Por vezes a boca e o horizonte comunicam
longínquos mas sobre a mesma mesa
e da espessura do sono a melodia
levanta-se na glória de uma sala transparente
E tudo está presente em vermos da varanda
o ébrio sossego dos longos voos das aves
ou a tranquilidade dos rebanhos de arbustos
que nas encostas sobem até ao cimo azul
Reencontramos assim a nitidez do nascimento
e o canto das sílabas brancas e o corpo intenso
no seu ritmo de júbilo em ser o pleno espaço
EM - DELTA/PELA PRIMEIRA VEZ - ANTÓNIO RAMOS ROSA - QUETZAL
quinta-feira, 31 de março de 2011
quarta-feira, 30 de março de 2011
Factos - TERESA M. G. JARDIM
Por exemplo: ainda durmo na mesma casa
e no mesmo quarto onde nasci; menos a cama
que é recente; também o espelho
de corpo inteiro e moldura.
EM - JOGOS RADICAIS - TERESA M. G. JARDIM - ASSÍRIO & ALVIM
e no mesmo quarto onde nasci; menos a cama
que é recente; também o espelho
de corpo inteiro e moldura.
EM - JOGOS RADICAIS - TERESA M. G. JARDIM - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 29 de março de 2011
Liberdade - CASIMIRO DE BRITO
Como se de asas se tratasse
invoco teu nome liberdade.
Procuro nos teus seios de lava
palavras nuas à beira da morte.
Âncoras de sol,
frutos indistintos que prometam
um porto com a forma do corpo.
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
invoco teu nome liberdade.
Procuro nos teus seios de lava
palavras nuas à beira da morte.
Âncoras de sol,
frutos indistintos que prometam
um porto com a forma do corpo.
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 28 de março de 2011
soneto inglês da sucata - VASCO GRAÇA MOURA
ir pelo mundo, andar entre a sucata,
não recear dos olhos que se sujem,
encontrar uma forma que se engata
e outra forma em sombra de ferrugem
e se uma a outra ir engendrando amarras
e explosões contínuas. requer-se
que paciência e alma tenham garras
e gruas e sapata e alicerce
e lugar onde e planos da paisagem
e em tudo um desoculto parentesco
do gancho ao berbequim e à cofragem
que há-de rasgar depois um arabesco.
foi acaso? destreza? estafe? gesso?
eram restos de tudo. é o começo.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
não recear dos olhos que se sujem,
encontrar uma forma que se engata
e outra forma em sombra de ferrugem
e se uma a outra ir engendrando amarras
e explosões contínuas. requer-se
que paciência e alma tenham garras
e gruas e sapata e alicerce
e lugar onde e planos da paisagem
e em tudo um desoculto parentesco
do gancho ao berbequim e à cofragem
que há-de rasgar depois um arabesco.
foi acaso? destreza? estafe? gesso?
eram restos de tudo. é o começo.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
domingo, 27 de março de 2011
Lupus - DINIS H. G. NUNES
não se nasce humano mas lobo
nem bom nem mau mas lobo
e se a lobotomia é mal feita
não se fica lobo
mas tolo.
EM - AVRYL - DINIS H. G. NUNES - POPSUL
nem bom nem mau mas lobo
e se a lobotomia é mal feita
não se fica lobo
mas tolo.
EM - AVRYL - DINIS H. G. NUNES - POPSUL
sábado, 26 de março de 2011
Ganhou asas o meu sonho* - ALEXANDRINA PEREIRA
Ganhou asas o meu sonho
e na plenitude
do azul infinito
vesti-me de nuvem.
Tomei nas mãos
todas as cores
do arco-íris
e na hora tardia
as palavras
adormeceram
sublimes e distantes
como se a inspiração
fosse tela recusada
ao cinzento da vida.
EM - INSUBMISSÃO DOS SENTIDOS - ALEXANDRINA PEREIRA - TEMAS ORIGINAIS
e na plenitude
do azul infinito
vesti-me de nuvem.
Tomei nas mãos
todas as cores
do arco-íris
e na hora tardia
as palavras
adormeceram
sublimes e distantes
como se a inspiração
fosse tela recusada
ao cinzento da vida.
