Era tão pequena a mão que
Nem o seu dedo mendinho
Conseguia agarrar. Pesava
Quinhentos gramas e respirava
Sem ajuda do ventilador
O coração da sua mãe quase
Que não batia com receio de
Que ele sufocasse sob o peso
Do seu amor
EM - A FERIDA ABERTA - JORGE SOUSA BRAGA - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 31 de julho de 2015
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Primavera - DAVID MARQUES
Chegou mais uma primavera;
A vegetação começou a desabrochar;
A terra rola como uma esfera;
As aves pavoneiam-se querendo acasalar.
A temperatura começa a aquecer;
Os raios solares têm mais intensidade
e depressa nos faz esquecer,
o rigoroso inverno e toda a sua pluviosidade.
Já se vê nos campos com satisfação,
as plantas empenhadas em florir,
cumprindo o seu ciclo da reprodução.
E com as suas múltiplas cores e aromas a fluir,
dá-nos uma tão agradável sensação
que, até sem vontade, nos faz sorrir.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
A vegetação começou a desabrochar;
A terra rola como uma esfera;
As aves pavoneiam-se querendo acasalar.
A temperatura começa a aquecer;
Os raios solares têm mais intensidade
e depressa nos faz esquecer,
o rigoroso inverno e toda a sua pluviosidade.
Já se vê nos campos com satisfação,
as plantas empenhadas em florir,
cumprindo o seu ciclo da reprodução.
E com as suas múltiplas cores e aromas a fluir,
dá-nos uma tão agradável sensação
que, até sem vontade, nos faz sorrir.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
quarta-feira, 29 de julho de 2015
O que é dito - MANUEL ANTÓNIO PINA
Alguma coisa em algum lugar
de o que existe e de o que não existe
é isto que escreve e a ciência de isto
a pura voz sem sujeito e o fora de ela.
Esta mão é um acontecimento improbabilíssimo
que o infinito e a eternidade atravessam,
alguma coisa fala de si própria através de ela.
De que pode ela falar senão de tudo?
O que está dentro e o que está fora
e vê e é visto de toda a parte
é o mesmo e o outro
e tudo isto é sabido em mim.
EM - POESIA REUNIDA - MANUEL ANTÓNIO PINA - ASSÍRIO & ALVIM
de o que existe e de o que não existe
é isto que escreve e a ciência de isto
a pura voz sem sujeito e o fora de ela.
Esta mão é um acontecimento improbabilíssimo
que o infinito e a eternidade atravessam,
alguma coisa fala de si própria através de ela.
De que pode ela falar senão de tudo?
O que está dentro e o que está fora
e vê e é visto de toda a parte
é o mesmo e o outro
e tudo isto é sabido em mim.
EM - POESIA REUNIDA - MANUEL ANTÓNIO PINA - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 28 de julho de 2015
Dorme meu filho* - MÁRIO CESARINY
Dorme meu filho
dezenas de mãos femininas trabalham
a atmosfera
onde os namorados pensam
cartazes simples
um por exemplo
minúsculo crustáceo denominado cíclope
por baixo da pele ou entre os músculos
Dorme meu filho
o amor
será
uma arma esquecida
um pano qualquer como um lenço
sobre o gelo das ruas
EM - PENA CAPITAL - MÁRIO CESARINY - ASSÍRIO & ALVIM
dezenas de mãos femininas trabalham
a atmosfera
onde os namorados pensam
cartazes simples
um por exemplo
minúsculo crustáceo denominado cíclope
por baixo da pele ou entre os músculos
Dorme meu filho
o amor
será
uma arma esquecida
um pano qualquer como um lenço
sobre o gelo das ruas
EM - PENA CAPITAL - MÁRIO CESARINY - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Apagamento - JOÃO RUI DE SOUSA
Em sua forma e sentido
perfila-se o chamamento
do que é regresso ao haurido
(ao tão escasso fardamento)
de ficar neste temido
remorso de um nunca assente
sentido para o vivido
como gesto ou pensamento.
É o marco repetido
sem cor ou só o cinzento
de quem foge ao alarido
no seu carro de indigente:
de quem passeia o castigo
em sina de apagamento.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
perfila-se o chamamento
do que é regresso ao haurido
(ao tão escasso fardamento)
de ficar neste temido
remorso de um nunca assente
sentido para o vivido
como gesto ou pensamento.
