quarta-feira, 2 de abril de 2025

Consagração - Meire Pedroso da Silva

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a mata pulsa em mim
pula de galho em galho
percorrendo veias ancestrais
os pássaros bicam as folhas em branco de minha memória
quebram as vidraças dos sentimentos
que escorrem dos porres e lombras
de algo que sangra nos encontros inusitados da madrugada
e tantas partilhas embriagadas de histórias
a mata vibra em mim
em cada fio dos cabelos brancos
amaciados pelas mãos de minhas netas
molhadas de gotas
que vertem sobre nós
lava o que entope as artérias
de culpa saudade e dor
e tudo se consagra nas águas de Nanã

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 1 de abril de 2025

Estado de sitio (excerto) - Maria João Neves

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Mexeu nas mortas da grande família africana,
teve coragem,
Mas,
na grande plateia o calafrio aguça a crença de que estou
perdida e que o passado não foi despido.
Tremo muito.
Já, e à beira rua,
um sorriso abraça-se ao poste,
sem alertas desassossegados e,
os laços ficam restabelecidos.
As lágrimas poderiam escorrer em todas as faces mas,
o medo do vazio,
racista,
como um material original em estado cru e, de sensações
súbitas hostis,
dança
Sim, dança mas,
a toda a hora.
Transeuntes chamam-me vagabunda mas,
Não aceitam o meu novo emprego
o de vagabunda.
Arrastada por preguiça levar-me-ão para a raiva e revolta mas,
não faz mal,
resultado de direitos humanos adquiridos.
No café do quiosque os guardanapos são recibos
comprovativos de supergentrificanismo.
Lisboa, menina, velha mas,
de bairros sociais interageracionais continuamente destruídos.

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Voam cânticos - Fernando Vasconcelos

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Voam cânticos, voam salvas,
Voam as pombas em liberdade...!
Voam ao sabor do vento
Trazendo por companhia
A pomba branca
Simbolizando liberdade!
Vão voando contra o vento,
Sem ficar em desespero,
Nem entrar em debandada...
Nada as quebra, ou destitui,
São firmes e não vacilam
São pródigas em seus intentos
Sem declinar ao infortúnio
De cada obstáculo!
Nada temem,
Voam livres, fugazes...

EM - VERSOS E DESABAFOS - FERNANDO VASCONCELOS - IN-FINITA

segunda-feira, 31 de março de 2025

Expectativa - Maria João Abreu

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Crio cada um dos meus poemas,
como se fossem parte de mim,
no meio das balas de uma guerra sem fim,
onde as palavras são insuficientes.

Teimo em criar e acreditar no amor,
como se não houvesse amanhã,
cercada por barulho e poluição,
nuvem tóxica que desaparece em um sorriso.

Creio que em torno das minhas palavras,
apesar de saber que a morte é supersônica,
a esperança é constante e a paz avança vagarosa,
como letras riscadas no muro de uma prisão.

Crio cada um dos meus poemas,
com palavras de alma e coração,
como fossem manuscritos que ficam para a eternidade,
como a última carta antes da minha desaparição.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

domingo, 30 de março de 2025

O que sou? (excerto) - Maria Felisbela dos Reis

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Sou um ser humano igual a tantos
Ou não… igual a ninguém
Vim ao mundo sem pedir
Para sofrer, amar e morrer,

Na vida nunca se pode dizer
O que por vezes nós pensamos
Nunca maltratei ninguém
Será que sei o que sou afinal?
No meu conscientemente eu sei
Que por vezes não sou compreendida
Pois tanta maldade há nesta vida
Que se vive sempre em competição.

Mas quando se olharem para si próprios
Os outros, talvez se vejam como são
Ignorantes ou inocentes
Com os seus pensamentos em vão!

A muito tenho assistido
E é forte o meu pensar
Não sabendo eles o que dizem
Ah! Se as verdades eu quisesse falar…

A maior parte da minha vida
Foi passada rápidamente
Sabendo eu ao que me refiro
Noto que o amor se vai perdendo
E sem querer consentir
É isso que nos vai acontecendo.

