Acumulo
retratos desfocados
viagens dispersas danos
moratórias
Mas também a ciência animal
de lamber as feridas, a furtiva alegria
a caminho da noite para matar
a sede na corrente.
EM - COISAS QUE NUNCA - INÊS LOURENÇO - &ETC
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Obsessão - JOSÉ ANTÓNIO ALMEIDA
Numa só coisa porfio:
outra vez ver o teu corpo
na minha cama despido,
de livro folhas abertas
com os dois braços cruzados
atrás do rosto de efebo
- devorando cada letra
em meu quarto no segredo.
De noite o membro de nácar
sempre com donaire erguido
acróstico no teu peito
começado sem ter fim.
EM - OBSESSÃO - JOSÉ ANTÓNIO ALMEIDA -&ETC
outra vez ver o teu corpo
na minha cama despido,
de livro folhas abertas
com os dois braços cruzados
atrás do rosto de efebo
- devorando cada letra
em meu quarto no segredo.
De noite o membro de nácar
sempre com donaire erguido
acróstico no teu peito
começado sem ter fim.
EM - OBSESSÃO - JOSÉ ANTÓNIO ALMEIDA -&ETC
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
IV - VIEIRA CALADO
Vamos o presente desbravando (e o ocaso?)
das afinidades atómicas
e das forças fronteira entre o ser e o corpo
anteriores ao corpo
íntimas de ardência e cinzas
onde se lê a árvore venerável o orvalho breve
das folhas prostradas na noite das estrelas
e o gume dum coração indeciso
restituídos de ecos petrificados
eco de ecos inextinguíveis
em abstracções de corpos já extintos
que se espalham pelo espaço cercado
trepidante de paixões e medos
na infinda busca pelo jade em verde clorofila
esculpido nuns olhos da cor das ondas
no apogeu do ciclo, despojando-se em cristais
de branco azul, sobre as areias duma praia.
EM - VIAGEM ATRAVÉS DA LUZ - VIEIRA CALADO - PAPIRO EDITORA
das afinidades atómicas
e das forças fronteira entre o ser e o corpo
anteriores ao corpo
íntimas de ardência e cinzas
onde se lê a árvore venerável o orvalho breve
das folhas prostradas na noite das estrelas
e o gume dum coração indeciso
restituídos de ecos petrificados
eco de ecos inextinguíveis
em abstracções de corpos já extintos
que se espalham pelo espaço cercado
trepidante de paixões e medos
na infinda busca pelo jade em verde clorofila
esculpido nuns olhos da cor das ondas
no apogeu do ciclo, despojando-se em cristais
de branco azul, sobre as areias duma praia.
EM - VIAGEM ATRAVÉS DA LUZ - VIEIRA CALADO - PAPIRO EDITORA
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
A missão das palavras - EDUARDO ALEIXO
Palavras gravadas na pedra
e oferecidas ao vento do amor.
Palavras com cheiro de pele, de sangue, de suor,
de dor, de riso e de esperança,
embrulhadas como prendas
e levadas no bico dos pássaros.
Palavras leves, beijos de água,
que servem para lavar as mágoas.
Palavras aladas, luminosas, musicais,
que se reportam ao percurso da alma...
EM - AS PALAVRAS SÃO DE ÁGUA - EDUARDO ALEIXO - CHIADO EDITORA
e oferecidas ao vento do amor.
Palavras com cheiro de pele, de sangue, de suor,
de dor, de riso e de esperança,
embrulhadas como prendas
e levadas no bico dos pássaros.
Palavras leves, beijos de água,
que servem para lavar as mágoas.
Palavras aladas, luminosas, musicais,
que se reportam ao percurso da alma...
EM - AS PALAVRAS SÃO DE ÁGUA - EDUARDO ALEIXO - CHIADO EDITORA
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Ler-te - HELENA ISABEL
Esperando magia
Nesta tarde fria
Quero-te antes de escurecer
Queda-se a vontade de esperar.
