Amiga... noiva... irmã... o que quiseres!
Por ti, todos os céus terão estrelas,
Por teu amor, mendiga, hei-de merecê-las
Ao beijar a esmola que me deres.
Podes amar até outras mulheres!
- Hei-de compor, sonhar palavras belas,
Lindos versos de dor só para elas,
Para em lânguidas noites lhes dizeres!
Crucificada em mim, sobre os meus braços,
Hei-de poisar a boca nos teus passos
Pra não serem pisados por ninguém.
E depois... Ah! Depois de dores tamanhas
Nascerás outra vez de outras entranhas,
Nascerás outra vez de uma outra Mãe!
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
terça-feira, 30 de junho de 2015
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Cansaço - MARIA ROSA MARQUES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Cansada desta caminhada
sem fim...
nesta longa estrada
que quando a olhava
parecia acabar, já ali...
mas continuava dentro de mim
Amei muito...
dei-me por inteiro
mas tão pouco recebi
e como sofri!
Agora chegou o meu fim
nos braços frios da morte
percorrerei todos os silêncios
já nem os ventos de norte
abalaram de mim
Meu descanso eterno
EM - VIDA E MORTE - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
domingo, 28 de junho de 2015
Embriaguez de seiva - JOÃO CARLOS ESTEVES
já só me encontro nos silêncios
de paisagens vazias de vozes e rostos
envolto numa capa de neblina amorfa
esqueço-me até
da voz do pensamento
ambiciono o sonho da raiz
e a vertigem dos ramos livres
em embriaguez de seiva
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
de paisagens vazias de vozes e rostos
envolto numa capa de neblina amorfa
esqueço-me até
da voz do pensamento
ambiciono o sonho da raiz
e a vertigem dos ramos livres
em embriaguez de seiva
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
sábado, 27 de junho de 2015
Alcanede - VÍTOR CINTRA
Tomou-te Dom Henrique de Borgonha,
Tornando-te mais um dos seus tesouros,
Mas, porque nada é como se sonha,
Voltaste a ser tomada pelos mouros.
Mas eis que Afonso Henriques, vários anos
Passados, conquistando Santarém,
Com força e com engenho sobre-humanos
Ataca-te e conquista-te também.
O teu primeiro alcaide fez seguro,
Mais forte e consistente o teu futuro,
Tal como quis o rei, que o nomeou.
Por isso foi brilhante a tua História,
Até que te tornaste uma memória
Depois que o terramoto te abalou.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
Tornando-te mais um dos seus tesouros,
Mas, porque nada é como se sonha,
Voltaste a ser tomada pelos mouros.
Mas eis que Afonso Henriques, vários anos
Passados, conquistando Santarém,
Com força e com engenho sobre-humanos
Ataca-te e conquista-te também.
O teu primeiro alcaide fez seguro,
Mais forte e consistente o teu futuro,
Tal como quis o rei, que o nomeou.
Por isso foi brilhante a tua História,
Até que te tornaste uma memória
Depois que o terramoto te abalou.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
sexta-feira, 26 de junho de 2015
A mulher e a dança - MÁRIO SAA
Oh, como adoro esta afeição furtiva
que em si desapareça, em si se esconda,
livre sempre de si, sempre cativa,
cativa, sempre, em seu poder de ronda
que por melhor ainda se entregar
com mais asas ligeiras foge a sonda.
Voluía entre folhas amarelas,
a como um par de braços se destrança
e vem de lá de baixo das turbinas
a espiralar cantigas de criança;
na água fria dos meus olhos lestos
os seus formosos olhos de menina
e os meus gestos por cima dos seus gestos!
Oh, como adoro esta afeição furtiva
que em si desapareça, em si se esconda,
livre sempre de si, sempre cativa!
EM - POESIA E ALGUMA PROSA - MÁRIO SAA - INCM
que em si desapareça, em si se esconda,
livre sempre de si, sempre cativa,
cativa, sempre, em seu poder de ronda
que por melhor ainda se entregar
com mais asas ligeiras foge a sonda.
Voluía entre folhas amarelas,
a como um par de braços se destrança
e vem de lá de baixo das turbinas
a espiralar cantigas de criança;
na água fria dos meus olhos lestos
os seus formosos olhos de menina
e os meus gestos por cima dos seus gestos!
