quinta-feira, 29 de março de 2012

Poema sete no Anfiteatro - JAIME ROCHA

A árvore, o cão, a pedra, um triângulo de ódio
saído de uma fogueira. Os homens estão vendados,
os dedos metidos em barras de ferro. Têm a carne
exposta para os muros, enquanto um leão se solta
e os persegue ao apelo de um grito. Há um homem
que aplaude vestido de vermelho. Quando ele
acena, os dedos saltam-lhe das mãos como se
fossem minúsculas bolas de bilhar espalhando-se
pela arena. O anfiteatro vive então os primeiros
dias incandescentes, sem tréguas, esmagando
cada gesto com um capacete. Ao fim de cada dia,
uma mulher com uma lâmina apanha
silenciosamente os fragmentos do cérebro e nesse
repasto o cão preto uiva enchendo-se de água.

EM - OS QUE VÃO MORRER - JAIME ROCHA - RELÓGIO D'ÁGUA

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