domingo, 31 de janeiro de 2010

Todos partem* - XAVIER ZARCO


Prémio de poesia Raúl de Carvalho, 2005

todos partem

emoldura-se de pó
a distância

uma lágrima
cumpre o seu mistério
descendente

quem regressa
serenamente aguarda
a estação das colheitas

conjuga as cinzas
com o verbo da terra

in... O livro do regresso - XAVIER ZARCO - Edium Editores

* os poemas deste livro não são titulados. Utilizei o primeiro verso como titulo por uma questão logística. 

sábado, 30 de janeiro de 2010

Se pudesse... - MARIA CARMEN LINO



Se pudesse ser um pássaro
Queria ser andorinha
Porque seria sinal
De que a Primavera vinha
Se pudesse ser um peixe
Queria ser sardinha
Assim seria feliz
Pois todo o pobre me tinha
Se pudesse ser um cão
"Labrador" queria ser
Pois seria para o dono
Uma doce companhia
Se pudesse ser um gato
Qualquer raça me servia
Pois é tão especial
Que até tem telepatia
Pudesse eu ser animal
Que vivesse na floresta
Quereria ser gazela
É ágil e graciosa
Toda a gente gosta dela
E se pudesse ser flor?
Escolheria ser rosa
Pois embora tenha espinhos
É perfumada e formosa
Se pudesse ser insecto
Queria ser borboleta
Que é bela e colorida
Pela flor apetecida
Pudesse eu ter sido árvore
Quem me dera ser pinheiro
Sempre forte e aprumado
Da pardalada hospedeiro...
.........................
Só não queria ser réptil
Enguia ou camaleão
Nem lesma nem tubarão.
Ah! Querem saber porquê?
Descubram lá a razão...

in... Ensaios em dó menor - MARIA CARMEN LINO - Edium Editores

Aconselho todos os amigos e amigas a lerem o artigo sobre poesia que o DN publicou hoje e onde a nossa querida MARIA PAULA RAPOSO é uma das quatro referências da poesia portuguesa contemporânea.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ela no meu olhar - ALFREDO GUISADO



Os meus olhos são Índias de segredos.
É Portugal seu Corpo esguio e brando.
E as cinco quinas, seus compridos dedos
Em suas mãos, bandeiras tremulando.

Seus gestos lembram lanças. E ela passa...
Seu perfil de princesa faz lembrar
Batalhas que travaram ao luar,
Epopeia-marfim da minha Raça.

O seu olhar é tão doente e triste
Que me parece bem que não existe
Maior mistério do que o de prendê-lo.

Nos meus sentidos vive o seu sentir
E, às vezes, quando chora, põe-se a ouvir
Seu coração, velhinho do Restelo.

in... Cem poemas portugueses sobre Portugal e o Mar - Antologia - Terramar

Site da editora aqui.http://www.terramar.pt/

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Poema em jazz - JOSÉ GIL




vou-me embora
para Angola

tenho o Tejo na mão
e espelhos no chão
do meu coração

vou-me embora
posso fazer-me barco
criar vela de lençol

será que sou anzol
e vivo sem rol
da minha própria
perdida/Que sorria?

sou deriva
quero amanhecer
quando me tecer
na tua voz de diva

e em Angola amada
ser terra beijada
no sangue derramada
a pele, que viva
da mãe, África
na fábrica

vou-me embora
vou na hora
te amo amada
sem desforra

in... Factura possível - JOSÉ GIL - Edium Editores

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

TU ÉS - MARIA PAULA RAPOSO




Tu és o poeta
Que me beija os silêncios
E adivinha
As minhas palavras
E se as não escrevo
Tu as memorizas
Nos teus poemas,
És tu o poeta
Que enlaça os meus desejos
E perscruta
O meu pensamento,
Mil vezes delirante
Mil tantas outras vezes
Colorido de façanhas,
Tu és o meu poeta
Das cores e dos sons
E te entrelaças
No rio que corre em mim
E é na tua foz que
Desagua o poema
Que a mim dedicas!

in... Nevou este Verão - MARIA PAULA RAPOSO - Apenas Livros

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O poeta que ama - LUIS FERREIRA