Oh, como adoro esta afeição furtiva
que em si desapareça, em si se esconda,
livre sempre de si, sempre cativa!
EM - POESIA E ALGUMA PROSA - MÁRIO SAA - INCM
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Entre mim e o mar* - GRAÇA PIRES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Entre mim e o mar
ainda me causa espanto a madrugada.
Sempre diferente. Sempre idêntica.
Tons de mel, de romã,
de diamante, de milho seco.
Sopro de sal, de sangue, de limos.
E, por trás das dunas,
a respiração dos amantes
sobressaltando as aves.
EM - ESPAÇO LIVRE COM BARCOS - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Bucólica - TOMAZ KIM
Planície quieta como lagarto ao sol:
Ao longe o celeiro, irreal no que promete.
Golpe-a-golpe a enxada rasga a terra:
Os braços já cansam, e o sol inda a prumo!
Nem perfil de serra
Ou sombra de árvore:
A planície estende-se a perder de vista,
Prenhe e sábia, e a negar o pão.
Cedo virá o Inverno.
EM - OBRA POÉTICA - TOMAZ KIM - INCM
Ao longe o celeiro, irreal no que promete.
Golpe-a-golpe a enxada rasga a terra:
Os braços já cansam, e o sol inda a prumo!
Nem perfil de serra
Ou sombra de árvore:
A planície estende-se a perder de vista,
Prenhe e sábia, e a negar o pão.
Cedo virá o Inverno.
EM - OBRA POÉTICA - TOMAZ KIM - INCM
terça-feira, 23 de junho de 2015
Post scriptum - EUGÉNIO DE ANDRADE
Agora regresso à tua claridade.
Reconheço o teu corpo, arquitectura
de terra ardente e lua inviolada,
flutuando sem limite na esperança
da noite cheirando a madrugada.
Acordaste na aurora, a boca rumorosa
de um desejo confuso de açucenas;
rosa aberta na brisa ou nas areias,
alta e branca, branca apenas,
e mar ao fundo, o mar das minhas veias.
Estás de pé na orla dos meus versos
ainda quente dos beijos que te dei;
tão jovem, e mais que jovem, sem mágoa
- como no tempo em que tinha medo
que tropeçasses numa gota de água.
EM - AS PALAVRAS INTERDITAS/ ATÉ AMANHÃ - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
Reconheço o teu corpo, arquitectura
de terra ardente e lua inviolada,
flutuando sem limite na esperança
da noite cheirando a madrugada.
Acordaste na aurora, a boca rumorosa
de um desejo confuso de açucenas;
rosa aberta na brisa ou nas areias,
alta e branca, branca apenas,
e mar ao fundo, o mar das minhas veias.
Estás de pé na orla dos meus versos
ainda quente dos beijos que te dei;
tão jovem, e mais que jovem, sem mágoa
- como no tempo em que tinha medo
que tropeçasses numa gota de água.
EM - AS PALAVRAS INTERDITAS/ ATÉ AMANHÃ - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 22 de junho de 2015
Canção do tédio - DOMINGOS MONTEIRO
E de alma despejada,
Nem sequer o amavio
Anónimo do nada...
Uma tristeza morna
Sem causa, nem sentido
Uma frase que torna
Continuamente ao ouvido...
Nem dúvida, ou certeza
Esperança ou temor,
Para além da tristeza
E para além da Dor...
EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM
domingo, 21 de junho de 2015
Zodíaco - JORGE DE SENA
Os deuses nascem quando a vida estreita
laços de olhar, em torno da memória;
lembrar com medo é refazer a história
de quantos deuses uma estátua é feita.
Surgem desígnios que a morte ajeita
ao jeito permitido... Sim! Devore-a
a pura terra em água mais eleita,
que, ao chamar gruta à solidão marmórea,
dará, e a Deus, um cântico e um destino.
Se foi impunemente que menino
me demorei no tempo e não perdi
o bibe sujo que ficou como era,
tenho maior direito ao que se espera:
criei constelações e nunca as vi.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA VOL IV - JORGE DE SENA - GUIMARÃES
laços de olhar, em torno da memória;
lembrar com medo é refazer a história
de quantos deuses uma estátua é feita.
