terça-feira, 31 de março de 2015

Emissário - VÍTOR CINTRA

O rei de Portugal, p'lo mundo fora,
Somando, com seus feitos, aliados,
Tornou-se num exemplo, sem demora
De muitos, muitos povos visitados.

A pé, ou navegando, mundo além,
Aqueles que mandou, como emissários,
Tornaram-se gigantes, mas também
Da pátria portuguesa missionários.

Foi Pêro Covilhã, na Abissínia,
Quem conseguiu ao rei informação
Das terras do senhor Prestes João.

Levando a Cruz de Cristo como insígnia
Seguiu então, depois, até Sofala
E ali até co'os Zulus foi à fala.

EM - ROMEIROS DOS OCEANOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

segunda-feira, 30 de março de 2015

Juventude - EUGÉNIO DE ANDRADE

Sim, eu conheço, eu amo ainda
esse rumor abrindo, luz molhada,
rosa branca. Não, não é solidão,
nem frio, nem boca aprisionada.
Não é pedra nem espessura.
É juventude. Juventude ou claridade.
É um azul puríssimo, propagado,
isento de peso e crueldade.

EM - AS PALAVRAS INTERDITAS/ATÉ AMANHÃ - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM

domingo, 29 de março de 2015

Nocturno - MIGUEL TORGA

Se a noite vem, dorme o teu sono justo.
A noite é como a terra da semente.
Seja qual for o custo,
Compra o teu dia, como toda a gente.

E, de manhã, desperta.
Brota da escuridão
A mesma flor aberta,
Mas com sonho na mão.

A não ser que, poeta e condenado,
Tenhas de noite que guardar a vida.
Então, vela, orvalhado,
Como semente que não tem guarida.

EM - POESIA COMPLETA VOL. I - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE

sábado, 28 de março de 2015

Acima da verdade...* - RICARDO REIS

Acima da verdade estão os deuses
A nossa ciência é uma falhada cópia
     Da certeza com que eles
     Sabem que há o Universo.

Tudo é ruído, e mais alto estão os deuses
Não pertence à ciência conhecê-los,
     Mas adorar devemos
     Seus vultos como às flores,

Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
     E no seu calmo Olimpo
     São outra Natureza.

EM - POESIA - RICARDO REIS - ASSÍRIO & ALVIM

sexta-feira, 27 de março de 2015

Lágrimas de cristal - ALICE SANTOS

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Lágrimas de cristal
Que se partem dentro de mim
Vou deixá-las sair,
Deixá-las voar
Para que se fundam no mar.
Assim,
Quando chover poderão voltar.
Quando voltarem
Já não molham
Já não correm de dentro para fora
Já não choram
Meus olhos por agora.

EM - FRUTOS VERMELHOS - ALICE S - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

quinta-feira, 26 de março de 2015

A distância - VÂNIA PARREIRA

Não sei dizer o quanto me sinto distante
Fazes-me o coração bater quando em ti penso
Meu amor, meu amigo e meu amante,
Faz-me fazer loucuras que já não dispenso.

Adoro a tua companhia quando estou contigo,
Fazes de mim a mulher que nunca pensei ser
Quando estou longe de ti, não tenho um amigo,
Eu vejo-me só e nem sinto o verdadeiro prazer.

Nunca me deixes pela distância meu amor
Quero estar para sempre na tua vida
Tu para mim, és um grande homem de valor,
Eu para ti quero ser sempre querida.

EM - UNIVERSO DAS PALAVRAS - COLECTÂNEA - SINAPIS

quarta-feira, 25 de março de 2015

Vento - FERNANDO JORGE BENEVIDES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

Na inquietude da tarde
o vento parou
deixou de se ouvir
a árvore nua perguntou
porque o vento secou
quem o comprometeu!!
porque... se deixou de sentir?
a folha pálida respondeu
foi a turbulência que o calou.