EM - INSUBMISSÃO DOS SENTIDOS - ALEXANDRINA PEREIRA - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 25 de março de 2011
Na imaginação do poeta... - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO
É certo que em «poesia»,
O autor escreve mais livre,
Com as imagens que cria,
Para escrever em seus livros.
Não direi só fantasia,
O escrever o que se vive,
E como alguém já dizia:
"Se o que sinto, é o que já tive..."
Se for sonho, porque não,
Ser tudo imaginação...?
Mesmo que isso seja a meta
Que se pretenda atingir,
Ainda que seja a fingir,
... Sonhador, por ser poeta.
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
O autor escreve mais livre,
Com as imagens que cria,
Para escrever em seus livros.
Não direi só fantasia,
O escrever o que se vive,
E como alguém já dizia:
"Se o que sinto, é o que já tive..."
Se for sonho, porque não,
Ser tudo imaginação...?
Mesmo que isso seja a meta
Que se pretenda atingir,
Ainda que seja a fingir,
... Sonhador, por ser poeta.
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 24 de março de 2011
16 - GLEIDSTON CÉSAR
A loucura de sair do meu abrigo
Para vos acompanhar nessa desvairada
Aventura de um domingo cinzento me traz
A alegria de compartilhar esse momento.
Tudo é uma questão de momento
Agora presente, vivido com amigos
Verdadeiros, independente do acaso de amanhã.
Hoje é presente vivido, sem futuro pensado,
E aproveitando o agora e o hoje.
EM - OS SENTIMENTOS POR DETRÁS DAS PALAVRAS - GLEIDSTON CÉSAR - TEMAS ORIGINAIS
Para vos acompanhar nessa desvairada
Aventura de um domingo cinzento me traz
A alegria de compartilhar esse momento.
Tudo é uma questão de momento
Agora presente, vivido com amigos
Verdadeiros, independente do acaso de amanhã.
Hoje é presente vivido, sem futuro pensado,
E aproveitando o agora e o hoje.
EM - OS SENTIMENTOS POR DETRÁS DAS PALAVRAS - GLEIDSTON CÉSAR - TEMAS ORIGINAIS
quarta-feira, 23 de março de 2011
melancólica - GONÇALO B. DE SOUSA
entristece sempre quem está vivo:
dói-lhe expor-se ao mundo.
ninguém se forra dos vermes,
somente, morto, os não sente.
EM - CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALO B. DE SOUSA - TEMAS ORIGINAIS
dói-lhe expor-se ao mundo.
ninguém se forra dos vermes,
somente, morto, os não sente.
EM - CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALO B. DE SOUSA - TEMAS ORIGINAIS
terça-feira, 22 de março de 2011
Há um pouco de sol...* - ANTÓNIO RAMOS ROSA
Há um pouco de sol como uma arma tranquila
tenho os dedos enamorados sobre a página
Sinto os arbustos do mar de cor vermelha
A ligeireza do ar e a dura densidade
formam frescas verdades numa sala feliz
Um anjo terrestre ou só a mão alada
respira nas paredes e no solo como um desejo
que para nós voltasse o rosto transparente
Com o rumor do sono a mão enamorada
reconhece nas formas a suave aridez
que atravessa as portas brancas desta páginas
EM - DELTA/PELA PRIMEIRA VEZ - ANTÓNIO RAMOS ROSA - QUETZAL
tenho os dedos enamorados sobre a página
Sinto os arbustos do mar de cor vermelha
A ligeireza do ar e a dura densidade
formam frescas verdades numa sala feliz
Um anjo terrestre ou só a mão alada
respira nas paredes e no solo como um desejo
que para nós voltasse o rosto transparente
Com o rumor do sono a mão enamorada
reconhece nas formas a suave aridez
que atravessa as portas brancas desta páginas
EM - DELTA/PELA PRIMEIRA VEZ - ANTÓNIO RAMOS ROSA - QUETZAL
segunda-feira, 21 de março de 2011
Lamento - ANTERO DE QUENTAL
Um dilúvio de luz cai da montanha:
Eis o dia! Eis o sol! O esposo amado!
