sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Pobre, negra, homossexual - REGINA BOSTULIM

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(para marielle, a que levou tiros na cabeça)

quando uma mulher se mexe incomoda
quando uma mulher se vira incomoda
imagine uma mulher a se importar
com crianças desvalidas
com vítimas de balas perdidas
com gestantes parindo na porta de hospitais
deve ter incomodado muito mesmo
incomodado os poderes
sejam eles quais forem
institucionalizados
é fácil dizer que ela foi vítima das circunstâncias
e que não haveria outro fim para ela
senão o do martírio
que ela mesma escolheu este caminho
mas sabe
sendo mulher
teria tido o mesmo destino
sendo mãe
também o mesmo destino
- não há segurança -
mas escolher lutar pelos mais fracos
ali ela selou seu destino
incomoda muito tentar fazer o certo
muito mais fácil não fazer nada
se omitir
ela tentou bravamente
mas ainda
falar de abusos policiais é proibido
proibido o amor lésbico
proibida a educação de carenciados
proibidos partos mais humanos a carenciados
quem sabe com mais marielles
ceifam uma surgem outras
a semeadura é aleatória
a colheita implacável
ceifaram uma
virão outras
disto sim tenho a certeza
esta a esperança que me move

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS II - ANTOLOGIA - IN-FINITA

1 comentário:

  1. Mais do que nunca este poema é atual. A mulher política que se preocupava com senhoras e crianças carenciadas recebe o silêncio, depois de um crime sem justificativa alguma. E ainda há os que a recriminam e tentam associar sua morte a outras circunstâncias. Foi um crime político. E nesta dura fase que o Brasil enfrenta, é necessário mais que nunca o surgimento de novos heróis, sim só sendo herói para suportar tanto sofrimento.

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