sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Aquela árvore - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Trepei aquela árvore que fez de nós amantes.
Sentei-me no tronco onde nos beijámos antes.
Pensei ali te encontrar
mas tu não estavas.
Teu ser partiu, voou
e noutra árvore pousou.
Tua boca, teus beijos
se perdem numa outra flor.
Saltei para outro tronco
aquele onde nos amámos com fervor
também não estavas...
Tuas mãos, teu corpo
se entregavam a um outro amor.
Carinhos e beijos.
Ternuras e desejos.
Tudo se perdeu de mim.
E eu,
trepei aquela árvore que fez de nós amantes.

EM - ENCONTRO-ME NAS PALAVRAS - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - TEMAS ORIGINAIS

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Natal - VÍTOR CINTRA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTOR
Cidade acolhedora e arrumada
Aonde o povo é franco e cativante,
Com uma história antiga, preservada,
E até um cajueiro, que é gigante.

Às praias, com extensos areais,
O mar, que as vem beijar, faz-lhe afagos.
Recifes, que se seguem aos mangais,
São base para o Forte dos Reis Magos.

Que importa se Albuquerque ou Mascarenhas
Foi quem, no fim do segre dezasseis,
Fundando-te te quis chamar "dos Reis";

Importa é que as belezas, que desenhas,
E o teu viver, em paz, prosperidade,
Tornaram-te excelência de cidade.

EM - POR TERRAS DE VERA CRUZ - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Néctar - LUANA LUA

Bebes...
Néctar do amor
Sumo da uva
Do lugar sagrado
A minha v(ulva)...
Apaixonado... embriagado
Bebes-me o desejo
Sentado em mim, o corpo te beijo...
Peles endiabradas... perdidas, molhadas
No tempo que não tem hora
Desejo em orv(alhadas)
No corpo que te adora...
Mesa farta, o nosso manjar
Amor meu, quero-te amar
Não quero coisa pouca
Sou-te bebida louca
... na tua boca...

EM - A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS - ANTOLOGIA - EDIÇÕES OZ

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Foi a neblina... - CARLOS TEIXEIRA LUIS

Foi a neblina que aqui me levou
Foram passos que dei sem saber
Descobri esta sala onde o sol bate
e a janela dá para um modesto jardim
japonês Sento o poema e deixo que ele
respire solto no auditório nobre
Está tanta gente que não se ouve o poema
Não se ouve a ode aos dias para
quê a poesia assim
Fico com as crianças as senhoras
africanas da limpeza dois ou três
vagabundos ébrios e escutamos
uma doce redondilha tão antiga como
a amizade e o vinho

EM - HOMEM-ÁRVORE - CARLOS TEIXEIRA LUIS - LUA DE MARFIM

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Apanho algas na maré baixa - LÍLIA TAVARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Apanho algas na maré baixa
mais acastanhadas que
os meus cabelos revoltos.
Canto com o piar das gaivotas
cantadas plenas de vento.
Morto o ar com as mãos abertas
envoltas nas águas frias.
Salto as minhas saias de solidão
molhadas de espantos azuis
ocultas nas areias que me levantam...

EM - PARTO COM OS VENTOS - LÍLIA TAVARES - KREAMUS

domingo, 15 de dezembro de 2013

Pensamento - FERNANDO JORGE BENEVIDES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
De repente soltei uma gargalhada em silêncio.
Tens razão no que me transmites!
Também não sou perfeito...
Mas, digo sempre o que penso e com a verdade.
Nada me impede de dizer o que sinto,
o que penso, e o que faço.
Sou o não "politicamente correcto".
Essa frase para mim não faz sentido.
Sou o que sou e nada mais posso exigir
a não ser de mim e a mim mesmo.
Tento a cada dia e a cada instante
tornar-me uma pessoa melhor é com o saber que cresço.

EM - O GESTO E O OLHAR - FERNANDO JORGE BENEVIDES - EDIÇÕES OZ

sábado, 14 de dezembro de 2013

Uma criança - MARIA DE FÁTIMA SOARES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Era um menino,
tão pequenino, que o próprio Menino
se admirava
de como ele lhe rezava.

Era um menino,
tão pequenino, triste e sozinho
que orava. Não por prendas ou dinheiro
mas pela paz no mundo inteiro.