Onde há por toda a terra um só cuidado
Que não dissipe a luz que o mundo banha?
Flor a custo medrada em erma penha,
Revolto mar ou golfo congelado,
Aonde há ser de Deus tão olvidado
Para quem paz e alívio o céu não tenha?
Deus é pai! Pai de toda a criatura:
E a todo o ser o seu amor assiste:
De seus filhos o mal sempre é lembrado...
Ah! se Deus a seus filhos dá ventura
Nesta hora santa... e eu só posso ser triste...
Serei filho, mas filho abandonado!
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
Eis o dia! Eis o sol! O esposo amado!
Onde há por toda a terra um só cuidado
Que não dissipe a luz que o mundo banha?
Flor a custo medrada em erma penha,
Revolto mar ou golfo congelado,
Aonde há ser de Deus tão olvidado
Para quem paz e alívio o céu não tenha?
Deus é pai! Pai de toda a criatura:
E a todo o ser o seu amor assiste:
De seus filhos o mal sempre é lembrado...
Ah! se Deus a seus filhos dá ventura
Nesta hora santa... e eu só posso ser triste...
Serei filho, mas filho abandonado!
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
domingo, 20 de março de 2011
Acto de ler - TERESA M. G. JARDIM
O acto de ler reabre feridas. Nos livros
em que isso acontece, com frequência,
poderia ao menos haver um aviso na capa;
assim como se faz com as carteiras de tabaco,
embora se saiba que poucos deixam
de fumar
por isso.
EM - JOGOS RADICAIS - TERESA M. G. JARDIM - ASSÍRIO & ALVIM
em que isso acontece, com frequência,
poderia ao menos haver um aviso na capa;
assim como se faz com as carteiras de tabaco,
embora se saiba que poucos deixam
de fumar
por isso.
EM - JOGOS RADICAIS - TERESA M. G. JARDIM - ASSÍRIO & ALVIM
sábado, 19 de março de 2011
O ofício - CASIMIRO DE BRITO
Escrevo para sentir nas veias
o voo da pedra.
Antecipação da paz
neste país de granadas
moldadas
no silêncio dos frutos.
Escrevo como quem escava
no bojo da sombra
um mar de claridade.
Pedras vivas de possibilidade,
as palavras levantam
o crime, os pássaros do pântano.
Escrevo
no grande espaço obscuro
que somos e nos inunda.
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
o voo da pedra.
Antecipação da paz
neste país de granadas
moldadas
no silêncio dos frutos.
Escrevo como quem escava
no bojo da sombra
um mar de claridade.
Pedras vivas de possibilidade,
as palavras levantam
o crime, os pássaros do pântano.
Escrevo
no grande espaço obscuro
que somos e nos inunda.
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 18 de março de 2011
ascese - VASCO GRAÇA MOURA
asa que se vinga
do fim da viagem,
restos de carlinga
e de fuselagem,
a curva que swinga
como uma miragem,
cresce, minga, ginga,
no passar da aragem,
quando o voo tende
ao que na espiral
do olhar acende
o salto mortal
em que ao céu se prende
mas na vertical.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
do fim da viagem,
restos de carlinga
e de fuselagem,
a curva que swinga
como uma miragem,
cresce, minga, ginga,
no passar da aragem,
quando o voo tende
ao que na espiral
do olhar acende
o salto mortal
em que ao céu se prende
mas na vertical.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
quinta-feira, 17 de março de 2011
Arte final - DINIS H. G. NUNES
a última luz do dia
anuncia
as ameaças de toda uma vida:
uma bela tarde levar-te-ei ao cimo do monte
e de lá subirás aos céus
mas isso é mentira
esse é privilégio de deus
a mim, resta-me ficar cadáver no monte
até que as aves me levem
nas mandíbulas do destino
além do horizonte.