É o marco repetido
sem cor ou só o cinzento
de quem foge ao alarido
no seu carro de indigente:
de quem passeia o castigo
em sina de apagamento.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
domingo, 26 de julho de 2015
Silêncio - JOÃO MORGADO
Há o silêncio dos que se encontram
Há o silêncio dos que se afastam
Não, por favor, nada digas...
Se chegas, não preciso de palavras...
Se partes...
de que me servem as palavras?
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
Há o silêncio dos que se afastam
Não, por favor, nada digas...
Se chegas, não preciso de palavras...
Se partes...
de que me servem as palavras?
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
sábado, 25 de julho de 2015
Os girassóis - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
As paisagens alteram-se sem resolução
narrativas imortais desaparecem
e os girassóis assim
vulneráveis a desconhecidas ordens
Tu estás tão perto
mas sofro tanto
porque não vejo
como possa falar de ti
antre dois ou três séculos
EM - A NOITE ABRE MEUS OLHOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
narrativas imortais desaparecem
e os girassóis assim
vulneráveis a desconhecidas ordens
Tu estás tão perto
mas sofro tanto
porque não vejo
como possa falar de ti
antre dois ou três séculos
EM - A NOITE ABRE MEUS OLHOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 24 de julho de 2015
O gelo funde-se* - ALVARO GIESTA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
O gelo funde-se
entre o fumo e o fogo,
como o espanto se funde
com a sombra vinda da caverna
Cede lugar à palavra
que rasga com seu cântico a terra...
por entre as fendas
depois de arada
a seiva brota no reflexo das pedras;
assim se alimenta a sede de ser
O crânio
em ânsias de nascer estremece!
É o êxtase!
será lamento
se nesta frágua sem chão
se perder o verbo inteiro
EM - UM ARBUSTO NO OLHAR - ALVARO GIESTA - CALÇADA DAS LETRAS
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Petição - RUY CINATTI
- Guarda-me a mim, disse o pescador
(de arrastão) ao despedir-se
de uma conversa entrecortada a medo,
em cada um sublinhando elos sagrados.
- Guarda-me a mim, guarda-me tu, irmão,
que me apertaste o antebraço com força
e leva-me contigo por mares bravios
onde arriscas a vida, a tua sofredora alma e brinca com ela
como se nos amássemos no mesmo chão, juntos.
EM - 56 POEMAS - RUY CINATTI - RELÓGIO D'ÁGUA
(de arrastão) ao despedir-se
de uma conversa entrecortada a medo,
em cada um sublinhando elos sagrados.
- Guarda-me a mim, guarda-me tu, irmão,
que me apertaste o antebraço com força
e leva-me contigo por mares bravios
onde arriscas a vida, a tua sofredora alma e brinca com ela
como se nos amássemos no mesmo chão, juntos.
EM - 56 POEMAS - RUY CINATTI - RELÓGIO D'ÁGUA
quarta-feira, 22 de julho de 2015
As palavras abrem portas - ANA HATHERLY
As palavras abrem portas
que só elas abrem-fecham:
revolvem o pó da lembrança
batem no vidro do coração
temporário Jonas prisioneiro
Engolidas pela máquina do tempo
um dia irão reaparecer
em mudos ecrãs iluminados
Hão-de ser recopiadas
mas sem poderem já recuperar
o acre sabor metafísico
da sua perdida voz
EM - O PAVÃO NEGRO - ANA HATHERLY - ASSÍRIO & ALVIM
que só elas abrem-fecham:
revolvem o pó da lembrança
batem no vidro do coração
temporário Jonas prisioneiro
Engolidas pela máquina do tempo
um dia irão reaparecer
em mudos ecrãs iluminados
Hão-de ser recopiadas
mas sem poderem já recuperar
o acre sabor metafísico
da sua perdida voz
EM - O PAVÃO NEGRO - ANA HATHERLY - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 21 de julho de 2015
Aliança sobrenatural - ANTÓNIO MR MARTINS
Nos descaminhos da vida
onde pálida cor rosa
interfere-se perdida
no ensaio da prosa.
Se encobre na nuvem ar
em gasosos esperança,
pela pressa do céu galgar
como bem-aventurança.
Velha haste fiel rasto
pungente na memória,
conteúdo livro vasto.
No desencadear glória
entre humilde repasto,
definida dedicatória.
EM - MARGEM DO SER - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS
onde pálida cor rosa
interfere-se perdida
no ensaio da prosa.
