua - CELSO CORDEIRO

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Quando se canta o sentir
a inspiração é mero fluir
e reflexo de musa a sorrir.

Só por desdita de trovador
teria por cônscia intenção
poder lançar a confusão...

Mas fica a Donzela confusa
e num sentir novo dispersa,
com sensibilidade extrema
pela surpresa que acusa.

É-lhe desconhecido o sentir,
que diz inédito e singular
e até capaz de arrebatar...
- culpa sua, seu doce sorrir!

EM - VERSOS COM REVERSOS - CELSO CORDEIRO - IN-FINITA

O meu ser - JORGE FERREIRA

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Álacre manto do meu Ser
Esconde taciturno olhar
Profundo horizonte, em vagos pensamentos
Onde vivo a divagar

Grito em som mudo
Ninguém me escuta, ninguém me sente
Se me calo, minha Alma consente
Imerso num mar revolto

Oh, triste sina,
De um destino de uma só viagem.
Se a vida é uma miragem
O caminho é uma encruzilhada

Olho em frente
O passado é uma neblina fugaz
O futuro é um prenúncio
E eu só vivo o presente

Se o que sinto é a concerne da razão
Tudo o resto é paixão

EM - LÁGRIMAS EM PALAVRAS - JORGE FERREIRA - IN-FINITA

sábado, 25 de janeiro de 2020

Reincidência - BEATRIZ H. RAMOS AMARAL

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nada forja este rio
nem o dilema dos dedos:

tua mão de poeta
para o golpe de cristal
que em todas as faces
reincide

a mesma argila nos molda:
pira acesa na epiderme

EM - O AVESSO DO ARQUIPÉLAGO - BEATRIZ H. RAMOS AMARAL - IN-FINITA

Amava - LINDETE SOUZA

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Eu amava,
Eu não quis amar
O novo de novo,
Mas o novo
Tremeu meu corpo
E alisou meu coração,
Pedindo para entrar.
Deixo não.
Quero sim! Quero sim!
No abismo
Do não poder,
Me vejo cercada
De vontade,
Alimentada de sonhos
E molhada de prazer.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Meu canto - MANOEL BARBOSA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO PELO AUTOR
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Palavra
encanto, qualquer canto, palheiro
mundo, na agulha, certeira
protesto, contentamento, lamento
silenciar
rebeldia, covardia
a sina, meu tempo, a vida
assim
vivida, rasgada, dilacerada
um instante, uma lástima
uma trilha, mas canto
blues & soul
meu sangue, meu canto.

EM - UIVOS URBANOS - MANOEL BARBOSA - EDIÇÃO DE AUTOR

Ela não era diferente - RICARDO D MAR

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Ela não era diferente, somente viajava sozinha desde que nasceu.
Com trinta anos de idade, Joana era possuidora de paralisia
cerebral. A cadeira de rodas era a única maneira de chegar
aonde não sabia o nome de lugar nenhum, mas a vontade era ir.
Nunca olhou ninguém nos olhos, mas sabia quem a olhava,
sabia sentir o olhar da mãe e do pai.
Um dia sentada na sua cadeira bem no centro de um jardim,
Joana voava com as borboletas e sorria. Ela que nunca viveu
como quem acha que vive, ela que aprendeu que a distância da
mente, ou o espaço compreendido entre o sítio onde está para
o sítio onde os outros estão não lhe mata o coração, esse sente
independentemente da distância.
Nesse dia viu Filipe, ele também possuidor de paralisia cerebral,
os dois encontraram-se bem lá em cima, aonde poucos
conseguem chegar. Ambos voaram com as borboletas, deram
as mãos e nunca temeram cair. Talvez porque o medo da queda
seja para quem nunca voou, ou porque o tudo tem perdas.
Num mundo distante, eles conseguiram-se amar de uma forma
tão mágica, que ninguém percebia de onde vinham os beijos, os
olhares e os abraços que ambos davam bem lá em cima, aonde
tão poucos chegam.
Engana-se quem pensa que pensa mais que alguém que parece
não pensar.
Amar é poder.

EM - PARA LÁ DA PELE - RICARDO D MAR - IN-FINITA

Aproveita a ocasião! - MARIA GOMES CABANA

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És sombra talvez esfinge,
Rasgando o espaço a chilrear,
Se a meta não se atinge,
Fica a vida a pairar!