Surgem desígnios que a morte ajeita
ao jeito permitido... Sim! Devore-a
a pura terra em água mais eleita,
que, ao chamar gruta à solidão marmórea,
dará, e a Deus, um cântico e um destino.
Se foi impunemente que menino
me demorei no tempo e não perdi
o bibe sujo que ficou como era,
tenho maior direito ao que se espera:
criei constelações e nunca as vi.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA VOL IV - JORGE DE SENA - GUIMARÃES
sábado, 20 de junho de 2015
Primeiro beijo - JAIME CORTESÃO
Beijo de Tempestade e de vertigem,
Como a descarga súbita do raio,
Refluxo vital tocando a origem,
Fundindo bocas ébrias em desmaio.
Genésico florir em pleno Maio,
Água pra qual em fogo se dirigem
Bocas ardentes no primeiro ensaio
De mitigar a sede à Carne virgem.
E enquanto sobre as bocas, como brasas,
As pombas do Desejo unem as asas
E um ar de Primavera voluptuosa
Abre no rosto em flor lírios vermelhos,
A Alma junta as mãos, trémula, ansiosa,
E, em delíquios de Amor, cai de joelhos!
EM - POESIA - JAIME CORTESÃO - INCM
Como a descarga súbita do raio,
Refluxo vital tocando a origem,
Fundindo bocas ébrias em desmaio.
Genésico florir em pleno Maio,
Água pra qual em fogo se dirigem
Bocas ardentes no primeiro ensaio
De mitigar a sede à Carne virgem.
E enquanto sobre as bocas, como brasas,
As pombas do Desejo unem as asas
E um ar de Primavera voluptuosa
Abre no rosto em flor lírios vermelhos,
A Alma junta as mãos, trémula, ansiosa,
E, em delíquios de Amor, cai de joelhos!
EM - POESIA - JAIME CORTESÃO - INCM
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Charneca em flor - FLORBELA ESPANCA
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Morte - MARIETE LISBOA GUERRA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
A morte chegou às alturas
em estádio convulsivo de Dharma
renegou a dor profunda
rejeitou os carnais fantasmas
Perdoou os erros cometidos
na clareira de fogo, agonizada
Vivia dentro de um cativeiro
colidiam as asas coladas e inquietas
Que idade tinhas quando a vida mudou?
Era tarde, não sei era tempo branco e distante
veio a luz e queimou a boca
e as mãos ficaram a pairar, como sendo livres
Era a armadilha da vida
EM - MORTE E VIDA - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Sei - EDGARDO XAVIER
Sei do raspar das palavras
por todos os sentidos
e do tumulto do sangue
no corpo.
Sei da pele
do espanto
e da noite.
Sei dos dedos que me lêem o fogo
e da boca onde nascem
obscenas
sementes de luxúria.
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
por todos os sentidos
e do tumulto do sangue
no corpo.
Sei da pele
do espanto
e da noite.
Sei dos dedos que me lêem o fogo
e da boca onde nascem
obscenas
sementes de luxúria.
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
terça-feira, 16 de junho de 2015
Abrantes - VÍTOR CINTRA
Teu castro Junius Brutus ocupou,
No tempo em que os romanos se instalaram
Em terras lusitanas, e ficou,
Até que os visigodos o expulsaram.
Mas vindo os muçulmanos à conquista
Das terras dos cristãos, numa batalha
Alcançaram a vitória e, nessa crista,
Ergueram, p'ra defesa, uma muralha.
Mais tarde, Afonso Henriques, rei cristão,
Expulsa os ocupantes do islão,
Tomando, por fronteira, o rio Tejo.
Doada a posição a Gualdim Pais
Foi este, como consta dos anais,
Quem torna fortaleza o castelejo.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
No tempo em que os romanos se instalaram
Em terras lusitanas, e ficou,
Até que os visigodos o expulsaram.
Mas vindo os muçulmanos à conquista
Das terras dos cristãos, numa batalha
Alcançaram a vitória e, nessa crista,
Ergueram, p'ra defesa, uma muralha.
Mais tarde, Afonso Henriques, rei cristão,
Expulsa os ocupantes do islão,
Tomando, por fronteira, o rio Tejo.