Se encobre na nuvem ar
em gasosos esperança,
pela pressa do céu galgar
como bem-aventurança.
Velha haste fiel rasto
pungente na memória,
conteúdo livro vasto.
No desencadear glória
entre humilde repasto,
definida dedicatória.
EM - MARGEM DO SER - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Nesse nunca - GASTÃO CRUZ
Nunca se pensa que virá um dia
em que essa idade como bruma fria
será a que teremos; todavia
nesse nunca está ela já contida:
se o pensamento desconhece a vida,
dela recebe o sangue da ferida
EM - ESCARPAS - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
em que essa idade como bruma fria
será a que teremos; todavia
nesse nunca está ela já contida:
se o pensamento desconhece a vida,
dela recebe o sangue da ferida
EM - ESCARPAS - GASTÃO CRUZ - ASSÍRIO & ALVIM
domingo, 19 de julho de 2015
Minha tão breve mãe - JOAQUIM PESSOA
Eu já morri amiga eu já morri
nas margens do meu tejo de amargura.
De tudo o que foi vivo e que eu vivi
ficou feita de sal esta lonjura.
Ó mãe! Raiz da força que eu quisera.
Minha tão breve mãe. Ó meu abraço!
Onde é que eu amanheço? Ah quem pudera
fazer comigo o que eu apenas faço.
Ai minha mãe de frios e basaltos.
Esta hora é de dor. De sobressaltos.
Vem cantar-me baixinho outra cantiga.
Vem dizer que é mentira. Que estou vivo.
Que não adormeci. Nem sou cativo.
Vem parir-me de novo querida amiga!
EM - 125 POEMAS - JOAQUIM PESSOA - LITEXA
nas margens do meu tejo de amargura.
De tudo o que foi vivo e que eu vivi
ficou feita de sal esta lonjura.
Ó mãe! Raiz da força que eu quisera.
Minha tão breve mãe. Ó meu abraço!
Onde é que eu amanheço? Ah quem pudera
fazer comigo o que eu apenas faço.
Ai minha mãe de frios e basaltos.
Esta hora é de dor. De sobressaltos.
Vem cantar-me baixinho outra cantiga.
Vem dizer que é mentira. Que estou vivo.
Que não adormeci. Nem sou cativo.
Vem parir-me de novo querida amiga!
EM - 125 POEMAS - JOAQUIM PESSOA - LITEXA
sábado, 18 de julho de 2015
Do que me lembro - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
lembro-me da música dos lugares a oeste
dos planos para esse reino amado
que pretendemos tanto tomar de assalto
antes dos brados do fogo
Mas as minhas mãos traziam já
uma sina mais escura, nem a noite
Qualquer penumbra serviu
ao meu coração oculto
a miséria do inverno
o treino dos falcões nas escarpas
a glória iludida
em que se consumiu o tempo
EM - A NOITE ABRE MEUS OLHOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
dos planos para esse reino amado
que pretendemos tanto tomar de assalto
antes dos brados do fogo
Mas as minhas mãos traziam já
uma sina mais escura, nem a noite
Qualquer penumbra serviu
ao meu coração oculto
a miséria do inverno
o treino dos falcões nas escarpas
a glória iludida
em que se consumiu o tempo
EM - A NOITE ABRE MEUS OLHOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 17 de julho de 2015
4 haicu - CASIMIRO DE BRITO
160
Num vibrante músculo
me transformas. Tudo é simples
e azul. Bebo o mar
190
As tuas cuecas,
oh, deslizam pelas pernas!
meus dentes ajudam
195
Asa efusiva
teu corpo no meu plantado
a árvore da vida
271
Poderás dizer-me
como rolam as lágrimas?
- Bebe-as, saberás
EM - EROS MÍNIMO - CASIMIRO DE BRITO - LUA DE MARFIM
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Almourol - VÍTOR CINTRA
Embora pouco mais do que rochedo,
Em ti se ergueram castros lusitanos,
Em tempos, levantados pelo medo
Não só dos animais, mas dos humanos.
Maciço de granito e arvoredo,
Que o Tejo, desde sempre, quis beijar,
Os povos te ocuparam, muito cedo,
Bem antes do romano cá chegar.
Ainda que, dalguns, não haja pista,
Terás sido ocupado por alanos,
Suevos, visigodos, muçulmanos.
Até que aconteceu a reconquista;
E dos castelos feitos por Templários,
Tornaste-te, Almourol, um dos lendários.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
Em ti se ergueram castros lusitanos,
Em tempos, levantados pelo medo
Não só dos animais, mas dos humanos.
