Quero conhecer essa tua janela
abri-la, escancará-la de par em par
para que tu, ao abeirares-te dela
possas sorrir, talvez até cantar
Porque de janelas fechadas não gosto
e porque o sol e a lua devem entrar
deixarei que saboreies este mosto
que daqui a pouco começa a fermentar
Na janela de onde não vês o rio
deixarei o cheiro e o sabor a mar
sei que amanhã pode fazer frio
mas tens o meu braço pra te agasalhar
EM - MAR DE ABRIL - MARIA ERMELINDA MORGADO - LUA DE MARFIM
sábado, 30 de abril de 2016
sexta-feira, 29 de abril de 2016
29 - PEDRO TAMEN
Essa nudez de carne que vislumbro
nesta reviva pele que a mão trabalha
vem como luz na escuridão da cave
e qual espuma do mar desce na praia,
e a ferramenta é leve sendo chumbo
já sem força vetusta que se acabe.
EM - O LIVRO DO SAPATEIRO - PEDRO TAMEN - DOM QUIXOTE
nesta reviva pele que a mão trabalha
vem como luz na escuridão da cave
e qual espuma do mar desce na praia,
e a ferramenta é leve sendo chumbo
já sem força vetusta que se acabe.
EM - O LIVRO DO SAPATEIRO - PEDRO TAMEN - DOM QUIXOTE
quinta-feira, 28 de abril de 2016
XXVIII - DANIEL AFONSO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
como se cinzelam as letras
como se forma o mistério
das palavras
não sei
explicar mistérios
universos insondáveis
cânticos vulcânicos
da terra interior
tão-pouco
o assobiar do vento
as fúrias do mar
as alturas da montanha
o esvoaçar das aves
na suavidade dos fins da tarde
não te sei dizer
como se constrói
o poema
não te sei explicar
contemplo apenas
EM - DIAS DE SETEMBRO - DANIEL AFONSO - UNIVERSUS
quarta-feira, 27 de abril de 2016
Amêndoa - ANA MARQUES GASTÃO
E assim do corpo resta um ocre tudo-nada,
do coração um suspiro em terra húmida,
do tronco a emanação de júbilo ou tristeza
quando o rosto se expõe de tão oculto.
Somos ensurdecedores cravos ou esferas,
ramificações em holística natureza e canto,
giramos em espiral, sendo a rotação amorosa
e o trato cruel, invisivelmente linguístico.
E de tudo ou nada sobra um sabor amendoado
quando te esqueces de ti, e, tardia, escreves
uma palpitação herdada, a dor e a cor do fruto
que desconheces e desejas alquebrada em sonhos.
EM - ADORNOS - ANA MARQUES GASTÃO - DOM QUIXOTE
do coração um suspiro em terra húmida,
do tronco a emanação de júbilo ou tristeza
quando o rosto se expõe de tão oculto.
Somos ensurdecedores cravos ou esferas,
ramificações em holística natureza e canto,
giramos em espiral, sendo a rotação amorosa
e o trato cruel, invisivelmente linguístico.
E de tudo ou nada sobra um sabor amendoado
quando te esqueces de ti, e, tardia, escreves
uma palpitação herdada, a dor e a cor do fruto
que desconheces e desejas alquebrada em sonhos.
EM - ADORNOS - ANA MARQUES GASTÃO - DOM QUIXOTE
terça-feira, 26 de abril de 2016
Serenata - EUGÉNIO DE ANDRADE
Venho ao teu encontro a procurar
bondade, um céu de camponeses,
altas árvores onde o sol e a chuva
adormecem na mesma folha.
Não posso amar-te mais,
luz madura, espaço aberto.
Não posso dar-te mais do que te dou:
sangue, insónias, telegramas, dedos.
Aqui estou, fronte pura, rodeado
de sombra, de soluços, de perguntas.
Aceita esta ternura surda,
este jasmim aprisionado.
Nos meus lábios, melhor: no fogo,
talvez no pão, talvez na água,
para lá dos suplícios e do medo,
tu continuas: matinalmente.
EM - AS PALAVRAS INTERDITAS/ATÉ AMANHÃ - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
bondade, um céu de camponeses,
altas árvores onde o sol e a chuva
adormecem na mesma folha.
Não posso amar-te mais,
luz madura, espaço aberto.
