terça-feira, 20 de maio de 2014

Dia de mar aceso... - AMÉLIA VIEIRA

Dia de mar aceso nas lâminas deste nada.
Enorme oceano que se estende.
Rios de brumosas torrentes.
Em círculo lunar fomos vencidos, à hora sexta, num crístico estar de mitos.
Por isso a nossa busca faz-se e concretiza-se - Cabala de véus - rosas marinhas - a nossa consciência é um potro que caminha.
O percurso alonga-se, galgando cabalino ser o lado do presente.
O caminho sou eu, querido Perseu, incendiando o que me promete a mente!

EM - REVELAÇÕES SOLARES - AMÉLIA VIEIRA - VEGA

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Navegar... - CECÍLIA VILAS BOAS

Hoje, madrugada transparente e brilhante,
Fiz-me ao mar, na caravela da vida.

Velas brancas, fazem o barco navegar rápido,
Sinto o vento nos meus cabelos, que me afaga, levemente
Olho o céu, beleza azul que se mistura com o oceano
O sol cumprimenta-me e acompanha a viagem.

As gaivotas em voos calmos, sobrevoam o meu sentir.
Navego, sem rumo, fecho os olhos, cheiro o mar
Ouço o silêncio e desejo permanecer.

Absorta, imprimo na alma este beleza natural
Voltarei, ficarei, só o meu desejo ditará.

EM - ÂMBAR E MEL - CECÍLIA VILAS BOAS - CHIADO EDITORA

domingo, 18 de maio de 2014

Versos do prisioneiro(1) - MIA COUTO

Deixei de rezar.

Nas paredes
rabiscadas de obscenidades
nenhum santo me escuta.

Deus vive só
e eu sou o único
que toca a sua infinita lágrima.

Deixei de rezar.

Deus está numa outra prisão.

EM - IDADES CIDADES DIVINDADES - MIA COUTO - CAMINHO

sábado, 17 de maio de 2014

Madrugada - LÍLIA TAVARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Madrugada. Sim, e as palavras por companhia.
Sinto-me despida de mim quando releio os poemas
que vou apartando como ovelhas a balir
antes de se acalmarem no abrigo.
Sim, desabrigada me vejo ao destapar
o véu dos meus versos. Mas leve cai a calma
sobre eles como um lenço branco de cambraia...

EM - PARTO COM OS VENTOS - LÍLIA TAVARES - KREAMUS

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Novo respirar - EMANUEL LOMELINO

O ar que inspiro em golfadas urgentes
queima-me os pulmões calcinados
pelas respirações da outra existência.
As velhas cicatrizes ainda não sararam
e as dores teimam em marcar presença.
Cerro os dentes na eterna esperança
que toda a fúria deste novo respirar
seja o reinício que a vida me prometeu.

EM - NOVO RESPIRAR - EMANUEL LOMELINO - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Febre - MARIA FÁTIMA SOARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Arde-me a boca, com falta da tua
dói-me a pele nua,
como a terra, seca à planta
Não sei que mais faça...
Não sei.
Definho.
Mas consigo ficar no meu caminho.
Sem brilho. Amor. Sozinho.
Consigo aniquilar-me
tão bem...
Quando me arde a boca,
me dói a pele
estou mais além,
de tudo. Onde...
Não há terra de que brote flor,
de seca.
Como está a minha boca.
Me está a pele... Seca!
De amor!

EM - JOGOS DE ÁGUA SERENA - MARIA FÁTIMA SOARES - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 14 de maio de 2014

13 - VICTOR OLIVEIRA MATEUS

Toda a noite a lua
dançou dançou na orla do palmeiral. Seus braços de fina prata revestiam de brilho o vermelho da terra; armadilha de astro cego na desordem do mundo.
E toda a noite ela saltou, rodopiou, encenou a mais estranha coreografia no silêncio eloquente dos céus. Inconstante lua. Dissimulada. Vai-te imagem de mil abismos - tu que a tantos enredas com tuas múltiplas faces. Vai-te. Vai-te sinal do efémero, maga do instante . tu que na vida dos homens, sempre que queres, entras e sais. Vai-te e não voltes mais.

EM - PELO DESERTO AS MINHAS MÃOS - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - COISAS DE LER

terça-feira, 13 de maio de 2014

Volto a um lugar gémeo da memória - GRAÇA PIRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Volto a um lugar gémeo da memória
e retenho um diálogo a dançar-me nos lábios:
amo-te como no tempo em que o meu corpo era uma ilha
e nenhuma palavra me parecia intrusa dentro da tua boca.
Amo-te. vejo na tua face a pátria e o exílio
onde, simultaneamente, me sinto.
Chamo-te a minha fuga, asas desenhadas no meu riso.

Direi o fascínio que sobrou do gosto das cerejas
e lembrarei, devagar, o culto da sedução e dos abraços.
Conta-me, meu amor, o sabor do pão na tua boca.
Conta-mo com adjectivos sôfregos e claros,
para que a minha sede invente o vinho novo,
no cântaro onde a terra ausculta todos os regatos.

EM - POEMAS ESCOLHIDOS 1990/2011 - GRAÇA PIRES - EDIÇÃO DE AUTOR

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pureza - SÍLVIA SILVA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Tanta saudade,
Tanta alegria
Tantos estilhaços de optimismo;
É tão forte!
E é tão vivo...
É a única certeza
Deram-me, simplesmente...
A maior pureza!
De um novo sentimento.

EM - SONHOS DE PRATA E OURO - SÍLVIA SILVA - UNIVERSUS

domingo, 11 de maio de 2014

Olhem o balão - GABRIELA PAIS

Andam balões no ar
distraídos no folguedo
rodopiam até estoirar
e acaba o brinquedo.