Permanece por segundos,
Quem sabe até por horas,
Só quer o melhor de dois mundos,
O tempo está com demoras!

Voa a vida em catadupa,
Há penas que vão ficando!
A sorte não tem a culpa,
Não a estejas sempre culpando!

Dá a mão à persistência,
Escuta a voz da razão,
Diz não à desistência.
Aproveita a ocasião!

EM - PÊNDULO DE VIDA - MARIA GOMES CABANA - IN-FINITA

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Horizontes - CARLA DE SÀ MORAIS

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O Mestre do Mundo a quem chamamos de Tempo
Para e fica suspenso
Às vezes, até eu penso que estou suspensa também
Sinto o ar a soprar nos meus caprichos
Que me encoraja mais que ninguém
A aflorar as minhas mãos nos meus sentidos
Em apneia fico
Como a aranha numa teia
Quando tudo se interpela dentro de mim
Porque depois, depois tudo se eclipsa por fim
Fica o vazio das coisas não sentidas
Daquelas que eram mais que contidas
Difíceis de se darem a conhecer
Pelo o que revelam do nosso amanhecer
Por vezes coberto de nuvens deformadas
Ou por vezes aberto às planícies acamadas
De insatisfação e estupefação
Mas também de ilusão e muita sedução
Chegam os amores dos tempos deflagrados
Nos horizontes que escondem
O brilho dos bem-amados

EM - DE GAVETA EM GAVETA - CARLA DE SÀ MORAIS - IN-FINITA

Dias - LIÈGE DE MELO

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Amo dias assim – surgem devagarinho,
orvalhando o amanhecer.

Em penumbras soltam cheiros,
nos secretos ninhos rumores –
convocando-nos à florescer.

E assim permanecem
                       claros, diversos,
como versos de um bem querer.

Já dispersos, navegam
tranquilos, leves, convexos,
rumo ao anoitecer.

Sobre terras, mares, ares – universos
múltiplos, vívidos, complexos
como eu e você.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

O símbolo do paraíso - MANOEL BARBOSA

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E assim foram, ou...
E assim vieram
rumo ao símbolo do paraíso tropical.
Só assim puderam ver com os próprios olhos
os contrastes do símbolo
que talvez em outros tempos
foi o paraíso tropical.

E assim foram, ou...
E assim vieram
para retomar a rotina
e esperar ansiosamente para retornar
em meio a todos os contrastes
do símbolo do paraíso tropical.

EM - SANGUE E BLUES - MANOEL BARBOSA - EDIÇÃO DE AUTOR

Arco-íris em poema - JORGE GASPAR

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No poema, a celeridade da luz
Contempla o colorido projetado
Na sensibilidade das palavras.

Sensações de cores pujantes
Aparecendo, desaparecendo
Perseguindo novas oportunidades
De imagens sobreviventes no tempo.

Na permanência das cores
Um tesouro pleno de maravilha.
Em arco-íris.

EM - ODE ÀS PALAVRAS - JORGE GASPAR - IN-FINITA

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Tudo e tanto mais - ANTÓNIO MR MARTINS

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De ti
esperei tudo.

Nada me deste
e nada me dando
deste-me tanto.

De ti
esperei tanto.

Tanto me deste
e tanto me dando
deste-me tudo.

EM - JUÍZOS NA NOITE - ANTÓNIO MR MARTINS - IN-FINITA

A cidade - LIÈGE DE MELO

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O cheiro da terra, o frio na serra
Som de canário, solto imaginário

Vultos distantes, colados em mim,
ecos constantes, cachoeira, jardim.

Um careta solitário subindo a ladeira
Seresteiro lendário, lembrança certeira.

Manhã ascendida ao sol do Japão
que girou no espaço
                        encontrando o sertão.

Vivo cenário, pluma, luz – serafim
de noite, breve açoite
                             sussurros sem fim.

A saudade de verdade
                 é sombra, som, bandolim.

Um sonho recorrente
                      chuva, céu, trampolim.

Um canto à cidade
                  o ritmo, no íntimo, é pura
feli(cidade)!

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Filho de Abril - NATÁLIA MATOS GOMES

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Chegaste em Abril, ao entardecer,
Vindo de outra madrugada
Conquistada na vida a arborescer;
E tantas alvoradas e madrugadas
Já viveste, sem amarras nem medos,
Em jardins de rosas e cravos,
Em céus de nuvens e claridade,
Em saberes e contradições,
Em bandeiras e convicções,
Mas, sempre em Liberdade!
Parabéns Tiago, Abril é teu,
É nosso, é de quem o abraçou
Em lágrimas e jubileu!

