A noite prevalece no meu espírito
embora na alma estratos se iluminem.
Os passos do homem pisam sendas
difíceis de entender, de penumbras...
e assim os destinos inscritos
desde sempre no livro único símbolo
de Pedro, o meu íntimo amigo,
embora João, o mais amado!
EM - 56 POEMAS - RUY CINATTI - RELÓGIO D'ÁGUA
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Sentimento - MARIETE LISBOA GUERRA
Aceitarás o amor como eu o sinto?
Folha de orvalho, gota bem leve, um nimbo
Guardo o teu olhar
nestas paredes brancas de harmonia
Tudo o que tens
vive em teu corpo nu de adolescente,
pensamentos soltos a fugir
olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
só o olhar, enquanto o livro aberto
... a realidade é simples, e isto apenas.
Que nasce das imperfeições. O encanto
EM - LÓTUS JASMIM LADO A LADO - MARIETE LISBOA GUERRA - EDIÇÕES OZ
Folha de orvalho, gota bem leve, um nimbo
Guardo o teu olhar
nestas paredes brancas de harmonia
Tudo o que tens
vive em teu corpo nu de adolescente,
pensamentos soltos a fugir
olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
só o olhar, enquanto o livro aberto
... a realidade é simples, e isto apenas.
Que nasce das imperfeições. O encanto
EM - LÓTUS JASMIM LADO A LADO - MARIETE LISBOA GUERRA - EDIÇÕES OZ
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Homem de grandes dias - RUY BELO
E a cal casa de cada qual
Tens as orelhas brancas
longa é a lança que dos olhos lanças
És tu e tens mistérios de mulher
ó breve ó longo
Faço percebes horas
Há muitos pés pela cidade
Oh [longo] és possível
elefante branco visto em África
E não há mais ninguém
EM - TODOS OS POEMAS I - RUY BELO - ASSÍRIO & ALVIM
Tens as orelhas brancas
longa é a lança que dos olhos lanças
És tu e tens mistérios de mulher
ó breve ó longo
Faço percebes horas
Há muitos pés pela cidade
Oh [longo] és possível
elefante branco visto em África
E não há mais ninguém
EM - TODOS OS POEMAS I - RUY BELO - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Poema rasgado - TERESA TEIXEIRA
Eu queria cantar o amar...
(solta-se um vento que estremece as ondas,
namora-me o mar)
Queria cantar a força...
(solta-se um tempo que estreita as fissuras,
fascina-me a forca)
Queria cantar a paz...
(rasgo-me em verso, de lírios vestida,
sou branco fugaz)
Quero cantar a esperança...
(prende-me a rima que busca sem rumo...
... as ranhuras ásperas da cobrança...)
EM - DA SERENA IDADE DAS COISAS - TERESA TEIXEIRA - TEMAS ORIGINAIS
(solta-se um vento que estremece as ondas,
namora-me o mar)
Queria cantar a força...
(solta-se um tempo que estreita as fissuras,
fascina-me a forca)
Queria cantar a paz...
(rasgo-me em verso, de lírios vestida,
sou branco fugaz)
Quero cantar a esperança...
(prende-me a rima que busca sem rumo...
... as ranhuras ásperas da cobrança...)
EM - DA SERENA IDADE DAS COISAS - TERESA TEIXEIRA - TEMAS ORIGINAIS
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Os olhos - VERA SOUSA SILVA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
São meus olhos que te amam.
Quedam-se em tentação perante teu corpo
e ajoelham-se à tua voz.
Não sou eu!
Nunca fui eu quem te amou
nas ardências das lágrimas,
nos soluços dos gritos.
Foram eles - os olhos!
Traiçoeiros do meu ser extinto,
monólogo dos meus lábios
silenciosos...
São eles, os olhos
que te amam assim
loucamente!
