sábado, 31 de maio de 2014

Como se te chamasse - JOÃO MANUEL RIBEIRO

Passo tantas vezes à tua porta de bicicleta
e toco a campainha (como se te chamasse)
o teu gato preto no parapeito da janela
ergue a cabeça rosna qualquer poema mudo
e volta aos seus devaneios eu pedalo
sem receio de que demores sei que virás
com as heras e com o movimento dos astros
habituei os pés a tropeçar no rasto do silêncio
e as mãos a reconhecer o advento dos musgos
pedalo e a bicicleta é o meu cavalo alado

EM - AMO-TE - JOÃO MANUEL RIBEIRO - TRINTA POR UMA LINHA

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sequestro - MARIA TERESA HORTA

Ah! a tua
língua

Alongada na sua
trança
de saliva branda

Tão ácida
tão meiga

na minha anca

EM - AS PALAVRAS DO CORPO - MARIA TERESA HORTA - DOM QUIXOTE

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Canção infantil - EUGÉNIO DE ANDRADE

Era um amieiro.
Depois uma azenha.
E junto
um ribeiro.

Tudo tão parado.
Que devia fazer?
Meti tudo no bolso
para os não perder.

EM - PRIMEIROS POEMAS... - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Faltas-me - GONÇALO LOBO PINHEIRO

continuo a perguntar por ti ao tempo.

haverá ainda tempo e aquela nossa brisa
que se ria para nós quando nos abraçávamos?

gostava de ser outra pessoa para assim
não permanecer na calçada deste beco sem saída.

permaneço acorrentado
agarrado às paredes e amarrotado por dentro.

faltas-me na vida,
concluo agora tarde, será?

EM - SOFÁ DE ILUSÕES - GONÇALO LOBO PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS

terça-feira, 27 de maio de 2014

Salada russa com maionese - NUNO JÚDICE

Cortadas em pedaços, batatas e cenouras
acrescentam-se a ervilhas e feijão-verde. Depois
de pôr o atum em posta, pode temperar-se
com azeite ou juntar maionese. A natureza
que separou cada pedaço desta salada, não
faz parte da ementa, e o resultado
leva-nos a pensar que não é um acaso
a forma como os sabores se juntam,
embora o creme da maionese possa
fazer com que se abstraia das cores
do conjunto. Uma galáxia de sensações
enrola-nos neste espaço; e o frasco
da maionese roda como a cabeça
de um cometa, enquanto, num intervalo
filosófico, comemos a salada.

EM - GUIA DE CONCEITOS BÁSICOS - NUNO JÚDICE - DOM QUIXOTE

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Diógenes vs Alexandre - ANTÓNIO GIL

Leva daqui o momento
que tua presença perturba
e com ele, leva a turba
que profanou meu silêncio

e se te puderes afastar
antes do dia que tomba
leva também tua sombra
que me rouba a luz solar

ah, e apaga se possível
as marcas desta aventura
esfumando-se em noite escura
no céu de um sonho impossível

EM - OBRA AO RUBRO - ANTÓNIO GIL - LUA DE MARFIM

domingo, 25 de maio de 2014

Palavra - VIRGÍLIO CARNEIRO

Grande palavra a palavra pequena!
Grandes palavras de curto sentido...
Mas as pequenas não fazem ruído,
Ouve-se a ideia de forma serena!

Buscam os homens os longos vocábulos
Para fingirem um grande saber!
Pobres coitados, haveis de morrer
Tão ignorantes e cegos incrédulos!

Deus tem a chave do grande Universo;
Pai, é raiz contra o tempo perverso;
Mãe, terno berço da vida, emoção!...

Fé, pão, paz, lar... não há quem não entenda!
E só por mágica crua e horrenda
Se troca o que é por um cínico não!

EM - SONETOS SEM CHAVE E OUTRAS MÁGOAS - VIRGÍLIO CARNEIRO - EDITORIAL NOVEMBRO

sábado, 24 de maio de 2014

Coração - HELENA ISABEL

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Habitas nele
Lá... naquele recanto
És ar que o purifica.
És a onda que o agita.
És batida que o permanece ligado à vida.
És o meu encanto.
Árvore do meu campo.
Tulipa do meu jardim.
Seiva das minhas veias.
Pulmão dentro de mim!