EM - LUGARES E PALAVRAS DE NATAL - ANTOLOGIA - LUGAR DA PALAVRA

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Se nas mãos... - GISELA RAMOS ROSA

Se nas mãos encontrássemos os elos
por que tecemos os dias
e com elas revelássemos o Sol
que em nós faz crescer as manhãs

pedir-te-ia um ocaso suspenso entre os dedos
para que nesse instante figurasse o tempo
mediador de vozes e silêncios concretos

agora, desta janela reescrevemos as casas
os sóis de um só fruto ainda por dizer

EM - TRADUÇÃO DAS MANHÃS - GISELA RAMOS ROSA - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sempre Natal - LITA LISBOA

A ti criança
que me olhas
com olhos de água doce,
sorri, com esperança,
porque o teu sorriso
traz alegria,
te ilumina a vida,
para um feliz amanhã,
onde serás sempre querida,
numa vida real.
E o teu sorriso
fará com que os dias
sejam sempre dias
de um feliz Natal.

EM - POR UM SORRISO - ANTOLOGIA - TEMAS ORIGINAIS

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Passagem - CRISTINA SILVEIRA DE CARVALHO

se um dia o mar galgar os diques
e estreitar essas avenidas
em que o teu sorriso me deteve

se as estrelas que desenhei para ti
cederem ao adejar dos morcegos
que de perto te vigiam

sei que haverá uma passagem:
atravessa-a com verde nos olhos
e leva-me ao colo

leva-me ao colo como prometes
leva-me ao colo como tanto desejo.

EM - UM INSTANTE ASSIM - CRISTINA SILVEIRA DE CARVALHO - LUA DE MARFIM

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Já não há Natal - ANA COELHO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Dezembro... os telhados choram gotas frias
com a sombra dos montes brancos
na rua o silêncio... as luzes brilham
no verde pinho eterno símbolo...

Dentro dos ninhos os embrulhos enrugados
com laços (des)feitos já não sorriem por ser Natal...

Já não há Natal... é tudo um embuste
no coração e nas mentes
o anfitrião foi esquecido
trocado pelo barrete vermelho
de um velho lendário
repleto de prendas... pacotes de nada!

Já não há Natal
porque Jesus ficou no beiral esquecido
chora a desfalecida fé da humanidade
que do maior milagre de Amor
fez um colorido artificial
onde os laços enforcam a mensagem
de um Nascimento fundamental
para a união dos povos num Natal real
onde a vida é a partilha em dádiva de verdade!

EM - LUGARES E PALAVRAS DE NATAL - ANTOLOGIA - LUGAR DA PALAVRA

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Avião - AL BERTO

envolto num lençol de cal duas cintilações
sobre as pálpebras húmidas e um ardor perfura
a noite onde uma ponte atravessa um rio

o voo é demorado
ficaste a saber que nem deus é eterno
desfez-se no erro daquilo que criou perdeu-se
nas suas imperfeições e certezas

agora
pela janela do avião vês como tudo é mínimo
lá em baixo - quando a oriente da loucura
a mão cinzenta do inverno perdura no rosto
daqueles que sonolentos viajam dentro
deste pequeno túmulo de serenidade

EM - HORTO DE INCÊNDIO - AL BERTO - ASSÍRIO & ALVIM

domingo, 8 de dezembro de 2013

Tatuagem - ALBERTO RIOGRANDE

Arde-me a pele quando te penso.
Queria partir liberto
e voar por aí
como quem corre
demoradamente o mundo
sem fraquejar
no teu desejo,
a cada instante na tua carne
na pressa dos teus passos.
Consigo ouvi-los esmagando o asfalto,
o ranger da escada
a pele ávida viajando pela tua,
ainda faltam
sete degraus.
Dispo-te com o olhar.
E espero-te. Com a ânsia do abutre núbio.

EM - OFÍCIO DOS PÁSSAROS - ALBERTO RIOGRANDE - LUA DE MARFIM

sábado, 7 de dezembro de 2013

O relógio - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS

Pára-me um tempo por dentro
passa-me um tempo por fora.

O tempo que foi constante
no meu contratempo estar
passa-me agora adiante
como se fosse parar.
Por cada relógio certo
no tempo que sou agora
há um tempo descoberto
no tempo que se demora.

Fica-me o tempo por dentro
passa-me o tempo por fora.