Não posso dar-te mais do que te dou:
sangue, insónias, telegramas, dedos.
Aqui estou, fronte pura, rodeado
de sombra, de soluços, de perguntas.
Aceita esta ternura surda,
este jasmim aprisionado.
Nos meus lábios, melhor: no fogo,
talvez no pão, talvez na água,
para lá dos suplícios e do medo,
tu continuas: matinalmente.
EM - AS PALAVRAS INTERDITAS/ATÉ AMANHÃ - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Aliado - EMANUEL LOMELINO
O tempo é o melhor aliado
que um poema pode ter
por lhe dar a oportunidade
de revelar toda a extensão
da mensagem que contém.
O tempo dá peso ao poema.
Ou de forma mais metafórica:
o tempo engorda o poema.
EM - NOVO RESPIRAR - EMANUEL LOMELINO - LUA DE MARFIM
domingo, 24 de abril de 2016
Funcionário, o público - JOÃO RUI DE SOUSA
Este seu dia ajustado
numa sala onde balança
entre o papel que é o seu prado
e o escrevinhar algum lance
do relinchar burocrático
é um tempo alinhavado
com peripécias uivantes
e intervalos cantados
a cumprir aquilo que ordena
alguém algures distante
(o chefe - o engravatado
sobre esporas cintilantes),
é um tempo encurralado
com a cabeça a boiar
e o gesto condizente
ao bocejo do enfado
na mesa de funcionar
- perdido (nunca encontrado)
nas cavernas do horário.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
numa sala onde balança
entre o papel que é o seu prado
e o escrevinhar algum lance
do relinchar burocrático
é um tempo alinhavado
com peripécias uivantes
e intervalos cantados
a cumprir aquilo que ordena
alguém algures distante
(o chefe - o engravatado
sobre esporas cintilantes),
é um tempo encurralado
com a cabeça a boiar
e o gesto condizente
ao bocejo do enfado
na mesa de funcionar
- perdido (nunca encontrado)
nas cavernas do horário.
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
sábado, 23 de abril de 2016
Deixa para amanhã... - RUI ALMEIDA
Deixa para amanhã, para nunca,
A possibilidade de ir, de receber
O sol na cara. Fecha os olhos,
Encosta as mãos ao peito para
Sentires melhor a resignação. Fica
Aí, parado, não tentes rasgar
O pano que te cobre e impede
A suavidade dos movimentos. O céu
É azul, como sempre. Cada passo
Que dás é demonstração
Da inutilidade de tudo, cansaço
Acumulado sem destino nenhum.
EM - A SOLIDÃO COMO UM SENTIDO/DESESPERO - RUI ALMEIDA - LUA DE MARFIM
A possibilidade de ir, de receber
O sol na cara. Fecha os olhos,
Encosta as mãos ao peito para
Sentires melhor a resignação. Fica
Aí, parado, não tentes rasgar
O pano que te cobre e impede
A suavidade dos movimentos. O céu
É azul, como sempre. Cada passo
Que dás é demonstração
Da inutilidade de tudo, cansaço
Acumulado sem destino nenhum.
EM - A SOLIDÃO COMO UM SENTIDO/DESESPERO - RUI ALMEIDA - LUA DE MARFIM
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Noite - VERA SOUSA SILVA
O relâmpago rasga o céu
e estremece-me a cálida
sinfonia em desatino
matando o sono
e no quarto morto
há uma vertigem
e a cegueira aproxima-se
nas sombras que se movem
na luz que me fascina.
EM - ATÉ AMANHÃ - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
e estremece-me a cálida
sinfonia em desatino
matando o sono
e no quarto morto
há uma vertigem
e a cegueira aproxima-se
nas sombras que se movem
na luz que me fascina.
EM - ATÉ AMANHÃ - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Peso incerto - NUNO JÚDICE
A terra tem o peso de uma nuvem quando
cai sobre o corpo que lhe adormece nos braços;
e empurra-o para o seu fundo, onde se irá
transformar na raiz desta filosofia: deita-te
na terra sem dormir, ouvindo a sua respiração,
e levanta-te quando a nuvem passar sobre
ti, furando-a com um espinho de rosa
para que se desfaça em água. Então, em vez
de seres envolvido por lama e pedra,
mergulharás num oceano de névoa. E se
um dia te perguntarem a diferença entre
a terra e o céu, responde com a nuvem.