Maciço de granito e arvoredo,
Que o Tejo, desde sempre, quis beijar,
Os povos te ocuparam, muito cedo,
Bem antes do romano cá chegar.
Ainda que, dalguns, não haja pista,
Terás sido ocupado por alanos,
Suevos, visigodos, muçulmanos.
Até que aconteceu a reconquista;
E dos castelos feitos por Templários,
Tornaste-te, Almourol, um dos lendários.
EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Trinta dinheiros - MANUEL ALEGRE
No bengaleiro do mercado público
penduraram o coração.
Vestem o fato dos domingos fáceis.
Não têm rosto
têm sorrisos muitos sorrisos
aprendidos no espelho da própria podridão.
Têm palavras como sanguessugas.
Curvam-se muito.
As mãos parecem prostitutas.
Alma não têm. Penduraram a alma.
Por fora parecem homens.
Custam apenas trinta dinheiros.
EM - POESIA VOL. I - MANUEL ALEGRE - DOM QUIXOTE
penduraram o coração.
Vestem o fato dos domingos fáceis.
Não têm rosto
têm sorrisos muitos sorrisos
aprendidos no espelho da própria podridão.
Têm palavras como sanguessugas.
Curvam-se muito.
As mãos parecem prostitutas.
Alma não têm. Penduraram a alma.
Por fora parecem homens.
Custam apenas trinta dinheiros.
EM - POESIA VOL. I - MANUEL ALEGRE - DOM QUIXOTE
terça-feira, 14 de julho de 2015
Insónia - MARIA AMÁLIA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Pensamentos
Vibrações ocultas
Silêncio quebrado
Aurélia fugaz
Quando no interior
Se travam lutas
Quando à noite te chamo
Onde estás?
Onde estás sono meu?
Porque te ausentas
São pensamentos meus
Que te desviam?
São noites,
Muitas noites que te espiam
E dores, sim dores da alma...
Que sem querer
Te afugentam!
EM - MISTO DE SENTIMENTOS - MARIA AMÁLIA - EDIÇÕES OZ
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Impunidade - VÍTOR CINTRA
Enquanto vão sentindo impunidade,
Embora cometendo tantos roubos,
Irão rir-se de toda a sociedade,
Tratando todo o povo como bobos.
Jamais irão parar co'a roubalheira,
Enquanto na "justiça" houver compadres.
Para os parar só há uma maneira,
A forca para eles e confrades.
Quem abre a porta a gente sem moral,
Ou é tacanho, ou é irracional.
Não há explicação a não ser essa.
Quem decidiu fazê-lo em Portugal,
Já tinha dos sabujos a promessa
De que ia enriquecer muito depressa.
EM - AO ACASO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
Embora cometendo tantos roubos,
Irão rir-se de toda a sociedade,
Tratando todo o povo como bobos.
Jamais irão parar co'a roubalheira,
Enquanto na "justiça" houver compadres.
Para os parar só há uma maneira,
A forca para eles e confrades.
Quem abre a porta a gente sem moral,
Ou é tacanho, ou é irracional.
Não há explicação a não ser essa.
Quem decidiu fazê-lo em Portugal,
Já tinha dos sabujos a promessa
De que ia enriquecer muito depressa.
EM - AO ACASO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
domingo, 12 de julho de 2015
Vocação para te amar - ÂNGEL MAGALHÃES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Medos
segredos
sentimentos sufocantes
paixão escondida,
pecados absolutos
consumados
mãos trémulas
gritos roucos apuram os sentidos
mergulho no teu amor
esqueço todo o resto
não uso mais a palavra solidão
no meu dicionário foi apagada
gostar,
amar-te assim perdidamente
loucamente me sinto
viciada
nos teus braços me quero aconchegar
no teu calor me encontrar
quero-me vocação para te amar.