EM - AVRYL - DINIS H. G. NUNES - POPSUL
anuncia
as ameaças de toda uma vida:
uma bela tarde levar-te-ei ao cimo do monte
e de lá subirás aos céus
mas isso é mentira
esse é privilégio de deus
a mim, resta-me ficar cadáver no monte
até que as aves me levem
nas mandíbulas do destino
além do horizonte.
EM - AVRYL - DINIS H. G. NUNES - POPSUL
quarta-feira, 16 de março de 2011
Fiz um colar de palavras* - ALEXANDRINA PEREIRA
Fiz um colar de palavras
e enfeitei-me.
O espelho quebrou-se.
As minhas mãos
cansadas de prosas
alongavam-se
como estradas sinuosas
ocultas
como se procurassem
um poema.
Apenas um...
Aquele que escrevi
no dia
em que amei o Mundo.
EM - INSUBMISSÃO DOS SENTIDOS - ALEXANDRINA PEREIRA - TEMAS ORIGINAIS
e enfeitei-me.
O espelho quebrou-se.
As minhas mãos
cansadas de prosas
alongavam-se
como estradas sinuosas
ocultas
como se procurassem
um poema.
Apenas um...
Aquele que escrevi
no dia
em que amei o Mundo.
EM - INSUBMISSÃO DOS SENTIDOS - ALEXANDRINA PEREIRA - TEMAS ORIGINAIS
terça-feira, 15 de março de 2011
Na despedida... - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO
Na hora da despedida,
Fica o beijo mais intenso,
Com o coração suspenso,
No momento da partida.
Forte a emoção sentida,
Num enlace de consenso,
Eu direi que te pertenço,
P'ra sempre, p'ra toda a vida.
Na despedida... adeus não,
Que o desejo é regressar
Logo, logo muito em breve,
Nos invade a comoção,
Se embala o olhar,
E a voz, s'embarga ao de leve...
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
Fica o beijo mais intenso,
Com o coração suspenso,
No momento da partida.
Forte a emoção sentida,
Num enlace de consenso,
Eu direi que te pertenço,
P'ra sempre, p'ra toda a vida.
Na despedida... adeus não,
Que o desejo é regressar
Logo, logo muito em breve,
Nos invade a comoção,
Se embala o olhar,
E a voz, s'embarga ao de leve...
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
segunda-feira, 14 de março de 2011
15 - GLEIDSTON CÉSAR
As palavras surgiram no último instante
Não houve ausência, por haver confiança.
Ainda se mantém o afecto, a paixão...
Os sentimentos deram lugar às atitudes
Por isso pressinto a delicadeza.
Nossos feitos têm uma chama autêntica
Não assemelho a grandeza do sentimento.
Defronte desse amor, enlaço o mar,
E envolvo-te em meus braços.
Nossa essência se afirma nas virtudes dos afectos.
EM - OS SENTIMENTOS POR DETRÁS DAS PALAVRAS - GLEIDSTON CÉSAR - TEMAS ORIGINAIS
Não houve ausência, por haver confiança.
Ainda se mantém o afecto, a paixão...
Os sentimentos deram lugar às atitudes
Por isso pressinto a delicadeza.
Nossos feitos têm uma chama autêntica
Não assemelho a grandeza do sentimento.
Defronte desse amor, enlaço o mar,
E envolvo-te em meus braços.
Nossa essência se afirma nas virtudes dos afectos.
EM - OS SENTIMENTOS POR DETRÁS DAS PALAVRAS - GLEIDSTON CÉSAR - TEMAS ORIGINAIS
domingo, 13 de março de 2011
síntese - GONÇALO B. DE SOUSA
caminha sempre sem medo,
sabendo que estás no sítio certo
e no tempo certo para tudo.
carrega somente o Amor
no peito sereno, e o olhar
nunca se aparte da estrela Polar;
a direita sob a Cassiopeia
e o coração elevado
como a montanha, além.
o corpo irá aonde puder,
sobre ele, a eterna ave
transparente, vela. o Mundo
é o teu secreto e partilhado jardim.