EM - MAR QUE ME ESCREVE - HELENA ISABEL - CHIADO EDITORA

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Gaivota amiga - JOSÉ LUÍS OUTONO

... esperei em vão por ti
E apenas vi a sombra triangular
Da gaivota amiga.

... sorri no meu inquietar
Beijei-a com uma fotografia
E voou para o céu.

... voltou ao poiso do meu devaneio
e segredou-me...
Se ela não vier vou buscá-la!

EM - MAR DE SENTIDOS - JOSÉ LUÍS OUTONO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Fábula - JOSÉ CRAVEIRINHA

Menino gordo comprou um balão
e assoprou
assoprou com força o balão amarelo.

Menino gordo assoprou
assoprou
assoprou
o balão inchou
inchou
e rebentou!

Meninos magros apanharam os restos
e fizeram balõezinhos.

EM - OBRA POÉTICA I - JOSÉ CRAVEIRINHA - CAMINHO

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Momento perfeito - JOÃO CARLOS ESTEVES

manhã.

brisa suave vestida de luz
num momento com o sabor de um beijo

um café fumegante
acorda-me o dia
e acende-me aromas de terras distantes

ao meu lado
observas o mar indolente
e enches-me o horizonte

EM - INVENTEI-TE AS MANHÃS - JOÃO CARLOS ESTEVES - CHIADO EDITORA

terça-feira, 20 de maio de 2014

Dia de mar aceso... - AMÉLIA VIEIRA

Dia de mar aceso nas lâminas deste nada.
Enorme oceano que se estende.
Rios de brumosas torrentes.
Em círculo lunar fomos vencidos, à hora sexta, num crístico estar de mitos.
Por isso a nossa busca faz-se e concretiza-se - Cabala de véus - rosas marinhas - a nossa consciência é um potro que caminha.
O percurso alonga-se, galgando cabalino ser o lado do presente.
O caminho sou eu, querido Perseu, incendiando o que me promete a mente!

EM - REVELAÇÕES SOLARES - AMÉLIA VIEIRA - VEGA

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Navegar... - CECÍLIA VILAS BOAS

Hoje, madrugada transparente e brilhante,
Fiz-me ao mar, na caravela da vida.

Velas brancas, fazem o barco navegar rápido,
Sinto o vento nos meus cabelos, que me afaga, levemente
Olho o céu, beleza azul que se mistura com o oceano
O sol cumprimenta-me e acompanha a viagem.

As gaivotas em voos calmos, sobrevoam o meu sentir.
Navego, sem rumo, fecho os olhos, cheiro o mar
Ouço o silêncio e desejo permanecer.

Absorta, imprimo na alma este beleza natural
Voltarei, ficarei, só o meu desejo ditará.

EM - ÂMBAR E MEL - CECÍLIA VILAS BOAS - CHIADO EDITORA

domingo, 18 de maio de 2014

Versos do prisioneiro(1) - MIA COUTO

Deixei de rezar.

Nas paredes
rabiscadas de obscenidades
nenhum santo me escuta.

Deus vive só
e eu sou o único
que toca a sua infinita lágrima.

Deixei de rezar.

Deus está numa outra prisão.

EM - IDADES CIDADES DIVINDADES - MIA COUTO - CAMINHO

sábado, 17 de maio de 2014

Madrugada - LÍLIA TAVARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Madrugada. Sim, e as palavras por companhia.
Sinto-me despida de mim quando releio os poemas
que vou apartando como ovelhas a balir
antes de se acalmarem no abrigo.
Sim, desabrigada me vejo ao destapar
o véu dos meus versos. Mas leve cai a calma
sobre eles como um lenço branco de cambraia...

EM - PARTO COM OS VENTOS - LÍLIA TAVARES - KREAMUS

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Novo respirar - EMANUEL LOMELINO

O ar que inspiro em golfadas urgentes
queima-me os pulmões calcinados
pelas respirações da outra existência.
As velhas cicatrizes ainda não sararam
e as dores teimam em marcar presença.
Cerro os dentes na eterna esperança
que toda a fúria deste novo respirar
seja o reinício que a vida me prometeu.