EM - PECADOS - NAS ASAS DO DESEJO - ÂNGEL MAGALHÃES - EDIÇÕES OZ
sábado, 11 de julho de 2015
Espreguiço-me - MARIETE LISBOA GUERRA
Abro a meia-janela da sala
E a lua aparece na sombra
Prata do jardim
Barrico o coração guerreiro
Fico na imobilidade de incesto
Com as asas de lama toldadas
Ele vem hoje,
Chegará todavia uma noite
Espreguiço-me na pausa entre as sílabas
Agita-se a dúvida no ar da noite
Esborracho as coxas que tremem
Dançam cheias de orvalho e pirilampos
Nesta ausência esperada alambuzo
Com parcimónia de chocolate
E outra vez a preguiça
Espreguiço-me
Como fazem as mulheres durante a noite
EM - UNIVERSO DAS PALAVRAS - COLECTÂNEA - SINAPIS
E a lua aparece na sombra
Prata do jardim
Barrico o coração guerreiro
Fico na imobilidade de incesto
Com as asas de lama toldadas
Ele vem hoje,
Chegará todavia uma noite
Espreguiço-me na pausa entre as sílabas
Agita-se a dúvida no ar da noite
Esborracho as coxas que tremem
Dançam cheias de orvalho e pirilampos
Nesta ausência esperada alambuzo
Com parcimónia de chocolate
E outra vez a preguiça
Espreguiço-me
Como fazem as mulheres durante a noite
EM - UNIVERSO DAS PALAVRAS - COLECTÂNEA - SINAPIS
sexta-feira, 10 de julho de 2015
Qualquer dia, meu amor - JOSÉ ANTUNES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Qualquer dia, alada mente
colho um ramo de estrelas e ventos
no jardim das luas, na fantasia petiz
e entre o sonho e a vida
vou brilhar o sol nas tuas mãos
e acordar-te com uma ternura
em cada dedo das mãos
... sem que nada me detenha
beijarei a doçura do teu amor
com deleite de me sentir no teu corpo!
EM - NUANCES DE UM SILÊNCIO A DOIS - ANA COELHO/JOSÉ ANTUNES - EDITA-ME
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Eis o momento* - ALVARO GIESTA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
Eis o momento
em que a poesia se faz carne:
a palavra
cai no espaço
em branco,
lavra
o vazio no silêncio
do papel,
rasga
o terreno fértil
A semente cai no novo espaço
e brota,
o cálamo rompe este novo espaço
antes tornado nada,
vazio...
nele
se lavrará a escritura
EM - UM ARBUSTO NO OLHAR - ALVARO GIESTA - CALÇADA DAS LETRAS
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Sem medo dos sonhos - VERA SOUSA SILVA
Querem-nos roubar o pão
e as sementes
para que não se plantem
mais esperanças
nem sonhos.
Roubam-nos o futuro
matando o presente,
criando o medo
e gemendo promessas vãs.
Ainda respiro Abril
ainda germino sonhos.
EM - ATÉ AMANHÃ - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
e as sementes
para que não se plantem
mais esperanças
nem sonhos.
Roubam-nos o futuro
matando o presente,
criando o medo
e gemendo promessas vãs.
Ainda respiro Abril
ainda germino sonhos.
EM - ATÉ AMANHÃ - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
terça-feira, 7 de julho de 2015
Emoções - ALICE SANTOS
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Reconforto-me em palavras adormecidas,
Enxugo lágrimas escondidas.
Escondo um vazio no agreste do meu peito,
E sem jeito,
Deixo levar o meu pensamento
Sulcado de tristeza.
Entrego-me no pano branco de linho puro,
Procurando o afago que não chega.
E deixo-me cair numa tristeza profunda.
Teimam as lágrimas correr no meu rosto
Queimando do sal lacrimejante.
Escondo num sudário soluços de dor saudosos.
Cruel, escondida a emoção,
Do sentimento mais frio
Que me assola o espírito inquieto.
Sou como um títere
Embrulhada na trama da saudade.
Canto perene, num momento de solidão.
EM - FRUTOS VERMELHOS - ALICE S - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Em cima dos rochedos... - GRAÇA PIRES
Em cima dos rochedos aprendi a observar
as migrações dos pássaros, a descobrir
pelas estrelas a direcção dos navios
e a entender os gritos das mulheres
caminhando loucas pela praia
quando pressentem a traição do mar.
As nuvens concentram-se no horizonte
como lágrimas em relevo
engrossadas pelo relento.
Dói-me nas mãos uma crueza
semelhante a uma emboscada.
EM - ESPAÇO LIVRE COM BARCOS - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
as migrações dos pássaros, a descobrir
pelas estrelas a direcção dos navios
e a entender os gritos das mulheres
caminhando loucas pela praia
quando pressentem a traição do mar.
As nuvens concentram-se no horizonte
como lágrimas em relevo
engrossadas pelo relento.
Dói-me nas mãos uma crueza
semelhante a uma emboscada.
