De vez em quando, o vento finge
que não está; amaina, dizem
os cegos, e fica-se sem saber
o que mais dói, se a gelada
combustão dos dedos,
se os lábios despedaçados
no recorre
da manhã. O vento
retoma então o seu mistério,
as dunas engolem os presságios,
como as casas as suas sombras,
cada coisa deposita
a sua lágrima de sono
na memória cintilante da noite.
De súbito, o vento reaparece:
é como se a luz
ardesse no olhar dos cegos,
ou alguma criança
morresse
nos braços da manhã.
EM - O TEMPO QUE NOS CABE - ANTÓNIO MEGA FERREIRA - ASSÍRIO & ALVIM
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