EM - BIPOLARIDADES - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
domingo, 26 de janeiro de 2014
Chegadas e partidas - ANTÓNIO MR MARTINS
Sinónimo de entreajuda
No muro de cada lamento
Rescaldo de cada brandura
Escoltada pelo sentimento
Lembrança de uma memória
No pomar de uma vida
Pertinácia de cada história
No ápice de uma fugida
Nos campos se situaram
Os ganhos da humanidade
Hoje se empobrecem
No seio de cada cidade
EM - MÁSCARA DA LUZ - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS
No muro de cada lamento
Rescaldo de cada brandura
Escoltada pelo sentimento
Lembrança de uma memória
No pomar de uma vida
Pertinácia de cada história
No ápice de uma fugida
Nos campos se situaram
Os ganhos da humanidade
Hoje se empobrecem
No seio de cada cidade
EM - MÁSCARA DA LUZ - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS
sábado, 25 de janeiro de 2014
Lembrando Sidónio Muralha - VITOR CINTRA
Se o "Novo Cancioneiro" foi razão,
Ou foi, apenas, uma solução
P'ra criticar visões salazaristas,
Em versos ditos neo-realistas,
Jamais o saberemos. Logo agora
Que quem o escreveu já cá não mora.
No mal dizer, porém, há uma certeza,
É tradição da gente portuguesa.
E, quando o mal dizer assenta certo,
A gente sente quase o céu aberto.
EM - NAS MARGENS DO ESQUECIMENTO - VITOR CINTRA - LUA DE MARFIM
Ou foi, apenas, uma solução
P'ra criticar visões salazaristas,
Em versos ditos neo-realistas,
Jamais o saberemos. Logo agora
Que quem o escreveu já cá não mora.
No mal dizer, porém, há uma certeza,
É tradição da gente portuguesa.
E, quando o mal dizer assenta certo,
A gente sente quase o céu aberto.
EM - NAS MARGENS DO ESQUECIMENTO - VITOR CINTRA - LUA DE MARFIM
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Desejo antigo - JOSÉ M. M. PEDRO
Dantes,
queria novos barcos cantantes
de novos mastros
como círios acesos
às adormecidas
águas dum porto.
Dantes,
queria ser inocente gaivota
para pairar lá no alto dos mastros
onde batem todos os sóis
- Cantar com os ventos
dos quadrantes.
E, ver o místico horizonte
onde os meninos-sóis repousam
nos seus leitos de Poente
e conversam com as estrelas
e com a lua
e com o mar
inteiramente a sós!
EM - A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS II - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
queria novos barcos cantantes
de novos mastros
como círios acesos
às adormecidas
águas dum porto.
Dantes,
queria ser inocente gaivota
para pairar lá no alto dos mastros
onde batem todos os sóis
- Cantar com os ventos
dos quadrantes.
E, ver o místico horizonte
onde os meninos-sóis repousam
nos seus leitos de Poente
e conversam com as estrelas
e com a lua
e com o mar
inteiramente a sós!
EM - A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS II - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
XIV - DANIEL AFONSO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
entra devagar
com o gesto suave do teu corpo
entra pela água morna do mar
ao fim da tarde
mergulha e serpenteia o teu corpo
desce tranquila para a profundeza
esperam-te os cardumes
deixa que te desenhem as curvas do corpo
deixa-te abandonada ao prazer
beijos aquáticos
água que te invade
concavidade íntima
lentamente
sobe
conta-me como é a luz
colorida das algas
desce ao fundo de ti mesma
EM - DIAS DE SETEMBRO - DANIEL AFONSO - UNIVERSUS
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Murmúrio de ausência - JOÃO CARLOS ESTEVES
as margens da lagoa
acompanham os passos da tua silhueta
reflexos de ti
invadem as águas serenas
e preenchem o meu horizonte
em ecos fugazes
assola-me o murmúrio da tua ausência...
EM - INVENTEI-TE AS MANHÃS - JOÃO CARLOS ESTEVES - CHIADO EDITORA
acompanham os passos da tua silhueta
reflexos de ti
invadem as águas serenas
e preenchem o meu horizonte
em ecos fugazes
assola-me o murmúrio da tua ausência...
EM - INVENTEI-TE AS MANHÃS - JOÃO CARLOS ESTEVES - CHIADO EDITORA
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Educação sentimental - MARIA TERESA HORTA
Põe devagar os dedos
devagar...
e sobe devagar
até ao cimo
o suco lento que sentes
escorregar
é o suor das grutas
o seu vinho
Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho...
Mas põe os dedos
e sobe devagar...
Não tenhas medo
daquilo que te ensino
EM - AS PALAVRAS DO CORPO - MARIA TERESA HORTA - DOM QUIXOTE
devagar...
e sobe devagar
até ao cimo
o suco lento que sentes
escorregar
é o suor das grutas
o seu vinho
Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho...
Mas põe os dedos
e sobe devagar...