EM - VÉRTICES - FERNANDO JORGE BENEVIDES - EDIÇÕES OZ

terça-feira, 24 de março de 2015

Da vigília aceso o farol* - ANTÓNIO GIL

Da vigília aceso o farol
a gávea do sonho erecta
haste de flor sem pétala
corola vizinha do sol

simultaneamente mastro
vela que se enfuna
e esfumada coluna
escrevendo no céu seu rasto

as palavras que formo
como fumo ou nuvem
evolam-se, evoluem
em seu fluido contorno

e a forma, submissa à luz
aprende, em tal movimento
que há que confiar ao vento
tudo o que o vento produz

EM - OBRA AO RUBRO - ANTÓNIO GIL - LUA DE MARFIM 

segunda-feira, 23 de março de 2015

Humanidade - JORGE DE SENA

Na tarde calam e fria que circula
por entre os eucaliptos e a distância,
olhando as nuvens quase nada rubras
e a névoa consentida pelos montes,
névoa não subindo por não ser
fumo da vida que trabalha e teima,
e olhando uma verdura fugitiva
que a noite no céu queima tão depressa,
esqueço-me que há gente em cada parte,
quente que, de sempre, sofre e morre,
e agora morre mais ou sofre mais,
esqueço-me que a esperança abandonada,
a não ser de ninguém, é sempre minha,
esqueço-me que os homens a renovam,
que o fumo dos seus lares sobe nos ares...
Esqueço-me de ouvir cheirar a Terra,
esqueço-me que vivo... E anoitece.

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - JORGE DE SENA - GUIMARÃES

domingo, 22 de março de 2015

Riscos - ALEXANDRE CARVALHO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

Entre janelas notei
a abobada celestial
rasgada por riscos flamejantes
estrelas cadentes
que iluminam amantes
e fazem o momento especial
refletem na tua íris
e com a minha intercetei
coloriram teu cabelo
numa mescla de ingredientes
caracóis de arco-íris
vou moldá-los como modelo.

Em noites de Primavera amenas
imagino amizade com preço d'ouro
atingindo o patamar do Mundo,
sou de terras outrora sarracenas
um dia recebi um sorriso
por não ter nada de mouro
contagiou-me bem fundo
não o quero perdido
poetizei de improviso
por ti fiquei rendido.

EM - AGUARELA DE POESIA - ALEXANDRE CARVALHO - CHIADO EDITORA

sábado, 21 de março de 2015

O sangue das palavras I - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS

O poeta que nasce é uma criança
parida pela água torturada
uma nave que surge   uma nuvem que dança
ao mesmo tempo livre e condensada.

O poeta que nasce é a matança
da palavra demente e enjeitada
que o chicote do poema torna mansa
depois de possuída e mal amada.

Quando o poeta nasce   a madrugada
aperta os versos num abraço rouco
até que a noite fique esvaziada.

E enquanto das palavras   pouco a pouco
surge a forma perfeita ou agitada
no mundo morre um deus   ou nasce um louco.

EM - OBRA POÉTICA - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS - EDIÇÕES AVANTE

sexta-feira, 20 de março de 2015

Diogo de Silves - VÍTOR CINTRA

Diogo, foi teu nome de cristão,
De Silves, pela terra onde nasceste.
O mar foi a ciência que aprendeste,
A barca, teu destino e ganha-pão.

Se a terra dos atlantes se perdeu
Nas brumas dum passado tenebroso,
Embora por acaso auspicioso,
O mérito de achá-la ficou teu.

Perderam-se no tempo essas memórias,
Que contam como foram descobertas
As ilhas dos Açor's então desertas;

Mas contam os relatos, que há na História,
Que de regresso à Pátria, certo dia,
Surgiu-te, qual visão, Santa Maria.

EM - ROMEIROS DOS OCEANOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 19 de março de 2015

Deixem-me - MANUELA PASSARINHO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

deixem ser melancolia,
dor e palavras vãs
tambores acordados
em marcha única

grito-vos em murmúrios
gastos como solas
de pés nus
deixem-me
ser como me sinto
esgar de um nascimento
Belo
da adolescência imaculada
da Mulher que AGORA Sou

deixem-me
sentir a Criança
que da Juventude floresceu

somente DEIXEM-ME

EM - EM POESIA VOS AMO + EM RETRATOS DA VIDA VOS ENTENDO - MANUELA PASSARINHO - EDIÇÕES OZ

quarta-feira, 18 de março de 2015

´V - JESÚS RECIO BLANCO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

Apenas a cinza dos homens.
Apenas a sua lembrança.
Apenas o deserto por onde andamos.