EM - GUIA DE CONCEITOS BÁSICOS - NUNO JÚDICE - DOM QUIXOTE
cai sobre o corpo que lhe adormece nos braços;
e empurra-o para o seu fundo, onde se irá
transformar na raiz desta filosofia: deita-te
na terra sem dormir, ouvindo a sua respiração,
e levanta-te quando a nuvem passar sobre
ti, furando-a com um espinho de rosa
para que se desfaça em água. Então, em vez
de seres envolvido por lama e pedra,
mergulharás num oceano de névoa. E se
um dia te perguntarem a diferença entre
a terra e o céu, responde com a nuvem.
EM - GUIA DE CONCEITOS BÁSICOS - NUNO JÚDICE - DOM QUIXOTE
quarta-feira, 20 de abril de 2016
Audaz fantasia - ALEXANDRE CARVALHO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
Maresia
Cheira a mar
E fantasia
Quero outro mundo encontrar.
Luzia a estrela suão ao luar
um visionário pôs-se a imaginar
qual Huxley
em tempo de sonhos
montado num pónei
altos voos medonhos
tosse convulsa terapia
em voo subsónico para a Academia
curando um mal de patologia
Nunca estudada em anatomia.
Aluvião se fez sentir,
a submersão combatida a dedal
imaginando a pedra filosofal
melhor seria usar o cálice de Graal.
Telefonia sem fios a ouvir
noticias do fim do mundo desalinhadas
há muito tempo por Nostradamus profetizadas
um novo mundo irá emergir
pensar um mundo em harmonia
não será Audaz Fantasia!
EM - CAVALETE COM POESIA - ALEXANDRE CARVALHO - UNIVERSUS
terça-feira, 19 de abril de 2016
Insistência - CASIMIRO DE BRITO
Inútil de músculos
vivo a esperar-te
tu-que-não-sei-quem-és
Mas quando vieres
se acaso vieres
o meu corpo cobrirá o teu corpo
e serás o hálito que me falta
o suicídio
a luz
E talvez te diga: Amanhece
tu-que-não-sei-como-és
mas a quem chamo
liberdade
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
vivo a esperar-te
tu-que-não-sei-quem-és
Mas quando vieres
se acaso vieres
o meu corpo cobrirá o teu corpo
e serás o hálito que me falta
o suicídio
a luz
E talvez te diga: Amanhece
tu-que-não-sei-como-és
mas a quem chamo
liberdade
EM - JARDINS DE GUERRA - CASIMIRO DE BRITO - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 18 de abril de 2016
22 - REGINA GOUVEIA
Mudo, o piano a carecer de afinação.
Outrora, mãos virtuosas faziam escorrer do teclado
suites, tocatas, fugas,
noturnos de Chopin,
sonatas de Schubert.
O ar ficava impregnado de
azul,
madressilva
e mel.
EM - QUANDO O MEL ESCORRE NAS SEARAS - REGINA GOUVEIA - LUA DE MARFIM
Outrora, mãos virtuosas faziam escorrer do teclado
suites, tocatas, fugas,
noturnos de Chopin,
sonatas de Schubert.
O ar ficava impregnado de
azul,
madressilva
e mel.
EM - QUANDO O MEL ESCORRE NAS SEARAS - REGINA GOUVEIA - LUA DE MARFIM
domingo, 17 de abril de 2016
Cravo as unhas... * - GRAÇA PIRES
Cravo as unhas na carne da indiferença.
Escrevo sangue
com o lápis gasto pela culpa acorrentada
à cegueira que desfoca os olhares
na bastardia dos abraços.
Digo fome
com os dentes colados à secura dos trigais
e às sobras rapadas nas latas do lixo.
Leio dor. Dolorosamente.
Em lugares desabrigados,
em portas franqueadas aos rasgões
da vida rondada pela morte.
EM - CLARIDADE QUE CEGA - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
Escrevo sangue
com o lápis gasto pela culpa acorrentada
à cegueira que desfoca os olhares
na bastardia dos abraços.
Digo fome
com os dentes colados à secura dos trigais
e às sobras rapadas nas latas do lixo.
Leio dor. Dolorosamente.
Em lugares desabrigados,
em portas franqueadas aos rasgões
da vida rondada pela morte.