EM - OBRA POÉTICA - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS - EDIÇÕES AVANTE

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Entardecer - DOMINGOS MONTEIRO

Começa a entardecer. Pelo caminho,
orlado d'oliveiras, vai andando,
arrimado ao cajado, um pobrezinho
em passo vacilante, meditando...

Ao longe desce o sol, devagarinho,
o seu manto de púrpura arrastando;
e na várzea sombria, junto ao ninho,
ouve-se um rouxinol que está cantando.

Hora cheia de unção a do sol-pôr!
Nos pinheirais as rolas, com amor,
noivam sorrindo, arrulham docemente.

E o pobrezinho continua a andar...
mas parece mais vago o seu cismar
e maior a tristeza que ele sente.

EM - POESIA - DOMINGOS MONTEIRO - INCM

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Eu digo não ao não - AUSENDA HILÁRIO

Solucei o teu pranto
quando as tuas mãos vazias
se abeiraram de mim
e eu entrelaçava a vida
negando o não.
Deixei que me levasses
no teu esgar de encanto
e levaste-me tanto da alma
como das asas
envolta num mágico desacordar
sem tempo de dizer não.
Agora, por não ter asas
tombei
a alma, essa deixei-a voar
para que na consciência de ti pousasse
e me ensinasse do não, a dor.
E para que se não partisse
no meu tombo o coração
coloquei-o devagarinho no chão
esperando que seja curta a mágoa
e no lugar de frágua espargida
me renasçam as asas
negando o não!

EM - EU DIGO NÃO AO NÃO - ANTOLOGIA - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Emigrante - RITA FARIAS

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Cheguei...
Já cheira a Natal!
Tinha saudades
de vossas feições
e de nossas tradições.

No meu canto
não havia harmonia,
nem companhia
para todo este festejo
no deleito de encanto.
Havia ambiente
faltava muita gente.
Gélido e vazio
sem nexo,
tudo uma correria.
Embarco para meu ninho
quente e seguro,
que travessia é magia.
e natal é família!

EM - LUGARES E PALAVRAS DE NATAL 2013 - ANTOLOGIA - LUGAR DA PALAVRA

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Desfolhada - FERNANDO JORGE BENEVIDES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
Na luz da saudade
sentado no velho canavial
sonho mundos
invento momentos...
voo nas asas do vento
p'ra lá do imaginável

Abro as portas ao mundo
Dos meus lábios
sopram ventos favoráveis
para que navegues
em meu corpo!

Esquece as noites frias
que te ausentem de mim
e...
prende-te às minhas mãos

Vem!!...
Antes que o vento
desfolhe as minhas folhas

EM - O GESTO E O OLHAR - FERNANDO JORGE BENEVIDES - EDIÇÕES OZ

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O sentimento puro - ÂNGELA GONÇALVES

Sinto-me livre, ousada
A minha imaginação e a audácia
Andam de mão dada
À espera que a luz da fantasia as desperte
Num brilho de alma criativa.

Não é amor, nem sentimento,
É poesia e todo o seu talento!

A audaz magia das palavras
Tem o dom da fantasia imaginada.
A solidão desaparece,
O vazio é preenchido
Com o brilho do impulso arrebatado.

Assim acontece ao ler, imaginar ou sonhar,
Ao beber da palavra destemida,
A poesia canta em todo o nosso ser.

Revitalizemos este sentimento alegre de travo a maresia
E a sensação do coração completo.

É essa a função da Audaz Fantasia!

EM - AUDAZ FANTASIA - ANTOLOGIA - UNIVERSUS

domingo, 1 de dezembro de 2013

Se a minha lastimosa desventura* - MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE

Se a minha lastimosa desventura
irreparável é, se trago escrito
no rosto cor da morte o meu delito,
que louca ideia os passos me segura?

Ah! Some-te, infeliz, foge, e procura
margens quais as do lívido Cocito,
brenhas, matos, sertões, errante, aflito,
até que vás parar na sepultura:

oh nume enganador, nume falsário!
Oh lúbrica Fortuna de quem rego
em vão com triste pranto o santuário!

Já sem violência em tuas mãos me entrego;
sim, vária, aqui me tens inda mais vário,
cego, a ti me abandono, inda mais cego!

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - BOCAGE - VERBO