EM - CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALO B. DE SOUSA - TEMAS ORIGINAIS
sabendo que estás no sítio certo
e no tempo certo para tudo.
carrega somente o Amor
no peito sereno, e o olhar
nunca se aparte da estrela Polar;
a direita sob a Cassiopeia
e o coração elevado
como a montanha, além.
o corpo irá aonde puder,
sobre ele, a eterna ave
transparente, vela. o Mundo
é o teu secreto e partilhado jardim.
EM - CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALO B. DE SOUSA - TEMAS ORIGINAIS
sábado, 12 de março de 2011
Ó prisioneira...* - ANTÓNIO RAMOS ROSA
Ó prisioneira de um imóvel pássaro
e teu reino é branco sob uma coroa do silêncio
o teu nome é a tua própria respiração
O teu quarto é uma imagem mas é também uma pedra
As tuas pálpebras são irrigadas pelas falanges da chuva
Num lado tu desvias e separas
no outro situas e reúnes
A íris escuta sob a íris
o horizonte divisa-se através das árvores
os círculos esvaziam-se dos seus nomes
o vazio multiplica os elos do vazio
EM - DELTA /PELA PRIMEIRA VEZ - ANTÓNIO RAMOS ROSA - QUETZAL
e teu reino é branco sob uma coroa do silêncio
o teu nome é a tua própria respiração
O teu quarto é uma imagem mas é também uma pedra
As tuas pálpebras são irrigadas pelas falanges da chuva
Num lado tu desvias e separas
no outro situas e reúnes
A íris escuta sob a íris
o horizonte divisa-se através das árvores
os círculos esvaziam-se dos seus nomes
o vazio multiplica os elos do vazio
EM - DELTA /PELA PRIMEIRA VEZ - ANTÓNIO RAMOS ROSA - QUETZAL
sexta-feira, 11 de março de 2011
Ignoto deo - ANTERO DE QUENTAL
Que beleza mortal se te assemelha,
Ó sonhada visão desta alma ardente,
Que reflectes em mim teu brilho ingente,
Lá como sobre o mar o sol se espelha?
O mundo é grande - e esta ânsia me aconselha
A buscar-te na terra: e eu, pobre crente,
Pelo mundo procuro um Deus clemente,
Mas a ara só lhe encontro... nua e velha...
Não é mortal o que eu em ti adoro.
Que és tu aqui? olhar de piedade,
Gota de mel em taça de venenos...
Pura essência das lágrimas que choro
E sonho dos meus sonhos! Se és verdade,
Descobre-te, visão, no céu ao menos!
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
Ó sonhada visão desta alma ardente,
Que reflectes em mim teu brilho ingente,
Lá como sobre o mar o sol se espelha?
O mundo é grande - e esta ânsia me aconselha
A buscar-te na terra: e eu, pobre crente,
Pelo mundo procuro um Deus clemente,
Mas a ara só lhe encontro... nua e velha...
Não é mortal o que eu em ti adoro.
Que és tu aqui? olhar de piedade,
Gota de mel em taça de venenos...
Pura essência das lágrimas que choro
E sonho dos meus sonhos! Se és verdade,
Descobre-te, visão, no céu ao menos!
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
quinta-feira, 10 de março de 2011
Crime perfeito - TERESA M. G. JARDIM
O meu gato branco gosta de brincar
com os papéis amachucados
que deito no lixo. Tira-os do caixote
e esconde-os no odor dos ratos, nos vasos
de flores, pelo quintal. Já fiz desaparecer
muitos poemas que não gostava
assim, sem indícios.
EM - JOGOS RADICAIS - TERESA M- G. JARDIM - ASSÍRIO & ALVIM
com os papéis amachucados
que deito no lixo. Tira-os do caixote
e esconde-os no odor dos ratos, nos vasos
de flores, pelo quintal. Já fiz desaparecer
muitos poemas que não gostava
assim, sem indícios.
EM - JOGOS RADICAIS - TERESA M- G. JARDIM - ASSÍRIO & ALVIM
quarta-feira, 9 de março de 2011
A palavra - CASIMIRO DE BRITO
Mordo a palavra e dispo-a
de pó. Sorvo seus rios de sangue
e nela me reclino, e nela se demora
o azul do sol, os dedos submissos
da lama, a luz, o perfil silencioso
de um pequeno animal
parindo, na relva, quase desfeito.