Em ti quero pernoitar
Amar-te nos meus braços
No teu regaço suspirar
Na tua cama quero acordar.
Oiço o murmúrio da tua voz
Como sol ao madrugar.
Teu corpo desejo prouver
Nos teus encantos adormecer.
Esquecer a realidade...
Todas aquelas palavras que nós dizemos
Que sorrimos...
Sei aquilo que te poderia explicar,
Sem medos e fobias.
Mas não te quero perder
E muito fica por dizer
Quero amar-te na penumbra da noite
Quero suspirar-te, gemer-te
Ao alvorecer.
Nos primeiros raios da manhã
Eu quero ler-te.
EM - LER-TE - HELENA ISABEL - WAF
Nesta tarde fria
Quero-te antes de escurecer
Queda-se a vontade de esperar.
Em ti quero pernoitar
Amar-te nos meus braços
No teu regaço suspirar
Na tua cama quero acordar.
Oiço o murmúrio da tua voz
Como sol ao madrugar.
Teu corpo desejo prouver
Nos teus encantos adormecer.
Esquecer a realidade...
Todas aquelas palavras que nós dizemos
Que sorrimos...
Sei aquilo que te poderia explicar,
Sem medos e fobias.
Mas não te quero perder
E muito fica por dizer
Quero amar-te na penumbra da noite
Quero suspirar-te, gemer-te
Ao alvorecer.
Nos primeiros raios da manhã
Eu quero ler-te.
EM - LER-TE - HELENA ISABEL - WAF
domingo, 26 de dezembro de 2010
Para ti - SANTA CRUZ
Eu estou enamorado...
Pelo teu olhar,
Pelo teu sorriso,
Pelo jeito do teu ser.
Pelos teus murmúrios...
Pelos teus beijos,
E pelos teus abraços.
Sonhei... e sonhei-te assim.
A ti dedico os meus sonhos
Loucos.
Porque esta Paixão é eterna:
Foi para ti... que guardei o melhor
De mim.
És e serás sempre para mim
O meu eterno e doce amor.
EM - SILÊNCIO DOS MEUS SONHOS - SANTA CRUZ - TEMAS ORIGINAIS
Pelo teu olhar,
Pelo teu sorriso,
Pelo jeito do teu ser.
Pelos teus murmúrios...
Pelos teus beijos,
E pelos teus abraços.
Sonhei... e sonhei-te assim.
A ti dedico os meus sonhos
Loucos.
Porque esta Paixão é eterna:
Foi para ti... que guardei o melhor
De mim.
És e serás sempre para mim
O meu eterno e doce amor.
EM - SILÊNCIO DOS MEUS SONHOS - SANTA CRUZ - TEMAS ORIGINAIS
sábado, 25 de dezembro de 2010
Não tenho mais... - VERA L. T. SANTOS
Não tenho mais que dizer-te
quando digo da manhã aberta
saindo-nos da boca.
Não tenho mais que dizer-te
quando digo do corpo que se eleva
recluso,
do teu rosto. Eterna luz.
EM - CARDIO.GRAFIA - VERA L. T. SANTOS - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Ab initio... - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO
Cem poemas
Do arquivo...
São poemas
Ao que eu vivo,
Sem poemas
Sem sentido
Só poemas
«De Amigo»...
Tais poemas,
Pois então,
Os poemas
Que escrevi,
O que são?
O que senti...
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
Do arquivo...
São poemas
Ao que eu vivo,
Sem poemas
Sem sentido
Só poemas
«De Amigo»...
Tais poemas,
Pois então,
Os poemas
Que escrevi,
O que são?
O que senti...
Em - CEM POEMAS... DIVERSOS - ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Sagres - JOSÉ AUGUSTO DE CARVALHO
Tu foste o promontório-desafio
a um povo que em si mesmo não cabia
e ousou, no longe ignoto do vazio,
o ser que o seu não-ser lhe prometia...
E foi, numa incerteza de aventura,
a lenda e a legenda e a raiz!
