segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A musa e a flor - Celso Cordeiro

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Hoje tudo é desapontamento,
tanto te infligiram sofrimento,
julgavas ser Musa de alguém
que te tratava com desdém,

Cuidavas tanto da aparência,
como beleza da tua essência,
mas da tua busca pelo amor
já te resta apenas essa flor.

O corpo desnudo e prostrado
repousa agora abandonado,
depois de ter sido usado.

O gozo foi só de quem te viu,
de quem chegou e se serviu,
e logo de seguida partiu.

EM - A ARTE DE POETIZAR - COLETÂNEA (organização de António Alves, sobre telas de António Dias) - IN-FINITA

Prisioneira da liberdade (excerto) - Lídia Palminha

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Meu físico já cansaço, caiu;
meu coração chorava
lágrimas que meus olhos já não continham,
minha alma destroçada, gritava.
Minha jaula era antiga,
em tantas barras, havia uma porta…
Uma porta aberta!
Meus pés, pedra;
meus braços já não tinham força,
mas levaram-me até à porta,
como se minhoca pisada fosse.
Cansaço, tanto cansaço.
Adormeci profundamente,
adormeci sem qualquer esforço,
adormeci no abismo daquela velha jaula.
As minhas costas doíam,
era uma dor que há muito desconhecia
tal como desconhecia o que estava além da porta.
O medo… sempre o medo,
mas…
Eu estava adormecida!
...

EM - VELEIRO DAS SETE CORES - LÍDIA PALMINHA - IN-FINITA

domingo, 27 de outubro de 2024

Meu amado não te iludas (excerto) - Teresa Condeço Ferreira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Ah! meu amado não te iludas…
Agora que te escrevo este requiem em vida, guarda-o
junto com as outras cartas de amor e saudade que te
escrevi em morte.

Imagina-me assim sentada e abandonada dos cuidados
de um novo dia a compor estas palavras… estas não
que as risquei…

Sem a esperança do recomeço, envio-te a minha mortalha…
lá escrevi as últimas palavras, os últimos padecimentos…
será esta a minha derradeira volição… sei que de nada
vale, mas pouco mais tenho para te fazer chegar as minhas
últimas saudades… algo que de mim prezes…

Ah! meu amado derrama algumas lágrimas por mim!
Olha que as lamúrias dos anjos já descem sobre
a inevitabilidade da minha morte… terás tu piedade?
Serás tu o último a pensar-me?

EM - COUSA AMADA - COLETÂNEA - IN-FINITA

Coffee - Desafinador de palavras

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Passei o dia todo na cidade
Chegou a noite e eu descobri
Um lugar me foi revelado
Ao qual eu não resisti

Estava noite, mas foi como um brilho
Já de longe essa luz eu segui
Subi a rua com algum esforço
Quando entrei para o passado morri

Era um sítio muito diferente
Que eu não estava habituado
A mentira ficava à porta
E o amor ao nosso lado

Foi aí que eu morri
Para uma vida nova eu nasci
Todos aqueles que ali cooperam
Santos são ao seu olhar

Tu vais querer… Eu vou querer…
Tu vais mudar… Eu vou mudar…
Tu vais viver… Eu vou viver…
Sem recuar… Sem recuar…

EM - VIAGEM - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

Poesia Moderna - Ivo Álvares Furtado

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Poesia moderna, reformulada,
com uma ideia subjacente,
na poesia de hoje, sempre presente.
Peculiar e com cadência própria na rima
e frequentemente sem métrica,
esta nova poesia flui, incessantemente,
como uma corrente elétrica.
Nela cabe tudo, harmoniosamente,
com acurada perfeição estética.

Poesia cada vez mais incisiva e competente,
geradora de impulsos contundentes;
promotora de factuais realidades;
quais desideratos atingidos
e de alguma forma, concretizados.

Poesia de defesa de valores assumidos,
justos e bem definidos;
uma nova forma de poesia, consentânea,
com um novo modo de estar na vida!

EM - A LÍNGUA PORTUGUESA QUE NOS UNE - IVO ÁLVARES FURTADO - IN-FINITA

sábado, 26 de outubro de 2024

Redenção - Pedro Miguel Santos

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É assim, que os dias se sucedem…
No coração, vã esperança na felicidade, realidade?
Sonho ou utopia...
Se conseguisse eu congelar um momento,
seria o do meu nascimento!
Choro congelado, inconsequente, fantasia dormente...
Ah! Partir para um mundo de torpor, para um universo perfeito, comunhão com o invisível uno e indivisível…
Um universo sagrado natural, explicável na gradação
do conhecimento... A razão!
E assim na clareza dos dias, no torpor perante
o infinito, me redimo…
Sem que na balança, pese o delito!