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sábado, 29 de março de 2025

Pai (excerto) - Maria do Céu de Carvalho

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Como é difícil celebrar um aniversário
Quando dois dias depois se morre?
Optei por celebrar a vida!
Um dia em que mesmo na cama do hospital
Conseguiste ter junto de ti as tuas três filhas e netas.
Estavas feliz, por estarmos todos juntos!
Bateste palmas e cantaste a ti próprio
Os parabéns!
Via-se o brilho nos teus olhos
Mesmo em grande sofrimento!
Feliz aniversário Pai.
Pelo dia em que nasceste.
É este o dia que quero e vou guardar
Eternamente na minha memória!
Acredito que estejas onde estiveres
Estás bem!
Foste aquele que partiu
Deixando uma enorme tristeza na minha alma!
Deixaste em mim um legado enorme
O gosto pelos livros, pela paz, pela simplicidade e humildade.
Pelo amor!
A vida não nos abençoou com a felicidade
Existiu sempre uma espada negra entre nós
Não nos deixaram aproveitar a nossa união.
Tudo fiz para ser amada.
Eu por ti sei que fui e contigo aprendi
O significado do verdadeiro amor!

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sexta-feira, 28 de março de 2025

Canção de setembro - Zito Jr.

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Hoje faz aniversário
A sereia que eu pesquei
Num dia 20 de abril,
Por Sertânia, lá, deixei
O que de tristeza tinha
Assim que a vislumbrei.

Em Sumé, nossa morada
Dois filhos, aqui tivemos
A caminhada é bem árdua
Mas muito nós já vencemos
A primavera nos dá
As flores que nós não vemos.

A convivência não é fácil
Viver é fácil demais!
Conflitos vêm e se vão
As mágoas ficam pra trás
E assim nós dois seguimos
Em paz e amando mais!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Coração puro - Maria Cristina de Sá Pereira

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Coração puro
No amor presente
Olhar além...
Libertar para ser liberto
Serenidade
Paz
Primeiro em mim
E expandir para o outro
Em mim contrai
No outro expande
E assim é o caminhar
Coração puro
Vida segue

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quinta-feira, 27 de março de 2025

Sonho de um rio - Zezé Matos

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Corrente de água doce é rio...
Porção de água salgada é oceano
É oceano, é oceano
É o mar que tanto amo.
É Oceano, é oceano.
Onde eu quero morar.
São as águas, imensidão!
Que meu coração, rio.
É menino que anseia
Sonha livre e deseja
Nestas águas serpentear.
Para a vida continuar

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

O verão vira outono - Maria Cabana

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Chega o outono colorido
A rodopiar com leveza
No sonho traz a certeza
De um inverno garantido

As folhas bailam ao som
De manhãs estremunhadas
Festejam às gargalhadas
Fazendo ecoar seu tom

Nuvens se vestem de cores
De uma certa melancolia
Se colhem no dia a dia
Frutos que já foram flores

Regressa o ano letivo
Com sorrisos luminosos
Todos eles ansiosos
Se debruçam sobre o livro

Assim é era após era
O verão vira outono
O inverno vira sono
Para acordar em primavera.

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quarta-feira, 26 de março de 2025

Carrasco inconsciente - Tita Tavares

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Vivo na angústia… no medo… na sofreguidão…
no receio…
Vivo na sombra do carrasco sem rosto... invisível…
Que não se assume nem dialoga.
Mas sempre presente,... constante... inadiável... implacável…

O carrasco que não necessita de chicote
Mas chicoteia
O carrasco que não necessita de espada
Mas apunhala
O carrasco que não necessita de uma cela
Mas que encarcera
O carrasco que não necessita de ponto
Mas que controla
O carrasco que deixa rasto…
Que faz o caminho sem caminhar…
Que acompanha… sem ser convidado

O carrasco que de nada necessita… que não existe…
Mas que persiste… insiste… jura… perjura…
Que promete… incumpre… que seduz… que trai…
Faz sonhar, desilude…
Que mata … mas também cura.