Foi a ânsia de encontrar-se na procura,
erguendo o seu destino como quis...
Rasgou e desvendou e foi em vão,
buscando sempre o porto por achar,
e sempre de si mesmo se perdia,,,
Visão dos horizontes-dimensão,
gajeiro que da gávea céu e mar
jamais além do sonho enxergaria!
em - DO MAR E DE NÓS - JOSÉ AUGUSTO DE CARVALHO - TEMAS ORIGINAIS
a um povo que em si mesmo não cabia
e ousou, no longe ignoto do vazio,
o ser que o seu não-ser lhe prometia...
E foi, numa incerteza de aventura,
a lenda e a legenda e a raiz!
Foi a ânsia de encontrar-se na procura,
erguendo o seu destino como quis...
Rasgou e desvendou e foi em vão,
buscando sempre o porto por achar,
e sempre de si mesmo se perdia,,,
Visão dos horizontes-dimensão,
gajeiro que da gávea céu e mar
jamais além do sonho enxergaria!
em - DO MAR E DE NÓS - JOSÉ AUGUSTO DE CARVALHO - TEMAS ORIGINAIS
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Re... começo - DALILA MOURA BAIÃO
Algures, em mentes esquecidas
existem cavalos doirados
que dançam e rodopiam
em planícies de magia.
Algures, em florestas ermas
com clareiras de luar
existem sonhos perdidos
no meu sonho a galopar.
Vai galopando na esperança
no encanto e na loucura
na busca, no encontrar...
cais de chegada e partida
ponte sem grades, sem muros
Algures... por conquistar
in... Varandas de luar - DALILA MOURA BAIÃO - Temas Originais
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Fui sentada em ti - MANUELA FONSECA
Fui sentada em ti
Por esse planeta adiado
Escureci as ideias
Enganei-te na verdade
E viajei-te no erro
De seres assim
Continuei a viagem
Imitando as sombras
Que contraí
E nunca desisti
Vim moldada em ti
Doente de roturas
E falhas de ozonos
Admiti a esperança
Em fé de ti
E comecei por mim
in... Poesia sem remetente - MANUELA FONSECA - Temas Originais
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Quadras - FERNANDO PESSOA
I
Tenho um segredo a dizer-te
Que não te posso dizer.
E com isto já t'o disse
Estavas farta de o saber...
II
Tenho um segredo tamanho
Que não o posso contar
Senão àquela a quem tenho
Esse amor. Estou-te a falar.
III
Dá-me um sorriso ao Domingo
Para à Segunda eu lembrar.
Bem sabes como te sigo
Sem que seguir seja achar.
IV
Escorreguei no teu olhar
E perdendo pé em mim
Resvalei contra teu seio.
O caso passou-se assim.
V
O manjerico comprado
não é melhor que o que dão.
Põe o manjerico ao lado
e dá-me o teu coração.
VI
A tampa da cafeteira
Caiu e saltou no chão...
Mas que bonita maneira
De me dizeres que não!...
VII
A do lenço já caído
Que veio da feira agora
Ri sem razão nem sentido,
Mas não vi onde ela mora.
in... Quadras - FERNANDO PESSOA - Assírio & Alvim
domingo, 19 de dezembro de 2010
Calo-me - EMANUEL LOMELINO
Pela boca é que morre o peixe
E aos poucos eu vou morrendo
Pelas palavras que vou dizendo
Sem que a minha boca se feche
Sou impulsivo, tenho meus dias
Nem sempre sei ser ponderado
Nunca soube como ficar calado
Por falar assim quebro magias
Cala-te boca que és imprudente
Apenas falas para dizer asneiras
Eu sou quem mais fica a perder
Abre-te ó boca, apenas e somente
Não para dizer essas baboseiras
Mas só coisas que mereço dizer
in... Aprendiz de poeta - EMANUEL LOMELINO - Temas Originais
sábado, 18 de dezembro de 2010
A ilha do arcanjo - NATÁLIA CORREIA
Eu vos direi da ilha que na dorna
do Arcanjo é eterna em chão escasso.