EM - REFLEXOS NO OLHAR - NATÁLIA MATOS GOMES - IN-FINITA

VII - CARLOS CAMPOS

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Te lembras de uma carta
Que não te escrevi?
Não tinha selo
Nem envelope
Nem endereço
Nem código postal
Te lembras?
A escrevi num papel sem cor
Com a cor do arco-íris
Que eu tinha no meu pensamento
Com alguns erros de português
Te lembras?
Daquela carta
Que eu não te escrevi
E a enviei no coração do vento
Que passou por mim
E levava perfume na alma
E letras no advento
Te lembras?
O que essa carta dizia?
Te dizia
Que nunca
Te vou deixar de escrever
Aqueles poemas com palavras por inventar
E que só tu
Vais conseguir decifrar
Te lembra de te lembrares

EM - POEMAS SEM NOME - CARLOS CAMPOS - IN-FINITA

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

O jardim - CRISTINA AMARO CASADINHO

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O jardim ouvia os teus passos
e floria.

A solidão dos arbustos cantava
iluminando todo o dia.

Enchendo os lagos do mistério
que o teu vestido trazia.

Mas tu...
Nunca mais voltaste.
E o jardim anoitecido
esperando que o esperasses
morreu também contigo.

Hoje os deuses
vagueiam comigo entre o silêncio
e respiram comigo
a poesia dos lugares.

EM - (DES)FLORIDOS - CRISTINA AMARO CASADINHO - IN-FINITA

Sou Paraíba, sim senhor - LENILSON SILVA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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Sou Paraíba, sim senhor
aqui é um Estado brasileiro
com capital João Pessoa
que abriga com carinho
qualquer pessoa do país...
Sou Paraíba, sim senhor
aqui o sol nasce primeiro
Onde acordamos cedo
para ganhar o dia,
sem menosprezar ninguém
Sou Paraíba, sim senhor
visto essa farda
sem vergonha e nada
me fará perder o orgulho
de ser do Nordeste
ser do Estado Paraíba
e dizer para quem ama de verdade o seu país
tem que respeitar os estados que ficam em baixos,
aqueles dos cantos e os de Riba,
Sou Paraíba, sim senhor.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Nunca te vou esquecer - CARLOTA MARQUES CANHA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO PELA AUTORA
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Sentir saudade
é expressar
sentimento profundo,
sentir saudade
acompanha-me
o meu pensamento.
Sentir saudade
é mais que um sonho,
é algo que me
aperta o coração.
Sentir saudade
é desesperar na ausência,
é sentimento profundo
que não vou
conseguir aguentar
de tanto esperar
e nunca mais
te encontrar.

EM - AGARRAR O TEMPO (PENSAMENTOS SEM TEMPO) - CARLOTA MARQUES CANHA - CHIADO BOOKS

O corpo - ANTÓNIO SILVA MELO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O corpo é o luxo incessante
O lugar viciante dos oprimidos
Da obra feita e realizada.

Corpo de mãos entre a cabeça
Na cara onde cresce o poder
E os nós de sangue respiram.

Corpo de voz rebentada
De graça e de ferida
De órgãos baralhados
Volume de reza e de massacre.

Corpo de ângulos novos
Monte deprimente voltado
Ao som da terra como artéria
Na ressaca dos poros
Da oficial claridade.

EM - POESIA SUBMERSA - ANTÓNIO SILVA MELO - IN-FINITA

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

O tempo é magia - CLARA PATACHÃO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Na linha do infinito o tempo demora... Mas me conforta...
A chuva tem cristais cintilantes e amantes...
Nos ecos do vento sou bruma de gotículas de água.
No vestir da vida, tento engolir espectáculos raros e intensos!
Beijo o tempo e lavo a alma, e lavo as minhas mágoas...
Trago imagens, ocultando a sombra vencida mas fria!
Sou amada, tenho a certeza, nesse jardim secreto onde
Floresce de céu aberto...
Idealizo! A felicidade contagiando o meu coração!
Espalho essências do aroma do meu amor...
Intensas como uma flor...!
... O TEMPO É MAGIA...