Somos os heróis da noite,
o esgotado espaço duma história.

Apenas a esperança.
Apenas a vertigem.
Apenas a pegada dum dia de chuva.

Se alguém quiser saber mais alguma coisa de nós,
é só olhar para o futuro.

EM - CADENZAS - JESÚS RECIO BLANCO - CHIADO EDITORA

terça-feira, 17 de março de 2015

Leio-te - JORGE BICHO

Leio-te
como teus olhos
fossem o poema
mais belo de
sempre...
Leio-te,
nas tuas mãos
alimentando os meus sonhos,
nos teus gestos
afagando minh'alma,
nas tuas carícias
que me desvelam
e me torturam.
Leio-te
nas tardes de Outono,
quando a noite se atrasa
repousando na sacada
perdido num pôr-do-sol.
Leio-te
em cada palavra
discorrida,
em cada livro,
imaginando-te...
leio-te
sem te aprender...

EM - POR DENTRO DAS PALAVRAS - JORGE BICHO - LUA DE MARFIM

segunda-feira, 16 de março de 2015

Coração - MARIA AMÁLIA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Coração que tanto gritas
Na perfeição ajeitada
Espinhos em que te picas
Surgiram na nossa estrada
Coração vives sangrando
Dormes e acordas cansado
Vais aos poucos derramando
Os pingos do teu passado
Coração meu coração
Continua preso à vida
Não desistas coração
Porque há sempre uma saída
Coração o teu gritar
É um tom sempre a subir
Até as ondas do mar
Se acalmam para te ouvir

EM - MISTO DE SENTIMENTOS - MARIA AMÁLIA - EDIÇÕES OZ

domingo, 15 de março de 2015

Em haste singela - JOÃO CARLOS ESTEVES

em haste singela
florescem pérolas nacaradas
cinzeladas pelo orvalho da manhã
em gentil e refrescante afago

no meu peito
floresce a tranquila paixão
pela simplicidade do estar
em serena contemplação

no fluxo dos sentidos
florescem as palavras que me enchem
e que me abraçam os silêncios

EM - INVENTEI-TE AS MANHÃS - JOÃO CARLOS ESTEVES - CHIADO EDITORA

sábado, 14 de março de 2015

Feitiço - ÂNGEL MAGALHÃES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Corpo que desenho,
mãos que adivinho,
lábios que reduzem minhas forças

Tua respiração delirante
transforma-se em melodia
para meus ouvidos
Casamento de arrepios e sensações,
essência dos meus versos

Línguas que se procuram
que se alimentam de pedaços de palavras...
No teu olhar divago
viajo
deslizo
Vem, não esperes que as horas nos escapem
Feitiços provocados no meu corpo

Delirante sensualidade nesta noite de luar
onde nossos corpos bailam ao som dos ruídos noturnos,
dos ventos contrariados e desnorteados,
testemunhas
da nossa excitação

Teu corpo que desenho
Meu sentido de desorientação...

EM - PECADOS - NAS ASAS DO DESEJO - ÂNGEL MAGALHÃES - EDIÇÕES OZ

sexta-feira, 13 de março de 2015

Escuridão - VERA SOUSA SILVA

Escura é a noite dos meus dias
com vozes macabras que giram sobre mim
e é num misto de nojo que acordo
pensando como seria mágico
se o céu fosse um arco-íris
e o riso das crianças enchesse
as partículas das memórias eternas.

Escura é a noite da alma
de quem não vê para além
da profunda pequenez humana.