EM - CLARIDADE QUE CEGA - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
sábado, 16 de abril de 2016
Morte em flor - MANUEL MADEIRA
Quando vieres, ó morte, hás-de encontrar
minha alegria em plena primavera.
Não deixarei as rosas soluçar,
hei-de morrer de pé como uma fera.
Os frutos já maduros hão-de sorrir
ao breve adeus da minha despedida:
- até logo, direi - até surgir de novo
em qualquer folha renascida.
Depois é o regresso à escuridão
da terra, a simular tranquilidade,
descrente aconselhando confiança.
Só receio, afinal, que o coração,
a sete palmos de profundidade,
não deixe adormecer a vizinhança.
EM - PARA A DECIFRAÇÃO DO CAOS - MANUEL MADEIRA - LUA DE MARFIM
minha alegria em plena primavera.
Não deixarei as rosas soluçar,
hei-de morrer de pé como uma fera.
Os frutos já maduros hão-de sorrir
ao breve adeus da minha despedida:
- até logo, direi - até surgir de novo
em qualquer folha renascida.
Depois é o regresso à escuridão
da terra, a simular tranquilidade,
descrente aconselhando confiança.
Só receio, afinal, que o coração,
a sete palmos de profundidade,
não deixe adormecer a vizinhança.
EM - PARA A DECIFRAÇÃO DO CAOS - MANUEL MADEIRA - LUA DE MARFIM
sexta-feira, 15 de abril de 2016
Coisas sem explicação - JACQUELINE AISENMAN
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Coisas sem explicação.
Uma flor voa
e depois cai no chão.
A brisa abraçando
a gente.
O canto de um pássaro
ecoando no jardim...
Liberdade!
A nuvem que, algodão tão branco,
se desmancha para melhor
desenhar no céu...
Um sorriso que passa
num rosto desconhecido
e ilumina o meu dia...
EM - PINTURA INGÉNUA - JACQUELINE AISENMAN - DESIGN EDITORA
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Perspectiva - MARIZA SORRISO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Segundo a física,
Duas pessoas não podem estar
Ao mesmo tempo
No mesmo lugar,
Por isso, é impossível
Termos, na íntegra,
O mesmo ponto de vista do outro.
EM - DAS RAÍZES DO CORAÇÃO - MARIZA SORRISO - SAPERE
quarta-feira, 13 de abril de 2016
54 - CASIMIRO DE BRITO
Há muito que não me lavo em águas limpas,
Diz o mestre; por mais barro que tragam
Do vento e da montanha
As águas são mais puras mais perfumadas
Longe dos homens. Observo-as
No chão - observo a virtude bem
Cultivada. Não preciso de ver o mar vinhoso
A pata do lobo as nuvens do outono
Para saber o peso dos pensamentos
Urbanos. Afasto-me e celebro
O culto antepassado: o fulgor
Das águas a cal rumorosa o pó das viagens
Sem regresso.
EM - NA VIA DO MESTRE - CASIMIRO DE BRITO - TEMAS ORIGINAIS
Diz o mestre; por mais barro que tragam
Do vento e da montanha
As águas são mais puras mais perfumadas
Longe dos homens. Observo-as
No chão - observo a virtude bem
Cultivada. Não preciso de ver o mar vinhoso
A pata do lobo as nuvens do outono
Para saber o peso dos pensamentos
Urbanos. Afasto-me e celebro
O culto antepassado: o fulgor
Das águas a cal rumorosa o pó das viagens
Sem regresso.
EM - NA VIA DO MESTRE - CASIMIRO DE BRITO - TEMAS ORIGINAIS
terça-feira, 12 de abril de 2016
Mafra - VÍTOR CINTRA
Primeiro um povoado neolítico,
Que os homens do passado edificaram.
Seguiu-se, em outro tempo bem mais crítico,
Um pouso onde os romanos se instalaram.
Depois os visigodos, que ficaram,
Até à invasão dos muçulmanos.
Os mouros um castelo levantaram
E a terra dominaram largos anos.
Mas quando Afonso Henriques, à chegada,
O viu, lá bem no topo da colina,
Impondo-se aos ribeiros e à ravina,
Lançou-se na conquista desejada,
Chamando Santo André como patrono
Da praça, que ruiu por abandono.
EM - RUÍNAS DA HISTÓRIA - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
Que os homens do passado edificaram.