Não tenhas medo
daquilo que te ensino
EM - AS PALAVRAS DO CORPO - MARIA TERESA HORTA - DOM QUIXOTE
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
No momento - ALEXANDRE CARVALHO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
O tempo não espera por nós
vamos viver felicidade
no minuto das nossas vidas
até ao fim da nossa idade.
Comecei "ontem"
não perderei mais tempo
pensando em vidas vividas.
O sentir...
ver transbordar um sentir
um olhar a presença de felicidade
deixa-me contagiantemente feliz
com vontade de seguir
majorando todo o carinho
sem seguir uma matriz
rumando um caminho
ao encontro do que me é dado.
Amando e sendo amado
acredito que tenha encontrado...
Amor!
EM - CAVALETE COM POESIA - ALEXANDRE CARVALHO - UNIVERSUS
domingo, 19 de janeiro de 2014
Freio de mão - HELENA ISABEL
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Exacerbei-me por um travão
Freio de mão
Sempre travado, nunca desnudado.
Palavras doces? Poucas... causam diabetes
Mas enlouquecem qualquer mulher.
A cada curva, provável despiste
Numa recta, momento de distracção
Vou aproveitar...
Aceleração banal, o condutor apercebe-se
A muito custo, contendo perícia
Lá vai soltando o ar
Que entrara nos tubos
Deixa-se levar a soluços
Entusiasmo total? Terá de ficar
Para um outro Carnaval
Quem sabe afinal... de mecânica individual.
EM - MAR QUE ME ESCREVE - HELENA ISABEL - CHIADO EDITORA
sábado, 18 de janeiro de 2014
Chacais - MARIA FÁTIMA SOARES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Surpreendi-me ao ver os pingos de sangue
indicar a minha direcção
e reconheci-te o ódio, quando meigamente
me banhavas em sangue!
Cortando, espremendo e deixando
cada bocado exangue, até não restar mais.
Terminaste. Calmamente como começaste
entregaste-me aos chacais...
Foi o que doeu mais.
EM - JOGOS DE ÁGUA SERENA - MARIA FÁTIMA SOARES - LUA DE MARFIM
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
E veio a lua - CARLOS TEIXEIRA PINTO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Branca estava a pele
sem os tons de teu sol
no dia em que me salvaste de mim
e a pálida solidão
sem vontades sem coração
foi colorida de paixão
por tuas tintas por tua mão
passei a ser arco-íris
expulsando o negro
o branco e o fado
pois quem vive enamorado
quem tem outra vida ao lado
é ser sempre bronzeado
pela luz de seu amor
EM - DE AMOR E POESIA - CARLOS TEIXEIRA PINTO - UNIVERSUS
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Lamento - LÍLIA TAVARES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Adivinho o pulsar da manhã
quando apalpo a madrugada
com os meus dedos de lua.
Assim sinto os dias:
vagas a lamber a praia longa
sem nos levar ao porto.
O meu bote é frágil e redondo
e sofre os arremeços da borrasca
enquanto permaneceres erecto,
minha escultura de bronze,
no alto da falésia.
Não ouves o meu lamento fundo e granítico
e o apelo agudo de uma ave
que se procura sozinha
e erra a rota?
Sabe-me a lágrimas este mar
onde me procuro,
no limiar vazio do cansaço.
Ficarei só?
EM - PARTO COM OS VENTOS - LÍLIA TAVARES - KREAMUS
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Em silêncio - SÃO REIS
É no silêncio que te escuto
que te encontro e me acho
que passo de mera cinza
a rubro facho
E nessa vertigem em que me sufoco
me transmuto e desdobro
ganho a perfeita noção
que sem ti sou espuma
que sem ti sou chão
Diz-me como ter-te
ensina-me como amar-te
se querer-te é já perder-te
se ter-te é já chorar-te!
EM - A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS II - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
que te encontro e me acho
que passo de mera cinza
a rubro facho
E nessa vertigem em que me sufoco
me transmuto e desdobro
ganho a perfeita noção
que sem ti sou espuma
que sem ti sou chão
Diz-me como ter-te
ensina-me como amar-te
se querer-te é já perder-te
se ter-te é já chorar-te!
EM - A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS II - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
XXXIII - EUGÉNIO DE ANDRADE
A tua vida é uma história triste.
A minha é igual à tua.
