domingo, 23 de agosto de 2020

Verbo Intransigente - HANNAH CAVALCANTI

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Todo cuidado é rouco
Está histérico
De tanto sussurrar
Todo meu corpo está pálido
Sem conseguir gozar
E sem desespero suficiente
É tudo inconsistente
No meu caminhar
Qual foi o meu delito?
Qual foi o meu pecado patético?
Estou atônita
Perpendicular
Econômica
E bem informada demais
Meu corpo é uma ameaça
Aos grandes planos
De destruição
Do futuro
Mas aonde fica o presente ?
Soterrado pela luta
Intransigente
Me sobram palavras
Me falta fôlego
Me sobra vazio
Do que restou
Já não piso no mundo
Nem o sinto fecundo
Como antes
É um peso
de mais de 500 anos
Que minha alma escora
Um tempo fora do tempo
Nós que sabemos “a verdade”
Temos a obrigação de dizê-la
A nós mesmos
Que não sabemos
Na verdade
Nem como
Se dizer era pouco
Agora ficou mudo
Em terra de cego e surdo
Quem não repete é rei
Só nos resta a volta
Dos poemas
De revolta

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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