terça-feira, 20 de julho de 2021

Cantiga de florada - ZITO JR.

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Quando é tempo de boa invernada
No Sertão, agonia não se vê
O arado rasga a terra prum roçado
A as abelhas sobrevoam o muçambê
No chiqueiro, uma porca pra parir
Bem deitada, na lama, a se aquecer.

No cercado, ao lado, um barrão
Fuça o cocho, já bem farto de comer
Um cavalo selado descansa à sombra
Esperando o seu dono aparecer
Pra buscar uma boiada já comprada
Pra engordar e depois poder vender.

No terreiro tem guiné, também galinha
E um galo que anuncia o amanhecer
Os olhos distantes de uma raposa
Que o cardápio teve que rever
Pois o cão da casa estava atento
E formiga conhece o que roer.

Passarada traz o ouro da manhã
E pra toca já volta o sariguê
Sua catinga se espalha por um instante
E o cachorro cava o chão pra esconder
Um osso oriundo de um pirão
Bela forma de lhe agradecer.

De manhã, toda uma “bezerrama”
Congestiona a porteira do curral
Na ordenha, o vaqueiro já se empenha
Seu primeiro trabalho matinal
Depois disso, solta o gado em vasta manga
Pega uma foice e se dirige ao capinzal.

Forrageira ligada no armazém
Seu ruído bem de longe se escuta
O capim elefante é triturado
A carroça companheira de labuta
Todo cocho do curral abastecido
E é apenas o começo dessa “luta”!

Um carreiro empunhando o ferrão
Traz seus bois em lenta caminhada
Vem c’um carro de palma caprichado
Foi busca-lo ainda madrugada
Pra cortá-la todinha até meio-dia
Tem a ajuda de toda a meninada.

No quartinho dos fundos o movimento:
Grande tacho aquecendo a coalhada
Um fabrico de queijo se inicia
Pra alegria de toda a criançada
Pois bem sabe que no seu final
“Arrelique” será a “farinhada”.

Dessa forma, lembrei dos belos dias
Que se foram em grande disparada
Nem fazenda, nem gente, existe mais
Salvo uma ou outra foto restaurada
Minha infância foi o mote escolhido
Pr’essa simples cantiga de florada.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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