Amo...
Quando o poeta sente,
Celestial momento que adormece
Todo o meu corpo embriagado
Deste sentimento puro,
Oriundo de ti.
Iluminas a minha vida
Com o teu olhar...
A perfeição nasce nos teus passos
Germinando a inspiração das palavras,
De letras banhadas em paixão.
Escrevo...
Porque sinto... mais,
Cada vez mais,
Elevo pensamentos, em sonhos
Seguindo o eco do teu rasto,
Tornando-o o meu destino.
Em ti, rebentam flores,
No perfume da tua pele
Deslumbrando o meu universo,
Do sentimento que se vive.
Na tua beleza, me rendo
Um amor que me envolve,
Gestos imortais que purificam
Na plenitude de um abraço.
Lábios entre os lábios,
Beijo aceso,
Quente... de sabor único
Bate fortemente o coração
O mundo parou
Fico anestesiado
E nada mais existe
Além de nós...

in... Momentos... - LUIS FERREIRA - Temas Originais

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Navio - CARLOS QUEIROZ




Afastava-se o navio.- Como era
Tão grande, junto ao cais, quando esperava
A hora da partida, que eu julgava
Impossível passar de eterna espera!

Afasta-se... Bem vejo que acelera
A marcha, que uma súplica não trava.
- É inútil ficares, minh'alma, escrava
Da sensação que as águas dilacera.

Que importa que se afaste?! O que é pior,
É lembrar-nos a nossa pequenez,
Quando se torna cada vez menor...

Dilui-se, pouco a pouco, a nitidez;
Mas deixa, como um rastro, a eterna dor
Do homem - e de tudo quanto fez.

in... Cem sonetos portugueses - Antologia - Terramar

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domingo, 24 de janeiro de 2010

Amar os animais - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO




Amar os animais é um sentimento
D'amor, de compaixão e de respeito,
Não basta assegurar o alimento,
Carecem de atenção de qualquer jeito.

São seres que também sentem sofrimento
Se forem tratados com desrespeito,
Com ódio, desamor ou desalento,
Só querem ser amados a preceito.

Porque amigos do Homem eles são,
Apesar de todo o mal que causou
D'espécies em vias de extinção...

Poderemos estar a tempo d'evitar,
O que há muito o limite ultrapassou,
Para o «planeta azul», ainda salvar...

in... Cem poemas... diversos - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - Temas Originais

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sábado, 23 de janeiro de 2010

Transitório - MARIA PAULA RAPOSO



Livro gentilmente enviado pela autora

No teu acalento
Persegues a minha solidão
E trazes-me à tona
Toda a ternura
De um ser humano
Quase pronto
A afogar-se
No rio indistinto
Ou no afluente
Lamacento.
E é nesse martírio
Transitório
Que tu te renovas
E me surpreendes
Com a saudade
Confessada
Sobre a minha ausência.

in... Marcas ou memórias do vento - MARIA PAULA RAPOSO - Apenas Livros

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Transmutação - PAULO AFONSO RAMOS




Tenho contos
plantados no meu roseiral
e nas quimeras da vida
desbravo as minhas ilusões.
Tenho sonhos
perdidos num umbral
dum paraíso sem igual
que se esconde
que se afasta.

Tenho um sorriso
como arma
um desejo primário
como flor
tenho um caminho preenchido.

Vivo nos contos
desse meu destino...

Um dia morrerá o personagem
para que nasça o homem!

in... Caminho da vontade - PAULO AFONSO RAMOS - Temas Originais

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

À liberdade - ROBERTO DURÃO




Eu gosto de nadar nas águas, livremente,
Prazer que tu também, por certo, já tiveste.
Gosto de dar-me ao sol, embora ele me creste,
Gosto de o ver também escoar-se no poente.

Mas nem por isso odeio a chuva impertinente,
A neve sem ter lar, a ventania agreste;
Tanto me faz sentir que a Primavera veste
Como o Outono despe a Natureza ardente.

Quero ser livre, enfim, como a luz que me guia,
Ver com o mesmo olhar a noite como o dia,
Sem precisar de alguém que me conduza e exorte.

Quero ser livre assim, como a minha poesia
Que ama de igual maneira o sol e a ventania
E seu beijo final reserva para a morte!

in... Trovas do meu pensar e do meu sentir - ROBERTO DURÃO - Editorial Minerva

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Convite



O Autor, EMANUEL LOMELINO e a TEMAS ORIGINAIS têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro "AMADOR DO VERSO" a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo dia 13 de Fevereiro pelas 19.00 horas.

Obra e autor serão apresentados por PAULO SANTOS

É com muito orgulho e satisfação que deixo aqui este convite, para o lançamento do meu 1º livro de poesia, a todos os amigos e amigas da blogosfera que queiram e possam aparecer. A todos agradeço os comentários motivadores, a força e coragem que me transmitiram e me levaram a dar este passo importante. O "AMADOR DO VERSO" também é vosso.