A palavra bebo, a palavra equilibro
no vinho dos olhos, na húmida
cadência da noite. E outras cores
se abrem. E outros sons amanhecem.
E o poema se desprende, vivo e aberto.
Inviolado.
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
de pó. Sorvo seus rios de sangue
e nela me reclino, e nela se demora
o azul do sol, os dedos submissos
da lama, a luz, o perfil silencioso
de um pequeno animal
parindo, na relva, quase desfeito.
A palavra bebo, a palavra equilibro
no vinho dos olhos, na húmida
cadência da noite. E outras cores
se abrem. E outros sons amanhecem.
E o poema se desprende, vivo e aberto.
Inviolado.
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 8 de março de 2011
Oitavas da oficina - VASCO GRAÇA MOURA
canto o rebite, o cravo, a dobradiça,
a luz coada junto das limalhas,
o alicate, a grade onde se eriça
um animal de pregos e cisalhas.
canto a chapa dobrada ou inteiriça,
o rigor milimétrico das calhas.
canto a paz mineral deste recinto
da dura criação. no labirinto
habita o minotauro, o que devora
no mais fundo do antro materiais
que despedaça à serra e à tesourada
e agrega depois noutros sinais,
o monstro vagaroso que elabora
a dúctil lentidão dos seus metais
e nas formas que engendra tem ofício
de conjugar silêncio e desperdício.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
a luz coada junto das limalhas,
o alicate, a grade onde se eriça
um animal de pregos e cisalhas.
canto a chapa dobrada ou inteiriça,
o rigor milimétrico das calhas.
canto a paz mineral deste recinto
da dura criação. no labirinto
habita o minotauro, o que devora
no mais fundo do antro materiais
que despedaça à serra e à tesourada
e agrega depois noutros sinais,
o monstro vagaroso que elabora
a dúctil lentidão dos seus metais
e nas formas que engendra tem ofício
de conjugar silêncio e desperdício.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
segunda-feira, 7 de março de 2011
A revolução foice - DINIS H. G. NUNES
a revolução é nossa, gritaram os puros
não, a revolução é nossa, disseram uns energúmenos
é nossa a revolução, insistiram outros matreiros
afinal, de quem é a revolução?
de todos menos de quem precisa, pelos vistos
e, na algazarra, a revolução foice.
EM - AVRYL - DINIS H. G. NUNES - POPSUL
não, a revolução é nossa, disseram uns energúmenos
é nossa a revolução, insistiram outros matreiros
afinal, de quem é a revolução?
de todos menos de quem precisa, pelos vistos
e, na algazarra, a revolução foice.
EM - AVRYL - DINIS H. G. NUNES - POPSUL
domingo, 6 de março de 2011
Aglutinados* - ALEXANDRINA PEREIRA
Aglutinados
os olhares inquietos
procuravam a luz
na inércia dos sentidos.
Os silêncios
vestiram-se de Inverno
inventando glaciares
que tinham a forma
do coração do Homem.
EM - INSUBMISSÃO DOS SENTIDOS - ALEXANDRINA PEREIRA - TEMAS ORIGINAIS
os olhares inquietos
procuravam a luz
na inércia dos sentidos.
Os silêncios
vestiram-se de Inverno
inventando glaciares
que tinham a forma
do coração do Homem.
EM - INSUBMISSÃO DOS SENTIDOS - ALEXANDRINA PEREIRA - TEMAS ORIGINAIS
sábado, 5 de março de 2011
Lagos... - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO
Lagos, terra de eleição,
Onde o progresso domina
Na tua urbanização,
E a tua bela «marina».
Uma beleza que são
As praias de areia fina,
Onde, ondas vêm e vão...
Do mar que não se amofina.
Antes te envolve a preceito,
Te namora com tal jeito,
P'ra sempre tua glória...
S. Gonçalo te protege,
D. Sebastião... te rege,
E o «povo» te fez a História...
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
Onde o progresso domina
Na tua urbanização,
E a tua bela «marina».
