sábado, 25 de setembro de 2010

Ao fim do dia - ANTÓNIO BOTTO


Nesta fonte que fala na surdina
De qualquer coisa que eu não sei ouvir
Matei agora mesmo a minha sede
E sentei-me ao pé dela a descansar.

Não havia no ar mais do que a luz
Finíssima da tarde num adeus...
Uma luz moribunda e solitária
A despedir-se frágil pelos céus.

E à medida que a luz se diluía
Nas sombras que nasciam lentamente
A fonte no silêncio mais se ouvia,
Mais límpida, mais pura e mais presente...

Anoiteceu. Ninguém. Só a voz dela,
Só essa voz... Ao longe, num desmaio
O timbre vivo e pálido de um grito...
Levantei-me. Deixei-a. Tristemente
Acendeu-se uma estrela no infinito.

in... Canções e outros poemas - ANTÓNIO BOTTO - Quasi

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