Seguiu-se, em outro tempo bem mais crítico,
Um pouso onde os romanos se instalaram.
Depois os visigodos, que ficaram,
Até à invasão dos muçulmanos.
Os mouros um castelo levantaram
E a terra dominaram largos anos.
Mas quando Afonso Henriques, à chegada,
O viu, lá bem no topo da colina,
Impondo-se aos ribeiros e à ravina,
Lançou-se na conquista desejada,
Chamando Santo André como patrono
Da praça, que ruiu por abandono.
EM - RUÍNAS DA HISTÓRIA - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Destino - ANA CASANOVA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Esqueço o ontem
Seguindo para o amanhã.
Abdico das palavras
Existe um caminho
Eu sei...
Encontrei-o nos teus olhos!
EM - À FLOR DO TEMPO - ANA CASANOVA - EDIÇÃO DE AUTOR
domingo, 10 de abril de 2016
Cercada de mar roço a boca* - GRAÇA PIRES
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
Cercada de mar roço a boca
em sombras que reconheço.
Ressoa no meu corpo a rebentação
violenta das águas estremecendo
nas entranhas como um incêndio secreto.
E procuro recordar o meu primeiro amor.
Contudo só um rosto me perturba:
o único onde a intempérie me salva.
EM - ESPAÇO LIVRE COM BARCOS - GRAÇA PIRES - POÉTICA EDIÇÕES
sábado, 9 de abril de 2016
Ai de quem espera... - JOÃO RUI DE SOUSA

Ai de quem espera se desespera
se arranha em garra de fera
a sua cabeça esférica
a sua carne tangente
ao sossego de uma hera!
Ai de quem espera sem lenta
argamassa de paciência
em calma de estratosfera!
Ai de quem espera se tenta
um álcool que lhe aguente
a sisudez dessa espera!
EM - LAVRA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
sexta-feira, 8 de abril de 2016
Sou nada - MANUELA PASSARINHO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Sou Selva
Sou Descalça
Sou Terra Molhada
Sou África
Sou Capim
Sou Planície sem Estrada
Sou Moamba na mão
Sou Malga de coqueiro
Sou Conversa de Silêncios
Sou Nada de Rio
Sou Tudo de Chão
Sou Palhota sem Colmo
Sou Raiz
Sou Sol e Trovoada
Sou Bonança de Madrugada
EM - EM POESIA VOS AMO + EM RETRATOS VOS ENTENDO - MANUELA PASSARINHO - EDIÇÕES OZ
quinta-feira, 7 de abril de 2016
A solidão... * - RUI ALMEIDA
A solidão como um sentido,
Regra sabida antes
De qualquer possibilidade
De memória. Continua
A ser o vício do sopro
Para dentro, só para dentro,
Mantendo a falta
De força para ir
Até ao caminho que começa.
Como uma construção
Sem arte, a dormência
Sustenta lapsos, quebras,
O pó entranhado
E a silhueta de um rosto.
EM - A SOLIDÃO COMO UM SENTIDO/DESESPERO - RUI ALMEIDA - LUA DE MARFIM
Regra sabida antes
De qualquer possibilidade
De memória. Continua
A ser o vício do sopro
Para dentro, só para dentro,
Mantendo a falta
De força para ir
Até ao caminho que começa.
Como uma construção
Sem arte, a dormência
Sustenta lapsos, quebras,
O pó entranhado
E a silhueta de um rosto.
EM - A SOLIDÃO COMO UM SENTIDO/DESESPERO - RUI ALMEIDA - LUA DE MARFIM
quarta-feira, 6 de abril de 2016
IV - FERNANDO CABRITA
Não sei se há deus - e já não quero saber.
A luz transparece o mar
e o dia acordou fresco e bonito.
Os meus cães brincam a meu lado,
contentes por não terem perguntas.
E a sua felicidade é a minha liberdade.
EM - MEDITAÇÃO EM NOVEMBRO - FERNANDO CABRITA - LUA DE MARFIM
A luz transparece o mar
e o dia acordou fresco e bonito.
Os meus cães brincam a meu lado,
contentes por não terem perguntas.
E a sua felicidade é a minha liberdade.