Doada a posição a Gualdim Pais
Foi este, como consta dos anais,
Quem torna fortaleza o castelejo.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
segunda-feira, 15 de junho de 2015
XXIV - VICTOR OLIVEIRA MATEUS
A brancura do muro contrasta com a negritude do mundo, com o salteio acobardado dos que na cegueira se fingem. É uma brancura que gratifica, que apura a teimosia de um olhar que busca e que levanta, para lá da sombra das árvores, essa qualquer coisa que se não vê, mas há. A brancura do muro não me separa da assassina frieza da rua, tão-só me protege do alvar sorriso de muitos, quando à noite o carro camarário, no seu ronceiro mastigar de imprestáveis, engole sacos com lixo, sofás esbeiçados, lavatórios antigos, tão antigos como a brancura do muro.
EM - NEGRO MARFIM - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - LABIRINTO
EM - NEGRO MARFIM - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - LABIRINTO
domingo, 14 de junho de 2015
Temos um destino marítimo* - GRAÇA PIRES
LIVRO GENEROSAMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Temos um destino marítimo
na memória, me ensinaram.
Por isso gosto de seguir a linha
verde da costa com a face exposta
ao hálito da maresia e os pulsos
cravejados de conchas.
Fixo cristais de névoa no olhar
para desvendar o átrio privado
onde se escondem os barcos
quando o êxtase das ondas
explode dentro do vento.
EM - ESPAÇO LIVRE COM BARCOS - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
sábado, 13 de junho de 2015
Olá bom dia - DAVID MARQUES
Deixe que lhe deixe este rabisco
sobre suas páginas amareladas:
Distante... o olho direito pisco,
para acordar emoções guardadas...
Na vida, quem não tem doces pedacinhos
de vivências bem fechadas no coração,
aguardando despertar com novos beijinhos,
incendiar para uma nova e melada paixão?
Nesta nova madrugada de calmaria,
deixe que lhe deixe este raminho,
de doces aromas e cores de alegria;
perfumar ainda mais seu caminho
no futuro, no presente e neste dia,
com amor, amizade e carinho.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
sobre suas páginas amareladas:
Distante... o olho direito pisco,
para acordar emoções guardadas...
Na vida, quem não tem doces pedacinhos
de vivências bem fechadas no coração,
aguardando despertar com novos beijinhos,
incendiar para uma nova e melada paixão?
Nesta nova madrugada de calmaria,
deixe que lhe deixe este raminho,
de doces aromas e cores de alegria;
perfumar ainda mais seu caminho
no futuro, no presente e neste dia,
com amor, amizade e carinho.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Ao acaso - VÍTOR CINTRA
Ao acaso escrevi os meus poemas
Sem receio das críticas de alguém;
Ao acaso seleccionei os temas
Convencido de que o fazia bem.
Ao acaso deixei meus pensamentos
Estampados em folhas de papel;
Ao acaso senti, muitos momentos,
Nesses versos amargo gosto a fel.
Ao acaso deixei correr o tempo,
Mergulhado na minha solidão,
Sem ter medo da perda da razão;
Conseguindo viver, a meu contento,
O direito dum sonho, sem ter prazo,
Ao acaso, mas não por mero acaso.
EM - AO ACASO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
Sem receio das críticas de alguém;
Ao acaso seleccionei os temas
Convencido de que o fazia bem.
Ao acaso deixei meus pensamentos
Estampados em folhas de papel;
Ao acaso senti, muitos momentos,
Nesses versos amargo gosto a fel.
Ao acaso deixei correr o tempo,
Mergulhado na minha solidão,
Sem ter medo da perda da razão;
Conseguindo viver, a meu contento,
O direito dum sonho, sem ter prazo,
Ao acaso, mas não por mero acaso.
EM - AO ACASO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Asas que não vês - ALICE SANTOS
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Deus deu-me asas
Asas que não vês
Tornam-me mais alta
Superando a tua pequenez.
São elas o pilar
Força transformadora
Não servem para voar
São parte da minha pessoa.
Deus deu-me asas
Que jamais poderás ver
Como poderias vê-las
Sem me conhecer.
Asas negras
Carregam almas de luz
Diamante que não reluz.
Elevam-me e protegem
Transformam bondade, amor
As sombras que me perseguem.