Quero deixar aqui um agradecimento público a uma pessoa especial, AUSENDA HILÁRIO, não só pelo carinho e amizade revelados ao longo deste meu trajecto na blogosfera, mas também pela disponibilidade em escrever o belíssimo prefácio deste meu primeiro livro. Amiga, já te transmiti pessoalmente mas quero que todo o mundo saiba o quanto me sinto honrado por teres aceite prefaciar este meu sonho. A amizade não se agradece mas sinto-me abençoado por ter a tua.

A minha boneca - LILI LARANJO


Livro gentilmente oferecido pela autora que hoje comemora mais um aniversário
PARABÉNS LILI LARANJO

Boneca bonita
Morena e grande
Boneca do meu tamanho
Vestido rodado
Com muita goma...
E com chapéu...
De abas largas.
Para a embelezar...
Esta boneca
Que em silêncio...
Me escutava...
E falava comigo...
Recebia os meus carinhos de menina...
Era o meu encanto...
Era a minha musa...
Era espanhola...
Vinda de Madrid...
Para o Negage...
Numa embalagem grande...
Que era a sua cama...
E tu simples boneca
Passado tantos anos
Continuas aqui...
Bem viva...
Bem presente...
No meu coração...
E ao recordar-te...
A alegria...
De poder sonhar...
E tentar reviver!...

in... Reticências apenas!... - LILI LARANJO - Edição de autor

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cabo Camões - RUI KNOPFLI




Nem cabo e Camões só porque zarolho.
Recordo-o baixote, trôpego e meio
coxelas, guardando, fielmente cioso,
cavalos, o dobro folgado do seu tamanho.
Fora guardador de rebanhos,

um couce o cegara. Ficou naquela
semiobscuridade, entre a ignorância
perplexa e as obrigações impostas:
guardei rebanhos, ora guardo atento
dois cavalos do meu patrão branco.

Olho vazado, olho cego, nas palhas
adormeço e nelas acordo mijado.
As micaias e a polpa da maçala
desvanecem longe na avareza da savana.
Agora olho para diante, quase sem ver.

in... O monhé das cobras - RUI KNOPFLI - Editorial Caminho

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Aprazada reconciliação - ANTÓNIO MR MARTINS




Ainda me recolhem na mente
aqueles pontificantes momentos,
que nos fizeram sentir gente
sem rancores e sem lamentos!...

Foram apaziguadoras situações
que fortaleceram empatias...
apagando as velhas questões
onde terão faltado sintonias.

Pacificou-se o entendimento
desde o último contratempo,
sem qualquer razão de ser...

Síntese proveitosa a rever,
nas próximas conjunturas,
esquecendo todas as amarguras!...

in... Ser poeta - ANTÓNIO MR MARTINS - Temas Originais

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domingo, 17 de janeiro de 2010

Procuro na fértil sonolência da tarde* - VICTOR OLIVEIRA MATEUS




Procuro na fértil sonolência da tarde.
No sincopado grasnar das gaivotas divididas entre
o vulcanismo da ilha e as intempéries adivinhadas.
Procuro no branco esmaecido das casas. Na urze
rente ao solo. Nas pedras. Busco nos abismos

infindáveis com que as altas castas se fartam
ante a magoada desistência dos homens. Interrogo
a ousadia do vento que, em tropel de mil vozes,
de verde incendeia palavras que tudo dizem.
Insisto meu barco que nunca entrego: temerário, jamais

desistente nesta viagem de terra incrustada
como batalha de raízes. Assim o quero: qual roteiro
desvelando novos mares, outros países. Quero-o
como ponte que devore todo o negrume do cais,
para que nele possa partir e não voltar mais.

in... A irresistível voz de Ionatos - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - Labirinto

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* Os poemas deste livro não são titulados. Utilizei o primeiro verso deste poema como titulo apenas por uma razão logistica.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Menina - NATÁLIA NUNO




Azul é a fita que entrelaça teus cabelos
Azuis são teus olhos, são desvelos.
E céu azul é a cor dos teus sonhos!?
Borboletas azuis em torvelinhos, dias risonhos.
Há no teu riso sabor a mel de Maio
És do sol-poente um raio!
És toda uma flor de bom cheiro
Tua boca fresca é um ribeiro.