EM - MEDITAÇÃO EM NOVEMBRO - FERNANDO CABRITA - LUA DE MARFIM
terça-feira, 5 de abril de 2016
Sem perdão - EMANUEL LOMELINO
Mesmo distantes, no tempo e no
espaço
Bem vivas, mantém-se as
memórias de ti
Entretenho o meu rosto nesse
teu regaço
Que só foi meu porque um dia
eu parti
Grito ao mundo - Amo-te! - sem
embaraço
E quantas mil vezes, de te
ter, eu desisti
Fico na saudade de te guardar
num abraço
Apenas miragem do corpo que
não senti
Vivo na ilusão dum amor;
eterno cansaço
Mas não deixei de te amar, tal
não permiti
Deste sonho de amor não me
desembaraço
Apenas me acuso de um amor que
omiti
E por calar um amor sofro de
vil solidão
Silêncio covarde que não
merece perdão
EM - IMPULSAÇÕES - EMANUEL LOMELINO - CHIADO EDITORA
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Garrett no limoeiro - MANUEL MADEIRA
Abrem-se as portas férreas da prisão
para receber Garrett. Olhos enxutos,
nenhum temor lhe agita o coração,
nada lhe tolhe os passos resolutos.
Conhece já a fome, e esse tormento
das horas sem ninguém - o cativeiro.
Só lhe faltava agora a expiação
das grades de silêncio o dia inteiro.
Tudo suporta o seu amor à luta:
a miséria, o exílio, a força bruta
e o fardo de soldado na caserna.
Que nada pode o despotismo duro
quando os homens se erguem contra o muro!
Canta, Poeta, a liberdade eterna.
EM - PARA A DECIFRAÇÃO DO CAOS - MANUEL MADEIRA - LUA DE MARFIM
para receber Garrett. Olhos enxutos,
nenhum temor lhe agita o coração,
nada lhe tolhe os passos resolutos.
Conhece já a fome, e esse tormento
das horas sem ninguém - o cativeiro.
Só lhe faltava agora a expiação
das grades de silêncio o dia inteiro.
Tudo suporta o seu amor à luta:
a miséria, o exílio, a força bruta
e o fardo de soldado na caserna.
Que nada pode o despotismo duro
quando os homens se erguem contra o muro!
Canta, Poeta, a liberdade eterna.
EM - PARA A DECIFRAÇÃO DO CAOS - MANUEL MADEIRA - LUA DE MARFIM
domingo, 3 de abril de 2016
Azul escuro - OLINDA BEJA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
alonga-se a tarde e regressa a noite
num compromisso de azul
um azul mais escuro que a auréola
com que o dia se adornou
regressam os sons acostumados
à vertigem das horas
ao ziguezaguear dos insectos da beira rio
ao desfolhar despudorado da sensitiva
dormentes as libélulas
ensaiam danças erotizantes
exibindo a transparência dos tecidos volúveis
à luz diáfana das estrelas
e no azul escuro teces as veias da madrugada
e embrulhas as palavras da noite
e vestes todas as constelações
EM - O CRUZEIRO DO SUL - OLINDA BEJA - EL TALLER DEL POETA
sábado, 2 de abril de 2016
5 - REGINA GOUVEIA
No pomar silencioso fundem-se
a música cósmica,
o crepitar das estrelas,
a luz argêntea da lua,
a fragrância dos frutos,
o sono dos pássaros,
que aguardam, em silêncio, as cores da manhã.
EM - QUANDO O MEL ESCORRE NAS SEARAS - REGINA GOUVEIA - LUA DE MARFIM
a música cósmica,
o crepitar das estrelas,
a luz argêntea da lua,
a fragrância dos frutos,
o sono dos pássaros,
que aguardam, em silêncio, as cores da manhã.
EM - QUANDO O MEL ESCORRE NAS SEARAS - REGINA GOUVEIA - LUA DE MARFIM
sexta-feira, 1 de abril de 2016
Estradas da minha vida - ROSÂNGELA DE SOUZA GOLDONI
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA POETA MARIZA SORRISO
Transito pelas estradas
num vai-e-vem contínuo;
sinto-me um tanto cansada
da Paz almejada, resíduos.
Vou me perdendo nas curvas
que outrora foram abrigos.
Sem conhecer a rota,
à cata d'algum sentido.
Sentido de sentimento,
sentido de direção,
qualquer sentido que traga
sossego ao meu coração.
EM - ENTRE O SAMBA, O FADO E A POESIA - ANTOLOGIA - DOWSLLEY EDITORA
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