domingo, 19 de maio de 2013

Quem morre no que diz - JOSÉ JORGE LETRIA

Sou o que me persegue e me envenena,
pois tudo começa e acaba
no círculo avassalador em que me movo.
Avizinho-me com lentidão felina
dos lugares onde se morre e se renasce
e transformo-me em palco de lumes,
na ficção última que me é dado representar.
Andam vozes lá fora a incendiar
os terraços largos do Verão,
e eu fico entontecido pela fúria da água
pelo desvelo das mãos que me alisam
os cabelos e as roupas num afago materno.
Tudo é fictício menos esta complacência
que me faz suportar o medo
quando só a última coragem
pode ser esperada de quem morre no que diz.

EM - POESIA ESCOLHIDA - JOSÉ JORGE LETRIA - INC

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