EM - APÓS A ATLÂNTIDA - PEDRO MIGUEL SANTOS - IN-FINITA

Projécteis explosivos - Josefa de Maltezinho

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Custa-me a crer que o tempo, esse que vagueia
em absoluto silêncio, carregue tanta violência:
sem tranca eficaz para o inferno,
esvazia o lugar de uns,
dilui as pegadas de outros transformando-os
em anónimos,
cobre de teias de aranha a amálgama de casas
que a morte visitou.
Falo do fio ténue que nos sustém,
do torvelinho que ele aferra sem deferência
nos dentes
para o emudecer e cortar rente.
Passam as estações, os projécteis explosivos,
e pouco fica
de nós, estranhas criaturas,
para além de um amargo de boca em todas
as línguas

Desprezível rotina da barbárie,
esta a que assistimos de primeiro balcão.

EM - LÁGRIMAS POR GAZA - COLETÂNEA - IN-FINITA

A Volta do Breve - JackMichel

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Não cri quando revi o breve querido 
que pertencera a mim e ao meu 
marido: a mesma medalha presa ao 
fitilho verde e azul, da cor do céu,
da cor do mar! O tempo o levara em 
sua andança, mas trouxe-o de volta
um rapaz com rosto de criança.

EM - PETIT - JACKMICHEL - IN-FINITA

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Arte xávega - António Soares Ferreira

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Traz a rede cheia sem arrasto 
na areia fina vai pousar o lastro. 
Abre a “boca” sai a frescura 
do peixe que a carteira cura. 

Escolhe e separa em cada alguidar 
o peixe fresco ainda a saltar, 
mais tarde será vendido a quem o quiser 
e o pouco que sobra leva para a mulher. 

Lava e repara as redes já gastas, 
corroídas pelo tempo e por essas marés vastas. 
Guardam-se mágoas em cada jornada, 
lava-se o sal da pele salgada. 

Camisa aberta, não usa polaina, 
de novo enfrenta “a besta” na faina. 
Lança a rede quando ao largo navega, 
não é de arrasto esta “Arte xávega”.

EM - PALAVRAS QUE VOS TRAGO - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

Sem título - Clotilde Sampaio

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Com Raimundo, não deu certo,
Com Manoel, também não.
Com Aoud? Pior ainda.

Só deu certo com João,
Vitória, Ita e Jussara.
Mas estes, só são meus filhos.
E cada qual tem sua vida.

Esta é a questão da questão.

Por fim, no fim,
Eu só sou esta mulher sempre triste
Que não sabe se existe,
Se não existe,
Ou se só resiste.

EM - A INFINITA CLÔ - CLOTILDE SAMPAIO - IN-FINITA

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Era preciso o vento - Fátima Santos

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Era preciso navegar
Para as Molucas encontrar
Era preciso caminhar
E pelo bom vento esperar
Era preciso as velas enfunar
E novas rotas desvendar
Era preciso o vento
Para as velas das caravelas
Era preciso o vento
Para encontrar os caminhos
Da pimenta e dos cominhos
Era preciso o vento e o tormento
Era preciso o vento e o lamento
Para entre as ondas avançar
E o Olimpo sagrado abraçar.

EM - COSMOS POÉTICO - FÁTIMA SANTOS - IN-FINITA

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Ode d’ Clausura - Sílvia Silva

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A noite se prolonga
Num acorde de inspiração para a poetisa...
A noite se adensa...
Nos pensamentos e desvendar das intenções

E na calada, nesse manto de estrelas e brisas geladas
A brancura da lua e reflexo dela, brilhante...

Ela pergunta o que houve de errado
Se a conexão humana é tão inatingível...
Ou se ela foi exigente demais?

Como se passaram quatro anos?
Voou o tempo
E se como puderam esquecer do calor de um abraço
O energizar de uma troca
O sabor de uma carícia?

A súplica por mudança vai continuar, sim...
Enquanto ela for viva
E tão profundamente, se importar
Confinada às quatro paredes, cruz dispõe a comportar.

EM - A ARTE DE POETIZAR - COLETÂNEA (organização de António Alves, sobre telas de António Dias) - IN-FINITA

Hino à união mútua (excerto) - Lídia Palminha

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Tantas vezes caminhamos pela vida
de olhos focados somente no chão
envolvidos(as) pensamentos revoltos
sôfregos num mundo disperso, adverso.
Tantas vezes esquecemos de olhar para o Céu
de sentir o natural bater do coração
de tocar na própria face sentindo a pele
de acolher o nosso próprio abraço,
deslembrados(as) do que somos.
Envoltos(as) em névoas,
não percebemos as dádivas
mensagens de alegria, de amor,
no olhar para lá do infinito horizonte,
e a desesperança, acompanha a carência.

