terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Como queiras, amor... - JORGE DE SENA


Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
Entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de malcontente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.

in... Antologia Poética - JORGE DE SENA - Guimarães

2 comentários:

  1. Um poema magnífico de que sempre gostei muito.
    Manu, eu tenho de pedir desculpa por não ter podido ir ao lançamento. Faltei a três eventos importantes e a que gostaria muito de ter ido, mas estava sem um tostão e mal me conseguia mexer.
    Enorme abraço!

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  2. Poema forte em sentimentos , pesando uma justificação que o conduz a um estado de resignação por parte do amador. Belo Poema.

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