EM - ESPAÇO LIVRE COM BARCOS - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
domingo, 5 de julho de 2015
A luz do teu rosto - ANA COELHO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Quando o meu olhar
Toca os teus traços
A luz do teu rosto
Penetra em mim
Envolvo o meu sorriso
Voam no meu peito
Garças a planar
Em campos de lírios
Tacteio nas minhas veias
Correntes fluídas
Nos poros dilatados
Alegres arrepios
Que fazem de mim
O sol na foz da preia-mar
Ah!... Amor
Como sou feliz
Só por te olhar
Assim junto a mim...
EM - NUANCES DE UM SILÊNCIO A DOIS - ANA COELHO/ JOSÉ ANTUNES - EDITA-ME
sábado, 4 de julho de 2015
Poema clandestino - FRANCISCO VALVERDE ARSÉNIO
Tenho pressa em libertar este poema clandestino, sinto-o agitado neste silêncio profundo, neste hiato vazio, neste espaço sem som. Se os versos são reflexos de uma chama perene, as horas que se esvaem asfixiam-me a garganta e delimitam o alcance da minha voz. Sinto-me aprisionado neste limbo, sinto-me um corpo post mortem em que as sombras são lilases, em que o verbo subsiste na quietude. Este embuce silábico, é uma onda que não chega à praia, é uma faca que rasga as vestes, que despe o corpo e o cobre de palavras nuas, é como se a água deixasse de correr nos afluentes que alimentam o rio. Ausento-me... Ausento-me e permaneço neste êxtase estonteante, e as cores das letras perdem-se em vendavais dispersos na calada de um olhar. Tenho pressa em libertar este poema clandestino que trago fechado na palma das mãos.
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME
sexta-feira, 3 de julho de 2015
Que pena - DAVID MARQUES
Fazer as lágrimas nos teus olhos brotar...
Acredita, não era essa a minha intenção!
Te juro aos pés juntos e de coração,
apenas te queria um pouco alegrar.
Nem sempre o que nos vai na alma,
produz o efeito que é pretendido;
Espero que não te tenhas ofendido
por com indiscrição, invadir a tua calma.
Foi apenas um inocente acto de gratidão
pelo gosto que no meu poema postaste.
E, muito menos quis tocar o teu coração.
Agora que teu almoço já decorreu
e os teus lindos olhos já enxugaste
ficou acabrunhado também o meu.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
Acredita, não era essa a minha intenção!
Te juro aos pés juntos e de coração,
apenas te queria um pouco alegrar.
Nem sempre o que nos vai na alma,
produz o efeito que é pretendido;
Espero que não te tenhas ofendido
por com indiscrição, invadir a tua calma.
Foi apenas um inocente acto de gratidão
pelo gosto que no meu poema postaste.
E, muito menos quis tocar o teu coração.
Agora que teu almoço já decorreu
e os teus lindos olhos já enxugaste
ficou acabrunhado também o meu.
EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA
quinta-feira, 2 de julho de 2015
O rio corre... - ALVARO GIESTA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
O rio corre...
como o embrião da sombra
esventra a noite,
assim neste correr
o rio desflora o ventre do seu leito
No seu correr devagar
desflora as escarpas
álgidas de luar,
banham-no
num afagar suave
as montanhas
pedregosas,
esventram-no
pelo seio dentro
Prenhe tem o ventre
dos segredos da montanha...
marulham nas águas
antes de os parir,
e no seu interior
se refugiam.
EM - UM ARBUSTO NO OLHAR - ALVARO GIESTA - CALÇADA DAS LETRAS
quarta-feira, 1 de julho de 2015
XV - VICTOR OLIVEIRA MATEUS
Este silêncio que à noite se infiltra como presença há muito esperada. Este silêncio que a brisa aconchega e pelos claustros sobrevoa o negrume da vida. É um bater de asas nas copas das árvores, uma doçura a escorrer pelas cornijas tão pelo tempo esbeiçadas e é também o reflexo da minha sede. Uma sede sem limites nem fim e onde uma ânsia de Amor me antecipa visões e êxtases. Este é o silêncio que sempre quis, aquele que à noite atravessa corredores e celas desenhando nas lajes as minhas Moradas - caminhos que nunca cedo, como se num antiquíssimo sonho uma nítida mão a mim me salvasse.
EM - NEGRO MARFIM - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - LABIRINTO
EM - NEGRO MARFIM - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - LABIRINTO
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