terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ah, um soneto - ÁLVARO DE CAMPOS*


Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão do mar
E que a vai relembrando pouco a pouco
Em casa a passear, a passear...

No movimento (eu mesmo me desloco
Nesta cadeira, só de o imaginar)
O mar abandonado fica em foco
No músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas - esta é boa! - era do coração
Que eu falava... e onde diabo estou eu agora
Com almirante em vez de sensação?...

in... Poesia - ÁLVARO DE CAMPOS - Assírio &Alvim

Site da editora aqui 

* Álvaro de Campos é um dos heterónimos de Fernando Pessoa

1 comentário:

  1. Maravilhoso estar aqui.
    Amar a poesia é vida que nos leva a planar, é brisa tanto mar, passarinhos a cantar e vento ligeiro que nos conduz a pensar..

    Obrigada pelo tua visita em meu espaço.
    Não pude vir antes. As peças do jogo, estavam embaralhadas e havia em cada, uma incógnita que eu precisava arrematar.
    Gostei daqui.

    A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou. (Karl Kraus)


    "A poesia é o eco da melodia do universo no coração dos humanos." (Rabindranath Tagore)

    Obrigada sempre pelo seu
    carinho...
    Perdoe-me o silêncio...

    Livinha

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