EM - FRUTOS VERMELHOS - ALICE S - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
quarta-feira, 10 de junho de 2015
Agasalhos - ÂNGEL MAGALHÃES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Nas veias que me agasalham a solidão
vagueio nos corredores da morte
afago a penumbra de minha alma
destroços desenterrados
soletro a aflição versejante
no altar de redenção,
resgates em simulacros
valso os idiomas
efémeros poemas
clandestinidade oprimida
suicido de versos
orvalhados de renúncias
deserdados de sorte,
filtros que desenham a obscuridade
nas ruelas do abandono
rudez de um coração enfraquecido
moldado como punhais na carne
tal fantasmas que fumam a saudade.
EM - VIDA E MORTE - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
terça-feira, 9 de junho de 2015
Tomar - VÍTOR CINTRA
Ergueu-te Gualdim Pais, como reforço
Da linha fronteiriça de defesa,
No tempo em que, no reino, o grande esforço
Era alargar a Pátria portuguesa.
No alto, sobranceiro ao rio Nabão,
A grande fortaleza amuralhada
Cresceu e fez crescer a sensação
De não poder ser nunca conquistada.
Mais tarde Abu Yusuf, em contra ataque,
Depois de Silves ter reconquistado,
Chegou a Santarém, sem ter parado.
E após ter Torres Novas posto a saque,
Centrou-se no castelo de Tomar,
Mas nunca foi capaz de o conquistar.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
Da linha fronteiriça de defesa,
No tempo em que, no reino, o grande esforço
Era alargar a Pátria portuguesa.
No alto, sobranceiro ao rio Nabão,
A grande fortaleza amuralhada
Cresceu e fez crescer a sensação
De não poder ser nunca conquistada.
Mais tarde Abu Yusuf, em contra ataque,
Depois de Silves ter reconquistado,
Chegou a Santarém, sem ter parado.
E após ter Torres Novas posto a saque,
Centrou-se no castelo de Tomar,
Mas nunca foi capaz de o conquistar.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Saudade - CECÍLIA VILAS BOAS
Saudade dum sonho que foi tão além
Um sonho real até à morte de mim
Não sei se te sei do rosto...
Que tristeza, será que te esqueci?!
Não! É a dor que não me deixa lembrar de ti
Mas quando voltam a mim a luz dos olhos teus
Abafo o tempo e deixo-te ficar
Meu amor que dor voraz a saudade que trago comigo
Já não sei dos verdes das montanhas
Ou do calor das tuas mãos nos dias sem-abrigo
Embalo-me na ternura que sinto por ti
Magoa-me o querer que guardo no peito
Infinitas as horas, longe de ti!
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
Um sonho real até à morte de mim
Não sei se te sei do rosto...
Que tristeza, será que te esqueci?!
Não! É a dor que não me deixa lembrar de ti
Mas quando voltam a mim a luz dos olhos teus
Abafo o tempo e deixo-te ficar
Meu amor que dor voraz a saudade que trago comigo
Já não sei dos verdes das montanhas
Ou do calor das tuas mãos nos dias sem-abrigo
Embalo-me na ternura que sinto por ti
Magoa-me o querer que guardo no peito
Infinitas as horas, longe de ti!
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
domingo, 7 de junho de 2015
XIII - VICTOR OLIVEIRA MATEUS
Sento-me no murete da praia, na esquina mais áspera da Marginal: o trânsito - revolto - mistura-se com a dança das gaivotas, com o estridente desnorte das andorinhas-do-mar e com esta ausência num cais de esplanadas desertas, onde os barcos ainda se anunciam despovoados de carga e de gentes. Sento-me nas dobras enegrecidas da memória com o olhar férvido dos motoristas a vigiar-me, com os dedos ensanguentados num folhear de esperas há muito sem sentido. Sento-me e a tarde abre-se-me num apático vaguear de fluídas silhuetas, com a premência deste sol a abater-se sobre mim, repleto de promessas - mas podre.
EM - NEGRO MARFIM - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - LABIRINTO
EM - NEGRO MARFIM - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - LABIRINTO
sábado, 6 de junho de 2015
Eu te baptizo em nome do mar* - GRAÇA PIRES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Eu te baptizo em nome do mar,
disse minha mãe com barcos na voz.
E as ondas enlearam nas águas o meu nome,
abrindo nas fendas do corpo um impulso
salgado que me brandiu o sangue.
Sei agora que há âncoras afogadas
nos meus olhos: nítido eco de todas as demandas.