És um novo Mundo um novo dia
Herdaste das estrelas a magia.
Choras, é lágrima de saudade quando calha.
E ris como a madrugada que orvalha!
Como a imensidão do mar...
Tens pinceladas de azul, em alvoroço,
O céu azul te vem beijar
E o Sol se pendura em teu pescoço.
Por isso te canto! Cantai poetas!?
Comigo cantai!
Transformai em lírios
o delírio da poesia
que da vossa garganta sai.

in... Trago-te um sonho nas mãos - Antologia - Temas Originais

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Alunos do liceu - PEDRO MEXIA




Alunos do liceu que me passais pela retina
porque não vos fixais? Encostados ao vento
descem a rua, bando feliz, alguns isolados
em pequenas tristezas. Os rapazes, na sua rudeza

artificial, trazem raquetes, usam neologismos,
enquanto as raparigas, que ontem mesmo
despontaram, segredam cenários entre sorrisos.

Todos rua abaixo, mesmo a tempo
da aula das oito, e trazendo nas mochilas
insuspeitados tesouros.

in... Eliot e outras observações - PEDRO MEXIA - Gótica

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tu és luz! - FERNANDA ESTEVES




Se o futuro a Deus pertence
e tudo está predestinado...
É questão para dizer:
De que serve o livre arbítrio,
se vendes a alma ao diabo?

A culpa é sempre do Karma!
Não aprendeste a lição
Cometes os mesmos erros
Fazes de ti o teu escravo
por conta da ambição.

Se escolheres ser feliz
afastas tudo o que é dor
Tu és a luz, não és matéria
teu alimento é o amor!

in... Canteiros de esperança - FERNANDA ESTEVES - Temas Originais

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Loucura - ROSA MARIA

IMAGEM E POEMA GENTILMENTE CEDIDOS PELA AUTORA


Sou sombra do passado... sou revolta
Sou folha seca... atirada pelo chão
Sou vendaval... esperança morta
Sou lago seco... saudade e solidão

No silêncio da morte... no meu olhar sem cor
No meu coração inerte... ruína de ilusão
Sou farrapo deitado ao vento... sou dor
Sou tristeza... abismo de solidão

Melancolia no meu peito... sentida
Saudade... num sorriso de amargura
Lembranças dolorosas de outra vida
Recordações... num sussurro de loucura

Meu peito aberto em mil feridas
Meus pensamentos de mim distantes
Saudades antigas... por mim sentidas
Ondas de solidão... em todos os instantes

Anoiteço na sombra do meu delírio
Amanheço... na vida mil vezes adiada
Desencontrada de mim... do meu exílio
Da minha ama... antes de tempo sepultada


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Existem poetas que mesmo sem terem livros editados merecem destaque neste espaço.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

VI - VIEIRA CALADO




Somos um trovão de luz
num plano aberto de rectas vigorosas apertadas
que se estiram por sobre os nossos próprios ombros
como colunas incessantes perpetuando o claustro
esculpidas para resistir ao cerco
e restituir o cerco

o lume cíclico dos grãos da cinza
sideral

raros átomos encarnando a solidão do tempo
vagueando pelas trevas
que hão-de revigorar a luz dum alvoroço

à fracção apocalíptica do microcosmos
na vertigem subtílima do pó mais ínfimo
desfeito em átomos de pó
refeito em redis de pó
só perceptíveis pala luz.

in... Viagem através da luz - VIEIRA CALADO - Papiro editora

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Fonte nova - XAVIER ZARCO




de azul e púrpura se esboça
o cântico dos cântaros

sôfregos

por um fio de preta nascendo
de seu ventre mineral

de azul e púrpura de agapanto
se matiza
o riso das crianças em redor

como gotas de água saltando
de regresso ao regaço
de todos os começos

in... Coimbra ao som da água - XAVIER ZARCO - Temas Originais

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domingo, 10 de janeiro de 2010

Se eu estivesse dentro de ti - MARIA PAULA RAPOSO





Imagem do livro gentilmente cedida pela autora

Se eu estivesse dentro de ti
saberia o que pensas
quando não consentes e calas
ou quando dizes o que não queres.

Se eu estivesse dentro de ti
saberia das tuas palavras
que ao contrário deslizam
no oposto pensamento de dizer.

Se eu estivesse dentro de ti
ficaria a olhar-me em silêncio
e a pensar de que nada vale
quando se está dentro de alguém.

Se eu estivesse dentro de ti
tudo seria uma imensa monotonia
tudo se desmoronaria sem tempo
para poder estar dentro de ti.