EM - NOVO RESPIRAR - EMANUEL LOMELINO - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Febre - MARIA FÁTIMA SOARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Arde-me a boca, com falta da tua
dói-me a pele nua,
como a terra, seca à planta
Não sei que mais faça...
Não sei.
Definho.
Mas consigo ficar no meu caminho.
Sem brilho. Amor. Sozinho.
Consigo aniquilar-me
tão bem...
Quando me arde a boca,
me dói a pele
estou mais além,
de tudo. Onde...
Não há terra de que brote flor,
de seca.
Como está a minha boca.
Me está a pele... Seca!
De amor!

EM - JOGOS DE ÁGUA SERENA - MARIA FÁTIMA SOARES - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 14 de maio de 2014

13 - VICTOR OLIVEIRA MATEUS

Toda a noite a lua
dançou dançou na orla do palmeiral. Seus braços de fina prata revestiam de brilho o vermelho da terra; armadilha de astro cego na desordem do mundo.
E toda a noite ela saltou, rodopiou, encenou a mais estranha coreografia no silêncio eloquente dos céus. Inconstante lua. Dissimulada. Vai-te imagem de mil abismos - tu que a tantos enredas com tuas múltiplas faces. Vai-te. Vai-te sinal do efémero, maga do instante . tu que na vida dos homens, sempre que queres, entras e sais. Vai-te e não voltes mais.

EM - PELO DESERTO AS MINHAS MÃOS - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - COISAS DE LER

terça-feira, 13 de maio de 2014

Volto a um lugar gémeo da memória - GRAÇA PIRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Volto a um lugar gémeo da memória
e retenho um diálogo a dançar-me nos lábios:
amo-te como no tempo em que o meu corpo era uma ilha
e nenhuma palavra me parecia intrusa dentro da tua boca.
Amo-te. vejo na tua face a pátria e o exílio
onde, simultaneamente, me sinto.
Chamo-te a minha fuga, asas desenhadas no meu riso.

Direi o fascínio que sobrou do gosto das cerejas
e lembrarei, devagar, o culto da sedução e dos abraços.
Conta-me, meu amor, o sabor do pão na tua boca.
Conta-mo com adjectivos sôfregos e claros,
para que a minha sede invente o vinho novo,
no cântaro onde a terra ausculta todos os regatos.

EM - POEMAS ESCOLHIDOS 1990/2011 - GRAÇA PIRES - EDIÇÃO DE AUTOR

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pureza - SÍLVIA SILVA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Tanta saudade,
Tanta alegria
Tantos estilhaços de optimismo;
É tão forte!
E é tão vivo...
É a única certeza
Deram-me, simplesmente...
A maior pureza!
De um novo sentimento.

EM - SONHOS DE PRATA E OURO - SÍLVIA SILVA - UNIVERSUS

domingo, 11 de maio de 2014

Olhem o balão - GABRIELA PAIS

Andam balões no ar
distraídos no folguedo
rodopiam até estoirar
e acaba o brinquedo.

Andam cabeças para o ar viradas
que se parecem com a criançada,
estas têm sonhos, outras... gaitadas,
mas que desmedida palhaçada.

Ó meninos olhem pro balão...
É de graça ainda não se paga taxa,
mas se pensam... é dinheiro em caixa.

EM - CASTELO DE LETRAS - GABRIELA PAIS - LUA DE MARFIM

sábado, 10 de maio de 2014

Ainda - ANTÓNIO MR MARTINS

Ainda
O tempo nos destinava
O destino que nos rendia

Ainda
A razão não contemplava
A situação que nos sorria

Ainda
A Lua manobrava
O sossego de quem dormia

Ainda
A noite desbravava
O ocaso para mais um dia

Ainda
O Sol não brilhava
Com a luz que nos alumia

Ainda
A amanhã não chegava
Já o futuro nos unia

EM - MARGEM DO SER - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Quem fala - ANTÓNIO RAMOS ROSA

Quem fala
não sou eu
é o outro o que me expulsou
da concha do meu sol

É ele que caminha nos meus passos
e eu olho-o e esqueço-o
Quem pode suportar em reflexo?
Quem pode viver contra o seu duplo?