Presas as mãos e preso o coração,
enchemos de sombra a mesma rua.
A nossa casa é onde a neve aquece.
A nossa festa, onde o luar acaba.
Cada verso em nós próprios apodrece,
cada jardim nos fecha a sua entrada.
EM - PRIMEIROS POEMAS... - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
A minha é igual à tua.
Presas as mãos e preso o coração,
enchemos de sombra a mesma rua.
A nossa casa é onde a neve aquece.
A nossa festa, onde o luar acaba.
Cada verso em nós próprios apodrece,
cada jardim nos fecha a sua entrada.
EM - PRIMEIROS POEMAS... - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Fado areia - JESÚS RECIO BLANCO
A areia é uma ponte pênsil
entre a margem e o seu contrário,
é uma mão nostálgica
que se recusa a ser mão,
é um poema sem véu,
uma palavra constante,
um espaço para solapar o tempo,
um desejo que carece de ar.
EM - SOBRE OS FADOS - JESÚS RECIO BLANCO - LUA DE MARFIM
entre a margem e o seu contrário,
é uma mão nostálgica
que se recusa a ser mão,
é um poema sem véu,
uma palavra constante,
um espaço para solapar o tempo,
um desejo que carece de ar.
EM - SOBRE OS FADOS - JESÚS RECIO BLANCO - LUA DE MARFIM
domingo, 12 de janeiro de 2014
Súplica - RUY CINATTI
Aprofunda-te, altera-te, a liberdade é tua
e nada a ela podes dizer mais
do que não seja a verdade única.
No teu peito adormeço, teus braços amparam
o meu outro ser e tão misericordioso
como um afago de mãe.
Os pássaros voam, os vermes perfumam
caminhos invios...
A alma, desprevenida, canta
e só tu, meu Deus, me concedes a inocência!
EM - 56 POEMAS - RUY CINATTI - RELÓGIO D'ÁGUA
e nada a ela podes dizer mais
do que não seja a verdade única.
No teu peito adormeço, teus braços amparam
o meu outro ser e tão misericordioso
como um afago de mãe.
Os pássaros voam, os vermes perfumam
caminhos invios...
A alma, desprevenida, canta
e só tu, meu Deus, me concedes a inocência!
EM - 56 POEMAS - RUY CINATTI - RELÓGIO D'ÁGUA
sábado, 11 de janeiro de 2014
Lucidez - ANA CASANOVA
Luto para resistir
para manter a lucidez
no meio de tanta loucura
medo, inquietação, sofrimento
Tento alimentar a mente
para não me perder
e em palavras desconexas
lançadas para o papel
tudo faço...
para me sentir inteira!
EM - NÓS ETERNOS - ANA CASANOVA - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
45 - ÁLVARO DE CAMPOS
Ah, sempre me contentou que a plebe se divertisse.
Sou-lhe alheio à alegria, mas não alheio a que a tenha.
Quero que sejam alegres à maneira deles.
Se o fossem à minha seriam tristes.
Não pretendo ser como eles, nem que eles sejam como eu.
Cada um no seu lugar e com a alegria dele.
Cada um no seu ponto de espírito e falando a língua dele.
Ouço a sua alegria, amo-a, não participo não a posso ter.
EM - POESIA - ÁLVARO DE CAMPOS - ASSÍRIO & ALVIM
Sou-lhe alheio à alegria, mas não alheio a que a tenha.
Quero que sejam alegres à maneira deles.
Se o fossem à minha seriam tristes.
Não pretendo ser como eles, nem que eles sejam como eu.
Cada um no seu lugar e com a alegria dele.
Cada um no seu ponto de espírito e falando a língua dele.
Ouço a sua alegria, amo-a, não participo não a posso ter.
EM - POESIA - ÁLVARO DE CAMPOS - ASSÍRIO & ALVIM
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
29 - JAIME ROCHA
É uma prisão com um estábulo
e nesse espaço há uma torneira
de onde sai uma água verde. Um dia,
nasceram rãs e os cães ladraram até ao
amanhecer. E a seguir às rãs surgiram
pássaros e outros seres cada vez mais
distantes do homem. Viscosos, com
grandes mandíbulas invisíveis. Todos
pensaram que uma nova era havia
chegado, mas a prisão permaneceu
intacta e sólida como um túmulo.