Fulva de gado ao dia. À noite, morna.
Embebida no verde. E o mar colaço.
Ilhado alumbramento em templo torna
a unção de contemplar. Um ténue traço
de garça entre água e céu. A paz encorna
em lagoa e lavoura o tempo e o espaço.
Tanto silêncio confiado à luz!
Treme um nenúfar se um trilo tremeluz.
Caiam o sol de azul os agapantos.
Na cevadeira a broa luminosa,
romeiros nos persignam com uma rosa.
Suas rezas joeiram pombos santos.
in... Poesia completa - NATÁLIA CORREIA - Dom Quixote
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Tens o dom do mal - MANUELA FONSECA
Espalhado nas ruas desertas
Ensanguentadas
De risos nocivos
E mulheres prenhes de lágrimas
Debruçadas sob o efeito
Do teu cinismo vomitado
Na fronteira de um mundo
De secura silenciosa
Onde a paz
Só tem bilhete de ida
Em pequenos corpos
Ainda mornos
Onde o teu fogo
Já só é artifício
in... Poesia sem remetente - MANUELA FONSECA - Temas Originais
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Assim, um nome que prezo,... - MÁRIO SAA
Assim, um nome que prezo,
Tão baixinho quanto eu,
Ganhou em forma do céu
Por perder a forma e o peso.
Como objecto de culto
Já o não digo a ninguém,
Se não àquele que tem
O mesmo sentir oculto,
Que percebe estas letrices
De sensação ilibadas,
De energia transformadas
Em litúrgicas crendices.
Sou o padre deste altar,
Duma virgem de novela
Que se diz na Terra estrela
E que é uma Estrela no Ar.
Rezo-lhe este cantochão
Que o Padre Oceano enturbado
Levará ao Outro Lado
Num suspiro do vozeirão.
in... Poesia e alguma prosa - MÁRIO SAA - INCM
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Idílio - ANTERO DE QUENTAL
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos de um fôlego as colinas
Do rocio da noite inda orvalhadas;
Ou vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe no horizonte amontoadas;
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...
O vento e o mar murmuram orações
E a poesia das cousas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
in... Poemas de amor - ANTOLOGIA - Dom Quixote
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Como queiras, amor... - JORGE DE SENA
Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
Entregue a ti, Amor, eu me dedico.
Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.
As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de malcontente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.
Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.
in... Antologia Poética - JORGE DE SENA - Guimarães
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
As lágrimas soltam-se - MANUELA FONSECA
As lágrimas soltam-se
Em cataratas possantes
Espírito selvagem e do vento
Que em silêncio escorre da planície
Não quero secá-las em adeus
Nem possuí-las
Em cânticos de louvor
Quero soltá-las
Libertá-las e adoçá-las
De tanta mágoa e dor
Sem que seja preciso procurá-las
in... Poesia sem remetente - MANUELA FONSECA - Temas Originais
domingo, 12 de dezembro de 2010
Vontades dos Deuses - EMANUEL LOMELINO
Se os Deuses me permitissem a ousadia
Daria ao mundo um poema derradeiro
Encerrava nele toda a beleza da poesia
E a mensagem correria o mundo inteiro
Se os Deuses me deixassem ser poeta
Escreveria mil versos de eterna paixão
Comporia um longo adágio de profeta
Que o mundo declamaria como oração
Se os Deuses estivessem do meu lado
E soprassem os versos que mais amo
Os meus poemas seriam o meu legado
Se os Deuses preferissem um aprendiz
De mim sairiam os poemas que clamo
E o mundo só poderia mesmo ser feliz
in... Aprendiz de poeta - EMANUEL LOMELINO - Temas Originais
sábado, 11 de dezembro de 2010
SOU XII - EMANUEL LOMELINO
Sou apenas e só um murmúrio de vento
Elementar brisa, quiçá dotada de talento
Simples em qualquer situação da vida
Sou bonança constante, tranquilidade