Se eu estivesse dentro de ti
seria a mais estúpida das pessoas...

in... Golpe de Asa - MARIA PAULA RAPOSO - Apenas livros

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Poeta... de ilusão - PAULO GAMINHA




Silêncio nas palavras que a garganta trava...
Gritos nos gestos contidos...
Grilheta que em mim se crava...
Soltasse a loucura dos meus sentidos!!!

Rasgo a página branca do livro que não escrevi
Agarro forte na memória do que não vivi
Moldo o barro da minha criação...
Esculpo estas palavras no coração!!!

Vivo esta vida que não escolhi...
Recrio o sonho em que te vi...
Voo nas asas da imaginação
Nas chamas deste ser... poeta.. de ilusão!!!

in... Domador de Palavras - PAULO GAMINHA - Temas Originais

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O vento da tarde* - GRAÇA PIRES



Prémio Nacional Poeta Ruy Belo 2008

O vento da tarde entra pelas casa sem convite
e enreda nos vidros o excessivo horizonte do mundo.
Em paredes ásperas deixamos escorregar
o silêncio pressentido no clamor do olhar
quando o verão se anuncia com suas farpas de fogo.
Ao redor de tudo, as casas permanecem
encerradas à insistência do sol.
Dentro delas podemos imaginar as mulheres
curvadas sobre os filhos abrindo as blusas
para que o leite e o sangue afugentem
a morte rente às bocas.

in... O silêncio: lugar habitado - GRAÇA PIRES - Labirinto

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* Os poemas deste livro não são titulados. Utilizei as primeiras palavras do poema como titulo apenas por uma questão logistica

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Nada - VÍTOR CINTRA




Não tenho nada!

Nem terra, nem casa ou pão,
Nem mágoa, dor ou paixão,
Nem restos de uma ilusão,
Nem amizade aos que estão!
Não tenho nada de meu!

Não tenho nada!

Depois de tanto ter tido
E o mundo ter percorrido,
De haver brocados vestido
E ter co' os grandes vivido,
Tomando a terra por céu.

Não tenho nada!

Nem quero ter novamente!
Seja o futuro dif'rente,
Ou seja como o presente,
Que faz feliz tanta gente,
Que até a vergonha perdeu.

in... Entre o longe e o distante - VÍTOR CINTRA - Temas originais

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Corpo de mar(é) - AUSENDA HILÁRIO




Deixem-me amar o mar
Comer as algas, expurgar a lama
Deixem que o mar me ame
E me aclame sobrevivente

Deixem que a pele se queime
Na lonjura do sol e da saudade
Renascendo asa de coral
E o meu abrigo

Deixem que a boca cuspa
Lodos de preconceito
E que o meu leito
Seja terra espargida de causa

Deixem que as mãos naufraguem
No rosto de luz das marés
Abram de espuma as estrelas
E deixem chorar o mar

Deixem que nada ou as ondas
S alastrem no meu peito
E que o meu corpo...
Seja sempre esse mar salgado!

in... Entre o sono e o sonho - antologia de poesia contemporânea vol.II - Chiado editora

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Era uma vez - LUIS FERREIRA



Imagem da capa gentilmente cedida pelo autor

Era uma vez...
Começam assim as histórias,
Abrem-se os livros,
Liberta-se o ser...
Envolvem-se mistérios e segredos,
Onde tudo acontece...
E tudo pode acontecer.
Textos de encanto,
Que contamos às gerações de hoje...
E que as crianças escutam...
Com os olhos hipnotizados,
Sorrisos nos lábios,
Mundosde magia...
Reinos de fantasia,
Já as ouvimos dos nossos avós.
Ilusões, entre princesas e dragões,
Mágicos, duendes e castelos...
Personagens de faz de conta,
Vivemos em florestas de encanto,
Somos as personagens do reino,
Neste espaço só nosso.
Cavaleiros andantes...
Feijões mágicos,
Potes de ouro...
Lindas histórias que alimentam a alma,
Cristais mágicos,
Luta do bem contra o mal...
Ideias que nascem e que se esquecem,
Em ilusões que a idade apaga.
Escuto, em silêncio, no meu quarto,
E lembro-me do meu passado...
De quando criava asas e voava,
Alcançava o céu...
Libertava os meus sonhos,
E na Terra do Nunca,
Na plenitude do encanto,
Num momento de liberdade...
Atingia a felicidade,
Voltava a ser criança.