EM - ESPAÇO LIVRE COM BARCOS - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Livro fechado - DAVID MARQUES
A capa é deveras cativante!
Do conteúdo, nada sei;
o enredo, confesso que desconheço;
quiçá, todos os capítulos lerei,
dessa leitura expressiva e apaixonante.
Adorava fazer e compreender a leitura
desse livro aberto, mas enigmático;
se personagem... nem sei que pareço;
e, navegar pelo vasto cenário temático
desse rio repleto de frescura.
Quem sabe (?) não me tornaria poeta,
declamante, músico, trovador
e deixaria de ser o profeta,
das curvas sinuosas do amor.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
Do conteúdo, nada sei;
o enredo, confesso que desconheço;
quiçá, todos os capítulos lerei,
dessa leitura expressiva e apaixonante.
Adorava fazer e compreender a leitura
desse livro aberto, mas enigmático;
se personagem... nem sei que pareço;
e, navegar pelo vasto cenário temático
desse rio repleto de frescura.
Quem sabe (?) não me tornaria poeta,
declamante, músico, trovador
e deixaria de ser o profeta,
das curvas sinuosas do amor.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
quinta-feira, 4 de junho de 2015
A criação - ALEXANDRE O'NEILL
Da folha de papel, amarfanhada,
a mosca sobe aos montes,
desce aos vales,
evola-se.
A mão, armada,
recomeça a planar
sobre outra folha, lisa,
de papel.
EM - POESIAS COMPLETAS - ALEXANDRE O'NEILL - ASSÍRIO & ALVIM
a mosca sobe aos montes,
desce aos vales,
evola-se.
A mão, armada,
recomeça a planar
sobre outra folha, lisa,
de papel.
EM - POESIAS COMPLETAS - ALEXANDRE O'NEILL - ASSÍRIO & ALVIM
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Protesto - MIGUEL TORGA
Desespero da vida, crime turvo
Como o de água de rio que não corre;
Traição de bicho, arrependido e curvo
Dentro da concha onde se abisma e morre.
Cegueira negra no areal batido
Por altas e divinas claridades;
Pinheiro seco no pinhal, erguido
Como fantasma vil doutras idades.
Desespero da vida! Cobardia
Do tripulante duma embarcação
Que leva sonho, céu e maresia
Nas velas, no convés e no porão!
EM - POESIA COMPLETA VOL. I - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
Como o de água de rio que não corre;
Traição de bicho, arrependido e curvo
Dentro da concha onde se abisma e morre.
Cegueira negra no areal batido
Por altas e divinas claridades;
Pinheiro seco no pinhal, erguido
Como fantasma vil doutras idades.
Desespero da vida! Cobardia
Do tripulante duma embarcação
Que leva sonho, céu e maresia
Nas velas, no convés e no porão!
EM - POESIA COMPLETA VOL. I - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
terça-feira, 2 de junho de 2015
VIII - JESÚS RECIO BLANCO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
Sobre o rosto do castiçal
a noite soletrava
um remoto alfabeto de gengiva e sal.
Era a dimensão diagonal
duma antiga língua de lava.
Seus olhos de prata
pendiam dum fino arame farpado.
Seus cabelos eram de ágata,
a sua capa, uma cascata.
E a minha sombra era apenas um retalho.
EM - CADENZAS - JESÚS RECIO BLANCO - CHIADO EDITORA
segunda-feira, 1 de junho de 2015
As galinhas - FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO
Em versos obscurecidos pelo desejo
de mudar memórias e factos
lembrei o canto dos pássaros,
quando ainda o tempo
se identificava
com lugares e idade.
Agora que não há mais
aproximação nem distância,
os alegres cacarejos ao meio-
-dia outrora,
antes do primeiro verso,
voltam no fim do ciclo
para o regresso de mim mesma.
EM - ÂMAGO - FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO - ASSÍRIO & ALVIM
de mudar memórias e factos
lembrei o canto dos pássaros,
quando ainda o tempo
se identificava
com lugares e idade.
Agora que não há mais
aproximação nem distância,
os alegres cacarejos ao meio-
-dia outrora,
antes do primeiro verso,
voltam no fim do ciclo
para o regresso de mim mesma.
EM - ÂMAGO - FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO - ASSÍRIO & ALVIM
Subscrever:
Mensagens (Atom)