Digo apenas o que sei com sinceridade
Eu me disciplinei, não tenho outra saída
Mas também posso ser intenso vendaval
Passar da acalmia a tempestade tropical
Dependendo exclusivamente das situações
Apesar de ser difícil assim ficar, acontece
Converto-me em furacão, o sangue aquece
Então nasce em mim a fúria de mil tufões
Como uma força da natureza, destruidora
Após a cólera volta a calma apaziguadora
Até parecendo que nada especial se passou
Tudo regressa ao início, fico muito sereno
Retorna então o meu temperamento ameno
Nada sensacional revelei, eis como eu sou
in... Amador do verso - EMANUEL LOMELINO - Temas Originais
CONVITES
O autor EMANUEL LOMELINO e a TEMAS ORIGINAIS têm o prazer de convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro APRENDIZ DE POETA, a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo Sábado dia 11 de Dezembro, pelas 16.00h.Obra e autor serão apresentados pelo poeta XAVIER ZARCO
E também
A autora MANUELA FONSECA e a TEMAS ORIGINAIS têm o prazer de convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro POESIA SEM REMETENTE, a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo Sábado dia 11 de Dezembro, pelas 19.00h.Obra e autora serão apresentados pelo poeta ANTÓNIO MR MARTINS
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
As aves magnéticas - TIAGO PATRÍCIO
PRÉMIO DANIEL FARIA 2009
As aves magnéticas limam as arestas do vento
são mensageiras insondáveis dos corpos
e manipulam a atracção e o espanto
Fazem a decantação do crepúsculo
e aproximam a gravidade do sangue
Tecem novelos a partir de raios incompletos
e diminuem a espera dos acontecimentos
resolvem o princípio da dúvida
e tecem uma miragem de milhares de anos
como pêndulos ou barcos exumados da maré
in... O livro das aves - TIAGO PATRÍCIO - Quasi
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Delírio Amoroso - MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
Meus olhos, atentai no meu jazigo,
Que o momento da morte está chegando;
Lá soa o corvo, intérprete do fado;
Bem o entendo, bem sei, fala comigo:
Triunfa, Amor, gloria-te, inimigo;
E tu, que vês com dor meu duro estado,
Volve à terra o cadáver macerado,
O despojo mortal do triste amigo:
Na campa, que o cobrir, piedoso Albano,
Ministra aos corações, que Amor flagela,
Terror, piedade, aviso, e desengano:
Abre em meu nome este epitáfio nela:
«Eu fui, ternos mortais, o terno Elmano;
Morri de ingratidões, matou-me Isbela.»
in... Antologia poética - Bocage - Verbo
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Minha culpa - FLORBELA ESPANCA
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta so Senhor...
Sei lá quem sou? Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
in... Sonetos - FLORBELA ESPANCA - Bertrand
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Transforma-se o amador na cousa amada* - LUIS VAZ DE CAMÕES
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu jeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
in... Poemas de amor - ANTOLOGIA - Dom Quixote
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Enterro - MÁRIO SAA
E num gesto suave de quem se extingue
Perdia na distância o lis da cinta,
Esta linda filhinha, alma distinta,
Esprito que na ausência se distingue.
Na ausência lhe nasceu uma rosa brava
E o orvalho da saudade, água tão pingue
Que escorria, fluía e soterrava
Tudo o que em branda água mal se extingue.
Acenos de despedida, árvores dos montes,
Turbantes ao luar e mulheres nas fontes
Deslumbravam a noite em rudos ais.
Num antigo pendão, solene e triste,
Meu velho coração, porque partiste
Num antigo pendão, para nunca mais?!
in... Poesia e alguma prosa - MÁRIO SAA - INCM
domingo, 5 de dezembro de 2010
Gazetilha - ÁLVARO DE CAMPOS
Dos Lloyd Georges da Babilónia
Não reza a história nada.