in... Rio de Sal - LUIS FERREIRA - Edium editores*

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*Devido ao encerramento da editora, quem pretender adquirir o livro deve escrever para mar.sonhos@gmail.com


O autor LUIS FERREIRA e a TEMAS ORIGINAIS têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de apresentação do livro "MOMENTOS..."(3º livro do autor), a ter lugar na Biblioteca de Alcochete, sita na Rua Professor Leite da Cunha, em Alcochete, no próximo dia 23 de Janeiro pelas 16.00 horas.
Obra e autor serão apresentados por Ana Santos
(se puder apareça)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As palavras são de água - EDUARDO ALEIXO


 
                                                              

As palavras rebolam pela estrada aberta
e eu senti o momento da abertura!
Uma fonte se abriu
quando espetei o dedo no ponto certo
da argila da montanha
e a água correu!
Recebo-a com cuidado na ponta dos meus dedos,
nem penso,
deixo-a correr pelas mãos
e lavo com ela o corpo todo.
É o momento da minha ligação ao universo!
Agora revejo o meu rosto verdadeiro
que se expressa
feliz ou triste, não importa.
É a água da Fonte!
Não há estrangulamentos...
Sou a água que corre e me ilumina.
As palavras são de água.
Correm.
Ouvem-se no silêncio.
A alma está contente porque eu a ouvi
no momento certo.
Ela esperava que eu a ouvisse.
Ela espera sempre ser ouvida.
Nem sempre a ouço...
Ando muitas vezes distraído...
Mas há momentos que não sei explicar:
-Descubro fontes!
São os momentos do encontro maior!
-O encontro mágico do amor.

in... As palavras são de água - EDUARDO ALEIXO - Chiado Editora

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domingo, 3 de janeiro de 2010

Dança louca - CRISTINA PINHEIRO MOITA




Beijo-te nos olhos
teu corpo me toca
é de arrepiar.

Tuas mãos deslizam
no peito e na pele,
flecha
de cupido
é de incentivar.

Vens
despido de medos
num toque
de fúrias nos dedos.
Louco de paixão
sinto-te enlouquecer.

Na minha direcção
tua mão na perna
a atracção cobiça
tudo acontece
fico desvairada,
louca, tresloucada.

No cruzar
dos corpos
já entrelaçados
flores no chão
em beijos suados
numa dança louca,
sinfonia rouca.

in... Corpo de corcel - CRISTINA PINHEIRO MOITA - Temas Originais

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sábado, 2 de janeiro de 2010

Hoje - LILI LARANJO


Livro gentilmente oferecido pela autora
Hoje...
Caminhei pela rua...

Vi luzes...
Vi fantasia...
Vi muitos embrulhos...

E pensei...

É Natal...

Segui e continuei...
A ver luzes...
A ver fantasia...
A ver presentes...

Mas...

Não vi Natal...
Não vi Jesus...
Não vi Maria...
Não vi José...

Não vi o principal...
Senti o esquecimento...

Da união...
Da família...
Do Amor...

E continuei a caminhar..

E vi bolos...
E vi iguarias...
E vi beleza...
E gostei de sentir...
O cheirinho de Natal...

Mas...
Continuei a caminhar...
E a pensar...

Natal,
Será de todos?

E vi logo que não...
Milhares de crianças...
Milhares de homens...

Nesta vida...
Nunca saberão...

O que é ser Natal...

in... A magia do Natal - LILI LARANJO - edição de autor

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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sabor Amar(go) - HELENA ISABEL


De coração ardente
Amo quem não devo
Amo quem não me sabe olhar
Sinto-me ferida
Mundana, traída
Mostrei-me ao acaso
Pronunciei o que flui... no rio dos meus segredos
Expus-me a sentimentos guardados
Nos recantos dos meus pecados.
Dói-me a alma
Sinto-me corroída... por sentimentos vadios
Despi-me, fundi-me de fantasias
Dei a conhecê-las... a quem não as pretendia.
Desejo arrancar da alma,
Este sentimento ancorado no coração.
Sentimento...
Que me faz perder a razão
Que me faz perder a noção
De quem sou e do que faço
Sinto solidão...
Por estar sozinha neste vagão
Da carruagem enganada...que por amores se perdeu
O comboio da vida passará... levará sonhos e felicidades
A quem o souber lograr.
Sinto-me... mutilada... de sonhos roubados
Mas continuo a amar
Quem não me sabe olhar.

in... Ler-te - HELENA ISABEL - edições WAF

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