Andam cabeças para o ar viradas
que se parecem com a criançada,
estas têm sonhos, outras... gaitadas,
mas que desmedida palhaçada.

Ó meninos olhem pro balão...
É de graça ainda não se paga taxa,
mas se pensam... é dinheiro em caixa.

EM - CASTELO DE LETRAS - GABRIELA PAIS - LUA DE MARFIM

sábado, 10 de maio de 2014

Ainda - ANTÓNIO MR MARTINS

Ainda
O tempo nos destinava
O destino que nos rendia

Ainda
A razão não contemplava
A situação que nos sorria

Ainda
A Lua manobrava
O sossego de quem dormia

Ainda
A noite desbravava
O ocaso para mais um dia

Ainda
O Sol não brilhava
Com a luz que nos alumia

Ainda
A amanhã não chegava
Já o futuro nos unia

EM - MARGEM DO SER - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Quem fala - ANTÓNIO RAMOS ROSA

Quem fala
não sou eu
é o outro o que me expulsou
da concha do meu sol

É ele que caminha nos meus passos
e eu olho-o e esqueço-o
Quem pode suportar em reflexo?
Quem pode viver contra o seu duplo?

Eu digo eu ainda
mas sou eu que declino
sou eu que caio
com a ferida do sol que ele me arrancou

EM - NUMA FOLHA LEVE E LIVRE - ANTÓNIO RAMOS ROSA - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O grito - MARIA ROSA MARQUES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Num grito de tanta dor
amarfalhada no peito
sem uma palavra de amor
um sonho na alma desfeito
só a chuva que abundante cai
ma esconde na escuridão
com esta saudade
que em mim desliza
sem piedade...
e mesmo na solidão
jamais se vai

Dor que rasgas meu coração
apertas, sufocas, sem compaixão

Num tormento caminho
sem destino nem guarida
renascer, eu queria
noutro mundo, noutra vida

EM - RENASCER - MARIA ROSA MARQUES - EDIÇÕES OZ

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Tu não precisas dos livros dos sábios - EDUARDO ALEIXO

Tu não precisas dos livros dos sábios
Para vires falar sobre o voo das gaivotas
Nem sobre o escoar leve das areias finas
Pelos dedos das tuas mãos
Nem sobre o azul do céu e das ondas do mar!
E não precisas,
Porque tudo está nos teus olhos,
Nas tuas mãos,
Na pele do teu corpo,
Pincel mágico
Que pintou o quadro vivo do poema.

EM - OS CAMINHOS DO SILÊNCIO - EDUARDO ALEIXO - CHIADO EDITORA

terça-feira, 6 de maio de 2014

XXIX - SÉRGIO FRANCLIM

Duas moedas para o barqueiro
E um sonho para renascer...

A noite turva-se como sempre
Na escuridão do cansaço.
Minha alma alarga-se no Obscuro,
E conquisto o terror dos mistérios.

Morrerei! E serei sempre outro,
Não tendo nada mais
Do que duas moedas para o barqueiro.
Atravessarei o rio dos Infernos,
Esperando tirar do leito infernal
O plano de Deus - o desejo
De renascer, de ser outro e de nada ter.

Duas moedas sobre os meus olhos -
Duas moedas para o barqueiro.

EM - ETERNO VIAJANTE - SÉRGIO FRANCLIM - MINISTÉRIO DOS LIVROS EDITORES

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A rosa de Horoshima - VINICIUS DE MORAES

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa sem cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - VINICIUS DE MORAES - DOM QUIXOTE

domingo, 4 de maio de 2014

Quero guardar no interior das mãos* - GRAÇA PIRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Quero guardar no interior das mãos
a esquiva cintilância das manhãs inadiadas.
Quero palavras com punhais de raiva
a ferir o grito dos cumes,
a riscar o ventre da neve com minuciosas unhas.
E viro do avesso o manto do olhar
para chegar à Montanha Mágica
quando Hans Castorp fazia um esforço
para ver e deparava com o nada,
o remoinho branco do nada.

EM - POEMAS ESCOLHIDOS 1990/2011 - GRAÇA PIRES - EDIÇÃO DE AUTOR

sábado, 3 de maio de 2014

Campo de batalha - MARIA FÁTIMA SOARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Não vou exumar mortos,
nem cortar pulsos,
não vou dizer obscenidades
engolir mais atrocidades,
ou penas.
Sou um campo de batalha,
duma urna, uma mortalha
sou do lume um acendalha
e sou minha, tua, de quem me quiser
Porque escrevo!
Ao fazê-lo,
deixo de ser só de nós,
para passar a ser do povo
sem deixar de ser mulher.
De génio vincado.
Ar determinado
Que não se dá... A qualquer!

EM - JOGOS DE ÁGUA SERENA - MARIA FÁTIMA SOARES - LUA DE MARFIM

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A declaração - SÍLVIA SILVA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Reúnes tudo o que quero, o que pedi...
É sincero!
O que sinto;
Fazes o meu ser e mundo!
Cair a teus pés...
Faças o que fizeres, ajas como agires
Continuarás a ser como considero...
A beleza dos meu olhos.

EM - SONHOS DE PRATA E OURO - SÍLVIA SILVA - UNIVERSUS

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O amor voa - GABRIELA PAIS

O amor voa sem embaraço
no peito e sente-o pulsar
coração vive o cansaço
de correr para o agarrar.

Acha-se rei a blasonar
o encanto de passo a passo
o amor voa sem embaraço
no peito sente-o pulsar.

O amor deseja pedaço
da ternura de um olhar
arrulha, dá-lhe regaço
partir o laço e abismar
o amor voa sem embaraço.

EM - CASTELO DE LETRAS - GABRIELA PAIS - LUA DE MARFIM