EM - DO EXTERMÍNIO - JAIME ROCHA - RELÓGIO D'ÁGUA
e nesse espaço há uma torneira
de onde sai uma água verde. Um dia,
nasceram rãs e os cães ladraram até ao
amanhecer. E a seguir às rãs surgiram
pássaros e outros seres cada vez mais
distantes do homem. Viscosos, com
grandes mandíbulas invisíveis. Todos
pensaram que uma nova era havia
chegado, mas a prisão permaneceu
intacta e sólida como um túmulo.
EM - DO EXTERMÍNIO - JAIME ROCHA - RELÓGIO D'ÁGUA
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Descobrimento - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Um oceano de músculos verdes
Um ídolo de muitos braços como um polvo
Caos incorruptível que irrompe
E tumulto ordenado
Bailarino contorcido
Em redor dos navios esticados
Atravessamos fileiras de cavalos
Que sacudiam suas crinas nos alísios
O mar tornou-se de repente muito novo e muito antigo
Para mostrar as praias
E um povo
De homens recém-criados ainda cor de barro
Ainda nus ainda deslumbrados
EM - MAR - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - CAMINHO
Um ídolo de muitos braços como um polvo
Caos incorruptível que irrompe
E tumulto ordenado
Bailarino contorcido
Em redor dos navios esticados
Atravessamos fileiras de cavalos
Que sacudiam suas crinas nos alísios
O mar tornou-se de repente muito novo e muito antigo
Para mostrar as praias
E um povo
De homens recém-criados ainda cor de barro
Ainda nus ainda deslumbrados
EM - MAR - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - CAMINHO
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Poema da selva - ANTÓNIO GEDEÃO
Se eu não fosse eu, teria ido além
e voltado contente.
Como não fui, resta-me este degrau
p'ra pensar nisso.
Andar no mundo
é como atravessar o continente negro
do berço à contracosta.
Vai-se crescendo e andando. Sonhando enquanto é tempo.
Depois...
Depois todos o sabem. As metáforas são fáceis.
São os olhos que espreitam na escuridão do mato,
redondos como sóis e acesos como chamas.
São os uivos, mais longos do que o fôlego,
que brocam a folhagem e esfrangalham os nervos.
São os ruídos secos, rasteiros e insinuantes,
no restolho macio, almofadado e húmido.
São os silêncios, os crivos de buracos imensos,
engolidores de espasmos e de espantos.
São isto e mais aquilo.
São aquilo e mais isto.
E assim por aí fora.
Todos o sabem no momento certo.
É só esperar um pouco.
EM - OBRA COMPLETA - ANTÓNIO GEDEÃO - RELÓGIO D'ÁGUA
e voltado contente.
Como não fui, resta-me este degrau
p'ra pensar nisso.
Andar no mundo
é como atravessar o continente negro
do berço à contracosta.
Vai-se crescendo e andando. Sonhando enquanto é tempo.
Depois...
Depois todos o sabem. As metáforas são fáceis.
São os olhos que espreitam na escuridão do mato,
redondos como sóis e acesos como chamas.
São os uivos, mais longos do que o fôlego,
que brocam a folhagem e esfrangalham os nervos.
São os ruídos secos, rasteiros e insinuantes,
no restolho macio, almofadado e húmido.
São os silêncios, os crivos de buracos imensos,
engolidores de espasmos e de espantos.
São isto e mais aquilo.
São aquilo e mais isto.
E assim por aí fora.
Todos o sabem no momento certo.
É só esperar um pouco.
EM - OBRA COMPLETA - ANTÓNIO GEDEÃO - RELÓGIO D'ÁGUA
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Ruídos da alma - TELMA ESTEVÃO
Diz-me alma inquieta
porque tens sede de infinito?
Porque vais colhendo cores e formas
respirando lembranças e desejos
florescendo com palavras
e voando em espasmos constantemente?
Diz-me alma perturbada
porque te embriagas e gritas sílabas de prazer?
Ah! Pudesses tu ter pétalas
aveludadas, suaves e delicadas
encantar com a tua feição de menina
Desenhar poemas perfumados
e bem perto do ouvido
ouvir o ruído e o sorriso
dos sonhos ao anoitecer
Ah! Triste alma
órfã de tantos sonhos suspensos
EM - A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS II - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
porque tens sede de infinito?
Porque vais colhendo cores e formas
respirando lembranças e desejos
florescendo com palavras
e voando em espasmos constantemente?