Uma beleza que são
As praias de areia fina,
Onde, ondas vêm e vão...
Do mar que não se amofina.
Antes te envolve a preceito,
Te namora com tal jeito,
P'ra sempre tua glória...
S. Gonçalo te protege,
D. Sebastião... te rege,
E o «povo» te fez a História...
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 4 de março de 2011
11 - GLEIDSTON CÉSAR
Em cada amanhecer se renova o desejo,
Se afirmam os votos e ganham vida os sonhos.
A caminhada ao seu lado torna a
Dor suportável, a solidão resistível.
Nos abraços encontrei meu oásis.
A segurança que contigo tenho me
Torna imbatível para meus desafios.
O sol tem brilho a lua claridade
Os dias têm vida os sorrisos têm
Liberdade, as lágrimas têm
Compaixão, e o diálogo tem
Compreensão.
EM - OS SENTIMENTOS POR DETRÁS DAS PALAVRAS - GLEIDSTON CÉSAR - TEMAS ORIGINAIS
Se afirmam os votos e ganham vida os sonhos.
A caminhada ao seu lado torna a
Dor suportável, a solidão resistível.
Nos abraços encontrei meu oásis.
A segurança que contigo tenho me
Torna imbatível para meus desafios.
O sol tem brilho a lua claridade
Os dias têm vida os sorrisos têm
Liberdade, as lágrimas têm
Compaixão, e o diálogo tem
Compreensão.
EM - OS SENTIMENTOS POR DETRÁS DAS PALAVRAS - GLEIDSTON CÉSAR - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 3 de março de 2011
eternidade - GONÇALO B. DE SOUSA
junto a ti esplende a Vida.
tudo ganha sentido: o mar, o bosque e nós.
num instante. a Eternidade.
EM - CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALO B. DE SOUSA - TEMAS ORIGINAIS
tudo ganha sentido: o mar, o bosque e nós.
num instante. a Eternidade.
EM - CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALO B. DE SOUSA - TEMAS ORIGINAIS
quarta-feira, 2 de março de 2011
O ignorante absoluto...* - ANTÓNIO RAMOS ROSA
O ignorante absoluto o imóvel nómada
no imponderável acorde da deriva da terra
com as velas do sangue voltadas para o mar
na incendiada inércia da sombra como um fruto
ouve o único canto que nunca se repete
e os lúcidos animais acaçapados
por detrás de arbustos invisíveis
A sua lucidez é o abandono às marés sem margens
e a sua sabedoria uma distracção que o conduz ao centro
EM - DELTA/PELA PRIMEIRA VEZ - ANTÓNIO RAMOS ROSA - QUETZAL
no imponderável acorde da deriva da terra
com as velas do sangue voltadas para o mar
na incendiada inércia da sombra como um fruto
ouve o único canto que nunca se repete
e os lúcidos animais acaçapados
por detrás de arbustos invisíveis
A sua lucidez é o abandono às marés sem margens
e a sua sabedoria uma distracção que o conduz ao centro
EM - DELTA/PELA PRIMEIRA VEZ - ANTÓNIO RAMOS ROSA - QUETZAL
terça-feira, 1 de março de 2011
Suicídio e paixão - EDUARDA CHIOTE
Metáforas, porquê?
"A definição de um homem
não pertence ao homem"
tal como a do insecto escavador
ao pólen,
meus lábios sem diálogo, meu amuo
tão frágil,
tão menino!
Deixa sobre eles poisar o seio.
A morte.
Deixa, pois, e em silêncio,
a palavra infantil
cumprir
o seu destino.
EM - NÃO ME MORRAS - EDUARDA CHIOTE - &ETC
"A definição de um homem
não pertence ao homem"
tal como a do insecto escavador
ao pólen,
meus lábios sem diálogo, meu amuo
tão frágil,
tão menino!
Deixa sobre eles poisar o seio.
A morte.
Deixa, pois, e em silêncio,
a palavra infantil
cumprir
o seu destino.
EM - NÃO ME MORRAS - EDUARDA CHIOTE - &ETC
Subscrever:
Mensagens (Atom)