Eu digo eu ainda
mas sou eu que declino
sou eu que caio
com a ferida do sol que ele me arrancou

EM - NUMA FOLHA LEVE E LIVRE - ANTÓNIO RAMOS ROSA - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O grito - MARIA ROSA MARQUES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Num grito de tanta dor
amarfalhada no peito
sem uma palavra de amor
um sonho na alma desfeito
só a chuva que abundante cai
ma esconde na escuridão
com esta saudade
que em mim desliza
sem piedade...
e mesmo na solidão
jamais se vai

Dor que rasgas meu coração
apertas, sufocas, sem compaixão

Num tormento caminho
sem destino nem guarida
renascer, eu queria
noutro mundo, noutra vida

EM - RENASCER - MARIA ROSA MARQUES - EDIÇÕES OZ

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Tu não precisas dos livros dos sábios - EDUARDO ALEIXO

Tu não precisas dos livros dos sábios
Para vires falar sobre o voo das gaivotas
Nem sobre o escoar leve das areias finas
Pelos dedos das tuas mãos
Nem sobre o azul do céu e das ondas do mar!
E não precisas,
Porque tudo está nos teus olhos,
Nas tuas mãos,
Na pele do teu corpo,
Pincel mágico
Que pintou o quadro vivo do poema.

EM - OS CAMINHOS DO SILÊNCIO - EDUARDO ALEIXO - CHIADO EDITORA

terça-feira, 6 de maio de 2014

XXIX - SÉRGIO FRANCLIM

Duas moedas para o barqueiro
E um sonho para renascer...

A noite turva-se como sempre
Na escuridão do cansaço.
Minha alma alarga-se no Obscuro,
E conquisto o terror dos mistérios.

Morrerei! E serei sempre outro,
Não tendo nada mais
Do que duas moedas para o barqueiro.
Atravessarei o rio dos Infernos,
Esperando tirar do leito infernal
O plano de Deus - o desejo
De renascer, de ser outro e de nada ter.

Duas moedas sobre os meus olhos -
Duas moedas para o barqueiro.

EM - ETERNO VIAJANTE - SÉRGIO FRANCLIM - MINISTÉRIO DOS LIVROS EDITORES

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A rosa de Horoshima - VINICIUS DE MORAES

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa sem cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - VINICIUS DE MORAES - DOM QUIXOTE

domingo, 4 de maio de 2014

Quero guardar no interior das mãos* - GRAÇA PIRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Quero guardar no interior das mãos
a esquiva cintilância das manhãs inadiadas.
Quero palavras com punhais de raiva
a ferir o grito dos cumes,
a riscar o ventre da neve com minuciosas unhas.
E viro do avesso o manto do olhar
para chegar à Montanha Mágica
quando Hans Castorp fazia um esforço
para ver e deparava com o nada,
o remoinho branco do nada.

EM - POEMAS ESCOLHIDOS 1990/2011 - GRAÇA PIRES - EDIÇÃO DE AUTOR

sábado, 3 de maio de 2014

Campo de batalha - MARIA FÁTIMA SOARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Não vou exumar mortos,
nem cortar pulsos,
não vou dizer obscenidades
engolir mais atrocidades,
ou penas.
Sou um campo de batalha,
duma urna, uma mortalha
sou do lume um acendalha
e sou minha, tua, de quem me quiser
Porque escrevo!
Ao fazê-lo,
deixo de ser só de nós,
para passar a ser do povo
sem deixar de ser mulher.
De génio vincado.
Ar determinado
Que não se dá... A qualquer!

EM - JOGOS DE ÁGUA SERENA - MARIA FÁTIMA SOARES - LUA DE MARFIM

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A declaração - SÍLVIA SILVA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Reúnes tudo o que quero, o que pedi...
É sincero!
O que sinto;
Fazes o meu ser e mundo!
Cair a teus pés...
Faças o que fizeres, ajas como agires
Continuarás a ser como considero...
A beleza dos meu olhos.

EM - SONHOS DE PRATA E OURO - SÍLVIA SILVA - UNIVERSUS

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O amor voa - GABRIELA PAIS

O amor voa sem embaraço
no peito e sente-o pulsar
coração vive o cansaço
de correr para o agarrar.

Acha-se rei a blasonar
o encanto de passo a passo
o amor voa sem embaraço
no peito sente-o pulsar.

O amor deseja pedaço
da ternura de um olhar
arrulha, dá-lhe regaço
partir o laço e abismar
o amor voa sem embaraço.

EM - CASTELO DE LETRAS - GABRIELA PAIS - LUA DE MARFIM