Diz-me alma perturbada
porque te embriagas e gritas sílabas de prazer?
Ah! Pudesses tu ter pétalas
aveludadas, suaves e delicadas
encantar com a tua feição de menina
Desenhar poemas perfumados
e bem perto do ouvido
ouvir o ruído e o sorriso
dos sonhos ao anoitecer
Ah! Triste alma
órfã de tantos sonhos suspensos
EM - A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS II - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ
domingo, 5 de janeiro de 2014
Líquido - MARIA FÁTIMA SOARES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Deixas-me em conturbado
estado líquido.
A mim... que não sou bloco de gelo
que faço tudo para sê-lo,
me esforço para não derreter.
Líquida é como me deixas,
com pesos na consciência
nessa tua competência
de me fazeres sempre queixas
que não quero ouvir,
tão pouco ver.
Liquidificas-me com os teus reparos.
Quando o que preciso é de aparos
e de escrever.
EM - JOGOS DE ÁGUA SERENA - MARIA FÁTIMA SOARES - LUA DE MARFIM
sábado, 4 de janeiro de 2014
Gosto de... - FERNANDO JORGE BENEVIDES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
Gosto de
gostar-te
Gosto
de sonhar...
de ser
um sonhador
um romântico
incurável
Gosto
de aromas suaves
em que os cheiros
fiquem no ar
Gosto
do beijo saído
dos lábios teus
de rompante
sensual atraído
aos lábios meus...
Gosto
que me ocupes
o tempo
me ocupes
o coração
me ocupes
o pensamento
Gosto
de sentir
que mais nada
existe
quando estou
contigo
Gosto de
gostar-te
EM - O GESTO E O OLHAR - FERNANDO JORGE BENEVIDES - EDIÇÕES OZ
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Ousemos - CARLOS TEIXEIRA PINTO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Ouso dizer-te que "sem querer" te amo
ouso dizer que é teu nome que chamo
quando a noite impostora não se vai embora
ousa dizer de teus olhos fugitivos
ousa amar como se ama nos livros
e eu escrevo um contigo, pela vida fora...
EM - DE AMOR E POESIA - CARLOS TEIXEIRA PINTO - UNIVERSUS
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Ausência - MARIETE LISBOA GUERRA
Recordo-te na névoa dos dias
na aurora cinza da lágrima
ensopados por outras
passadas
Alívio a brancura dos olhos
por esquinas e cafés,
os meus dedos esfolados
passos vãos, desencontrados
Estás tão perto,
estendo o coração e a pontinha toca-te
Sinto-te tão longe e estás perto
EM - LÓTUS JASMIN LADO A LADO - MARIETE LISBOA GUERRA - EDIÇÕES OZ
na aurora cinza da lágrima
ensopados por outras
passadas
Alívio a brancura dos olhos
por esquinas e cafés,
os meus dedos esfolados
passos vãos, desencontrados
Estás tão perto,
estendo o coração e a pontinha toca-te
Sinto-te tão longe e estás perto
EM - LÓTUS JASMIN LADO A LADO - MARIETE LISBOA GUERRA - EDIÇÕES OZ
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
Lembrando Dom Dinis - VÍTOR CINTRA
Gastando o tempo na governação,
engrandeceu a sua realeza.
Do seu reino fez uma lição.
Foi ele o pai da língua portuguesa.
Poeta grande, até no seu saber
tornar-se exímio como trovador,
compôs "canções de escárnio e mal dizer",
"canções de amigo", e "canções de amor".
Mas, ao criar a Universidade,
deu ao futuro a oportunidade
de na ciência ter o bem maior.
Mostrou o tempo que soube reinar
quer p'la vontade, grande, de educar
quer p'lo engenho como "Lavrador".
EM - NAS MARGENS DO ESQUECIMENTO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
engrandeceu a sua realeza.
Do seu reino fez uma lição.
Foi ele o pai da língua portuguesa.
Poeta grande, até no seu saber
tornar-se exímio como trovador,
compôs "canções de escárnio e mal dizer",
"canções de amigo", e "canções de amor".
Mas, ao criar a Universidade,
deu ao futuro a oportunidade
de na ciência ter o bem maior.
Mostrou o tempo que soube reinar
quer p'la vontade, grande, de educar
quer p'lo engenho como "Lavrador".
EM - NAS MARGENS DO ESQUECIMENTO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
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