Ser solitário(a) não deve significar esquecer a existência
dos outros,
ou esquecer a mão que outrora para ti se estendeu
ou a presença que antes te foi doada
ou mesmo as lágrimas que um dia alguém te secou
ou até os sentires de dor que um dia alguém ao teu lado, confortou.
Ser solitário(a) deve ser também ouvir o mais profundo
da existência, sem julgar
é estar diante da adversidade e entender…

Entender que viver é uma dádiva
que tudo o que existe, tem um propósito maior
que a felicidade está na união que mesmo não entendida,
somente em ação faz os seus milagres.
...

EM - VELEIRO DAS SETE CORES - LÍDIA PALMINHA - IN-FINITA

terça-feira, 22 de outubro de 2024

O pensamento que invade o coração - Susana Veiga Branco

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O pensamento que invade o coração,
Semeando maus grãos na lavoura;
Com uma vil acidez vindoura,
O ser já não aguenta mais tal prisão.

Com a acalmia da pena perdeu o seu chão,
Será a vida um processo em salmoura?
Não posso conceber tal dor tão duradoura,
De tanto pensar fica um vazio de orfão.

A rosa iniciou o seu desfolhar,
Levando no vento pétalas grená,
De preto se revestem as entranhas,

Mas a esperança ainda vive para este fel drenar;
Tal dança enfim a respirar voltará,
Finalmente a paz sem artimanhas.

EM - COUSA AMADA - COLETÂNEA - IN-FINITA

Confia (excerto) - Desafinador de palavras

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Confia!…
Difícil?… Sim…, muito, muito difícil…
Mesmo quase impossível!
Mas, na luta!
A tentar confiar novamente em Deus…
A tentar confiar novamente na vida…
A tentar confiar novamente em mim…
Uma missão quase impossível!…

Mas que grande abalo, sofreu esta minha pequena fé.
Tão pequena como um grão de mostarda
Que por ser tão pequeno, quase não o vemos até.

Agora…, ainda mais pequena, que um grão de mostarda.
Será que esse grão vai morrer, antes de se transformar
Numa enorme planta quase sagrada?

Agora…, esta fé que não se vê, também não a sinto
Quando falo dela, até parece que minto.
Não se vê, mas eu sei que está lá…
Não a sinto, mas eu sei que está lá…
Eu sei que, quando falo dela, não minto.

EM - VIAGEM - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

Escrita impulsiva - Ivo Álvares Furtado

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Enquanto me lembrar
e puder escrever e descrever
o que me circunda e impressiona;
enquanto conseguir
registar as marcas vincadas
dos sulcos da vida;
…, escreverei de modo impulsivo,
porventura sem nexo,
num gesto faminto
de procura da verdade e da justiça,
promotoras da felicidade!

EM - A LÍNGUA PORTUGUESA QUE NOS UNE - IVO ÁLVARES FURTADO - IN-FINITA

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Quinta essência - Pedro Miguel Santos

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Procuro a luz condensada,
em pura razão!
A quinta essência do tudo,
uma centelha do absoluto,
um vislumbre de divindade!
A explicação para,
o temor do futuro…
Uma essência que faça,
esquecer nigérrimo passado,
que me lembre do agora,
de quem eu sou!
A essência da esperança,
num presente com norte!
Quero a luz,
para minha consorte!

EM - APÓS A ATLÂNTIDA - PEDRO MIGUEL SANTOS - IN-FINITA

Chove sobre os nado-mortos - Vítor Fernandes

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Tens no ventre o filho que não nasceu
Um corpo morto que não sabe que não vai parir
Tu que ignoras que já és morta também

Chovem-te estilhaços no leito
e as verdes vestes onde o verde já esmoreceu
por mais que ao amor prestem preito,
tens no ventre o filho que não nasceu

Jazes de esperança inundada de morte
que a qualquer hora é dela a hora de vir
e ao chegar essa hora, cabe-te em sorte
um corpo morto que não vai parir

É assim em Gaza, é assim em Rafah
o esplendor da morte do filho e da mãe
que tu não saberás que nunca vai nascer
tu que ignoras que já és morta também

EM - LÁGRIMAS POR GAZA - COLETÂNEA - IN-FINITA