domingo, 1 de dezembro de 2013

Se a minha lastimosa desventura* - MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE

Se a minha lastimosa desventura
irreparável é, se trago escrito
no rosto cor da morte o meu delito,
que louca ideia os passos me segura?

Ah! Some-te, infeliz, foge, e procura
margens quais as do lívido Cocito,
brenhas, matos, sertões, errante, aflito,
até que vás parar na sepultura:

oh nume enganador, nume falsário!
Oh lúbrica Fortuna de quem rego
em vão com triste pranto o santuário!

Já sem violência em tuas mãos me entrego;
sim, vária, aqui me tens inda mais vário,
cego, a ti me abandono, inda mais cego!

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - BOCAGE - VERBO

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