EM - ATÉ AMANHÃ - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 12 de março de 2015

Trémula, ajusto à mão* - GRAÇA PIRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Trémula, ajusto à mão
a posse das palavras
e conto:
Numa aldeia da Mancha
um homem recuperou a razão
e começou a morrer.
Banido de seus sonhos,
as sombras da tristeza
devolveram-lhe o nome
e o rosto que eram dele.
Aos poucos, o seu corpo
tornou-se circular
e fundiu-se com as velas brancas
de um moinho de vento,
que continua a girar
numa aldeia da Mancha,
de cujo nome não me lembro.

EM - POEMAS ESCOLHIDOS 1991-2011 - GRAÇA PIRES - EDIÇÃO DE AUTOR

quarta-feira, 11 de março de 2015

Presa - MARIETE LISBOA GUERRA

Estou em ti presa,
Não sei se em arame, em cordel,
Agarrada aos teus escassos gestos

Escrevo uma carta ao futuro
Calco todas as palavras já ditas
Eu, eu claustro fotografado
Tu, uma parede sem cor

Vagueio nas minhas formas angelicais

Gostei tanto de ti, naquele dia
E os dias são um elenco que esgota
Na tua hiperbolizante memória

Nos teus olhos de vidros quebrados
Está o meu astro poluído, a minha cegueira

Preciso de oxigénio, o mesmo que dei
Fico num poço sem ar, sem água, sem escada
Longe de ti!

EM - UNIVERSO DAS PALAVRAS - COLECTÂNEA - SINAPIS

terça-feira, 10 de março de 2015

A Armia - MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE

Se os deuses me conferissem
A suprema faculdade
De espraiar a luz do dia,
E a nocturna escuridade:

Tarde no roxo horizonte,
Cândida Aurora, assomaras;
Tade as viçosas boninas
Com teu pranto rociaras.

O deus, de que és precursora
Só duas horas, não mais,
Vibrara neste hemisfério
Seus raios a Amor fatais.

Mais longa seria a noite,
Mais felices os amantes;
E eu, a sabor dos prazeres,
Dividiria os meus instantes:

A quarta parte do tempo
Ao grato sono a daria;
Outra igual às brandas Musas,
E ametade à minha Armia.

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - BOCAGE - VERBO CLÁSSICOS

segunda-feira, 9 de março de 2015

Porto de Mós - VÍTOR CINTRA

Do alto desse outeiro, dominante,
Exibes a beleza da muralha.
Em ti o Condestável, comandante,
Juntou seus homens antes da batalha.

O teu primeiro alcaide foi Dom Fuas,
O tal que a Mãe de Deus, na Nazaré,
Salvou, por ter ouvido as preces suas,
Em lenda que, p'la graça, se fez fé.

Erguido, noutro tempo, p'los Romanos,
Também os Visigodos, Muçulmanos,
Cuidaram de crescer-te, p'ra defesa.

Mas, vindo Afonso Henriques lá do norte,
Dom Fuas veio com ele e, por ser forte,
Tornou-te e fez-te praça portuguesa.

EM - NO CREPÚSCULO DAS AMEIAS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

domingo, 8 de março de 2015

Mais nada! - MARIA FÁTIMA SOARES

Não ando acelerada.
Amo-te... Mais nada!

Não ando feliz,
Tal como um petiz...

Ando extasiada.
Por que te amo. Mais nada.

Desejo-te de forma desvairada.
A culpa não é tua, de eu andar apaixonada...

Mas sabe-me tão bem.
Amo-te! Está bem?

Por favor deixa que te ame.
Mesmo que não saiba pelo teu nome, chame.

Não, não ando só aparvalhada,
Ando endiabrada.

Completamente extasiada...
Por que te amo! Mais nada!

EM - UNIVERSO DAS PALAVRAS - COLECTÂNEA - SINAPIS

sábado, 7 de março de 2015

Sou - ÂNGEL MAGALHÃES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Essa boca que me chama num sorriso que se denuncia
sopros de batimentos acelerados
sabores de aromas derramados
Fração de desejos ardentes em sentidos desorientados
momento de fraqueza da tua rotina
por quanto desejas meu corpo insanamente.

Sou gosto intenso de pecado
Sou dilúvio que escorraço
sentimento escondido de paixão
que por vezes grito...
que por outras deixo amordaçado.