Dos Briands da Assíria ou do Egipto,
Dos Trotskys de qualquer colónia
Grega ou romana já passada,
O nome é morto, inda que escrito.
Só o parvo dum poeta, ou um louco
Que fazia filosofia,
Ou um geómetra maduro,
Sobrevive a esse tanto pouco
Que está lá para trás no escuro
E nem a história já historia.
Ó grandes homens do Momento!
Ó grandes glórias a ferver
De quem a obscuridade foge!
Aproveitem sem pensamento!
Tratem da fama e do comer,
Que amanhã é dos loucos de hoje!
in... Poesia - ÁLVARO DE CAMPOS - Assírio & Alvim
* Álvaro de Campos é um dos heterónimos de Fernando Pessoa
Não reza a história nada.
Dos Briands da Assíria ou do Egipto,
Dos Trotskys de qualquer colónia
Grega ou romana já passada,
O nome é morto, inda que escrito.
Só o parvo dum poeta, ou um louco
Que fazia filosofia,
Ou um geómetra maduro,
Sobrevive a esse tanto pouco
Que está lá para trás no escuro
E nem a história já historia.
Ó grandes homens do Momento!
Ó grandes glórias a ferver
De quem a obscuridade foge!
Aproveitem sem pensamento!
Tratem da fama e do comer,
Que amanhã é dos loucos de hoje!
in... Poesia - ÁLVARO DE CAMPOS - Assírio & Alvim
* Álvaro de Campos é um dos heterónimos de Fernando Pessoa
sábado, 4 de dezembro de 2010
Amor à vista - FERNANDO ECHAVARRIA
Entras como um punhal
até à minha vida.
Regas de estrelas e de sal
a carne da ferida.
Instala-te nas minas.
Dinamita e devora.
Porque quem assassinas
é um monstro de lágrimas que adora.
Dá-me um beijo ou a morte.
Anda. Avança.
Deixa lá a esperança
para quem a suporte.
Mas o mar e os montes...
isso, sim.
Não te amedrontes.
Atira-os sobre mim.
Atira-os de espada.
Porque ficas vencida
ou desta minha vida
não fica nada.
Mar e montes teus beijos, meu amor,
sobre os meus férreos dentes.
Mar e montes esperados com terror
de que te ausentes.
Mar e montes teus beijos, meu amor!...
in... Poemas de amor - ANTOLOGIA - Dom Quixote
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Aves clandestinas - TIAGO PATRÍCIO
Há aves de quem nos queremos lembrar
ou que nunca vimos, aves desempossadas
cobertas por campanários de literatura
Aves clandestinas numa curva adjacente
imponderadas pelo desgaste das palavras
como veias carregadas de tinta subversiva
Aves que espalhavam ideias como sangue
e escondiam tipografias por turnos
na encenação decisiva dos incêndios
in... O livro das aves - TIAGO PATRÍCIO - Quasi
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
A el-rei D. Dinis - ANTÓNIO FERREIRA
Quem é este de insígnias diferentes,
Ceptro, e picão, e livro, e espada, e arado?
Este foi paz de Reis, e amor das gentes,
Grande Dinis, Rei nunca assaz louvado.
Outros foram nua* só cousa excelentes:
Este com todas nobreceu seu estado.
Regeu, edificou, lavrou, venceu,
Honrou as Musas, poetou e leu.
in... Castro e poemas lusitanos - ANTÓNIO FERREIRA - Verbo
* numa
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Paixão - LILI LARANJO
Palavra forte...
Forte como a vida...
Forte como o vento...
Paixão do jogo...
Paixão da multidão...
E eu sinto...
A força que tem...
Esta paixão...
O que domina...
O que dói...
E o que alegra...
Pois paixão...
Quando vivida...
Intensamente...
A espera do resultado
É apenas...
Paixão momentânea...
Que logo morre...
E com paixão...
Já vamos aguardar...
O próximo jogo.
in... O Sporting em poesia - LILI LARANJO - Fronteira do caos
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