LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
O vinho bebido por copos de vidro grosso,
Ajudava a engolir as ainda mais grossas gotas de suor
Escorridas rosto abaixo,
Ao longo de um cálido dia de jeira.
E por entre a verborreia enxameada de dislates
Pairavam, naquele pisar e repisar de palavras,
Misturadas com o cheiro do mosto,
Os fluidos etéreos da pisa das uvas e do engaço.
Bebiam para afogar as mágoas,
Adormecendo a dor em copos e copos
Derramados pelas goelas
Até aos mares vermelhos
Que iam crescendo nas entranhas,
Minadas por metástases de sonhos remotos
Que a vida, a cada passo,
Se encarregava de cortar em abruptos socalcos.
E numa simbiose de causas e efeitos,
Daqueles rostos precocemente gastos
Pela rudeza da vida e da labuta,
As rugas quase se apagavam por instantes.
E a miséria arrancada ao peito transformava-se,
Como por magia,
Em orgias e lautos banquetes.
Tudo era perfeito entre a realidade
E a bizarria das conversas
Emergidas de uma nebulosa amálgama
De saberes feitos de experiências, risos e paixões.
E com paixão cada um cantava a (in)felicidade que aprendera
E ciosamente inventara,
Lançando-a em torrentes de vidas naufragadas
Em mares encapelados de ilusões.
Dedicado aos homens da minha terra,
que fazem parte do meu imaginário de infância,
num quadro de trabalho, paixão e sofrimento.
EM - O AMOR NÃO TEM SUJEITO - TITA TAVARES - IN-FINITA
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