EM - PECADOS NAS ASAS DO DESEJO - ÂNGEL MAGALHÃES - EDIÇÕES OZ

sexta-feira, 6 de março de 2015

Asas que não vês - ALICE S

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Deus deu-me asas
Asas que não vês
Tornam-me mais alta
Superando a tua pequenez.

São elas o pilar
Força transformadora
Não servem para voar
São parte da minha pessoa.

Deus deu-me asas
Que jamais poderás ver
Como poderias vê-las
Sem me conhecer.

Asas negras
Carregam almas de luz
Diamante que não reluz.

Elevam-me e protegem
Transformam bondade, amor
As sombras que me perseguem.

EM - FRUTOS VERMELHOS - ALICE S - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

quinta-feira, 5 de março de 2015

Sonho desfeito - VERA SOUSA SILVA

Não foi com aquele tiro,
com aquela arma de fogo
que ele a matou.

Foi antes, muito antes...
Pouco depois de lhe matar
os sonhos estrelados
e de lhe comer toda
a esperança risonha.

Antes mesmo dos impropérios
gritados enquanto esmurrava
o corpo dorido...

Talvez ao mesmo tempo
que os pontapés lhe mataram
o único ser que a amaria
de verdade, talvez...

EM - ATÉ AMANHÃ - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 4 de março de 2015

Seja o que Deus quiser - GABRIEL PENICHE

Caminhos, ruas, vielas
A percorrer neste vida
São o destino a cumprir
Traçado p'lo nosso Fado
Dele não podemos fugir

As quedas e os tropeços
Estão marcados, decididos
Escritos em livro aberto
Bem como os dias melhores
Que os teremos decerto

A vida é mesmo assim
Cheia de altos e baixos
Uns com mais outros com menos
O preciso é confiar
A viver a vida serenos

A calma, a confiança
São valores a conservar
Haja na vida o que houver
Precisamos é saúde
E seja o que Deus quiser

EM - UNIVERSO DAS PALAVRAS - COLECTÂNEA - SINAPIS

terça-feira, 3 de março de 2015

O fantasma - MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

O que farei na vida - o Emigrado
Astral após que fantasiada guerra,
Quando este Oiro por fim cair por terra,
Que ainda é Oiro, embora esverdinhado?

(De que revolta ou que país fadado?)
Pobre lisonja a gaze que me encerra...
Imaginária e pertinaz, desferra
Que força mágica o meu pasmo aguado?

A escada é suspeita e é perigosa:
Alastra-se uma nódoa duvidosa
Pela alcatifa, os corrimões partidos...

Taparam com rodilhas o meu norte,
As formigas cobriram minha sorte
Morreram-me meninos nos sentidos...

EM - POESIAS - MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO - VERBO CLÁSSICOS



segunda-feira, 2 de março de 2015

4 haicu - CASIMIRO DE BRITO

51
A sede que tenho
do licor dos teus lábios;
o meu corpo treme

100
Bebo um vinho fino - 
eu que só queria beber
na tua fonte íntima

163
Cabelos em cascata
sobre mim derramada -
começa a cantata

233
Levo a Primavera
no meu coração: entro em ti,
chegou o Verão

EM - EROS MÍNIMO - CASIMIRO DE BRITO - LUA DE MARFIM


domingo, 1 de março de 2015

Aqueles claros olhos... - LUÍS VAZ DE CAMÕES

Aqueles claros olhos que, chorando
ficavam quando deles me partia,
agora que farão? Quem mo diria?
Se porventura estarão em mim cuidando?

Se terão na memória, como ou quando
deles me vim tão longe de alegria?
Ou s'estarão aquele alegre dia
que torne a vê-los, n'alma figurando?

Se contarão as horas e os momentos?
Se acharão num momento muitos anos?
Se falarão co as aves e cos ventos?

Oh! bem-aventurados fingimentos,
que nesta ausência tão doces enganos
sabeis fazer aos tristes pensamentos!

EM - POESIA LÍRICA - LUÍS VAZ DE CAMÕES - VERBO CLÁSSICOS