EM - AMOR SENTE-SE - CLARA PATACHÃO - IN-FINITA

Sou de Pedras de Fogo - PB - LENILSON SILVA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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Lugar abençoado
por nossa senhora da Conceição
Lugar iluminado
pelo pôr do sol mais bonito da região...
Sou professor,
Poeta e sempre aprendendo
Acreditando que poesia tem que ter raiz
tem que ter essência
valorizar os primeiros passos
valorizar o seu lugar...
Minha raiz é Pedras de Fogo
minha raiz é essa gente,
minha raiz é ser nordeste
cabra da peste
cabra decente
que valoriza a nossa cultura
que valoriza a nossa família
valorize a nossa gente.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Desabrigado - CELSO CORDEIRO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Em qualquer rua tens um quarto
e uma nesga de passeio é leito,
nem o aconchego é a preceito
nem o estômago anda farto.

És apenas um rosto enrugado
com o cabelo desgrenhado,
vestes de trapos, desordenado,
e arrastas o corpo como teu fado.

Apenas mais um desabrigado
que pela urbe é ignorado,
quem te vê e passa ao lado
disfarça desdém e desagrado.

Resta um amigo a teu lado,
abstraído do teu ar despojado,
é incondicionalmente dedicado
e como “fiel amigo” apelidado.

EM - VERSOS COM REVERSOS - CELSO CORDEIRO - IN-FINITA

O Sabor das Castanhas - JOSÉ ANTÓNIO RIBEIRO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

As Castanhas e água-pé
No dia de São Martinho
Ajudam-nos a estar de pé
Para chegarmos a nossa casa
Ao nosso ninho
É novembro do frio
Como a água no rio
Mas vem o verão dos marmelos
Castanhas, Água-pé estes elos
Que nos aquecem
Quentes e boas com água-pé
Na nossa Lisboa da vida boa
Das tradições e memórias
Dos pregões da nossa história
Aqui perto… alguém diz
«Castanhas quentes e boas»
Aqui em Lisboa
No sabor das emoções
Que aquecem corações

EM - ÁGUA-PÉ, CASTANHAS E LETRAS - COLECTÂNEA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Seguir - JOÃO SEVIVAS

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO PELA EDITORA
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Com vocês me convenço
Ouvindo
E se me venço sem vocês
Enfim desconvencido
A não ter de a sentir
O que a vós queria ouvir
É porque em mim desvendo
A voz que em vós não lendo
Me convence perdido
A seguir.

EM - POESIA 2020 - JOÃO SEVIVAS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

És o meu poema - JORGE FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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És o poema que floresce
Palavras ao vento
Folhas em contratempo
Essência de ti,
Que em mim permanece
Dois olhares que se fundem num leve pestanejar
Deixam mistérios no ar
Almas que amam não se confundem
E no desabrochar desse jardim florido que te enternece
Há um aroma que me embebece
Deixando-me assim, rendido
Não são só palavras que cito a devanear
Sinto-as, como as dita o coração
E nestas frases escritas com emoção
Tu és poesia,
E eu, o teu olhar

EM - LÁGRIMAS EM PALAVRAS - JORGE FERREIRA - IN-FINITA

Vida - JURANDA MARIA SILVA DE BRITTO

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Vida o que é ela?
Um mundo de encontros da harmonia entre as coisas
boas e ruins;
A qual você vive o bem e o mal, mas se não fosse assim
a vida não teria graça, será?
Sim, ao assistir o dia raiar, vendo a claridade chegar,
os pássaros cantando, o silêncio imperando, a paz
reinando, uma sensação de que o paraíso vem chegando.
O que posso querer mais se ainda tenho um amor
que me faz completa por demais.
O que dizer do amor?
Uma coisa boa que nos engrandece.
E quando perdemos o ser amado, nos sentimos
pequenos, vazios e faltando um pedaço.
Mas quando ele está ao nosso lado sentimos que não
nos falta nada, que a vida com o amor é completa.
A vida não teria graça sem altos e baixos, mas é o amor
que tem a magia de fazer o equilíbrio acontecer.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Névoa - BEATRIZ H. RAMOS AMARAL

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a essência da fruta
tingindo o navio
o convés

fragmentos de pólen
dublagem de frases
flashes faces fases

apressada
como um filme
sem imagem

guardei o silêncio
de cada palavra

EM - O AVESSO DO ARQUIPÉLAGO - BEATRIZ H. RAMOS AMARAL - IN-FINITA