O carrasco…
O tempo… o tempo… o tempo…

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Loucura - Maria Antonieta Oliveira

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A loucura
É uma pasta vazia
É uma pauta sem clave de sol
Uma praia sem areia
E um mar sem água
A loucura
É uma cabeça oca
Um pensamento sem nexo
Um som agudo
Ou grave tanto faz
A loucura
É louca
Inventa e cria ilusões
Acredita em mentiras e desilusões
É louca
A loucura
Porque é abstrata e pura.

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terça-feira, 25 de março de 2025

A voar com os pés na Terra - Teresa Carrapato Moleiro

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Preciso da tua asa para voar
Preciso da tua asa para me abrigar
Preciso da tua asa para poder chorar...
Ah, se preciso...!
Vem, minha borboleta
Toca-me com suavidade,
Preciso de sair do casulo,
Preciso de me renovar,
A minha alma poder libertar..

Um dia vou voar tão alto,
tão alto ...
Saio da roleta!
Que o chão não será só chão!
A terra não prenderá mais os meus pés,
À minha volta não haverá sombras...
Só cor..., amarelo, azul, vermelho,
Cor branca...!
Serei, quiçá, um anjo...
Ou, simplesmente, uma borboleta...!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Esta canção - Maria Alice Bragança

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Há anos não escuto
esta canção.

Hoje que desafino,
desatino desse destino.

Dentro de mim,
fuga em mi menor.

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segunda-feira, 24 de março de 2025

Janela azul de água - Susana Veiga Branco

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Dá-me água
Que de sede me afogo

Dá-me o teu calor húmido de inverno
Desabrocha a pena colorida

Trai com o olhar uma rosa branca
Quem sabe até uma flor de algodão

A cor
Sempre a cor
Ou a sua ausência

A luz
Sempre a luz
Ou a sua ausência

Inspiro-me no teu chapéu
Transparente
Inundado

Inspiro-me no amor
E na sua ausência

Inspiro-me na coberta da cama acabada de fazer
No ninho vazio do vaso da janela azul...

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

domingo, 23 de março de 2025

Recordações de mulher - Manuela Frade

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Quase não as tenho
A mulher mundi
Mergulhou numa noite profunda
As memórias são fugazes
Tristes
Se autoestima,
A mulher mater
Foi perfeita
Desde o primeiro dia
Senti meu corpo
Minha alma diferente
Deixei de me sentir
Vazia e só
Até que o meu passarinho
Ganhou asas e voou
A distância existe
Mesmo quando partilhamos
O mesmo galho...
Ficaram apenas
Recordações!

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sábado, 22 de março de 2025

Há magia na tela - Manuela Conceição

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Há magia na tela
Magia no ar
Criando magia
Eu vivo a pintar
Pinto de manhã
De tarde ou de noite
Que o amor à arte
Fala sem parar.

E por cada tela
Vou-me apaixonar
Nasce então a luz
Surge a inspiração
E por cada tela
Dou meu coração.

Com magia
Concentro energias
Na magia transmite amor
Na minha tela mágica
Com todo o dom da côr.

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sexta-feira, 21 de março de 2025

Aylan Kurdi - Manuela Bailão

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Era dourado o teu olhar
Como dourada era a areia
do deserto imenso do teu país.

Não sabias onde vinhas
nem para o que vinhas
nem porque te traziam para uma terra que não te queria.

Não sabias que o mar que atravessavas
esse teu mar entre terras que nunca viras
que era azul e brando
se tornaria bravo e traiçoeiro
quando deixasse de ser o mar da tua terra.

Neptuno, em dia de raiva agitou as águas
e o oceano onde agora navegavas abriu-se em violência
arrancou-te aos braços da tua mãe.

Vingativo, deitou-te sem vida
na areia inóspita da terra que não te queria.

Nunca mais será dourado o teu olhar.

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quinta-feira, 20 de março de 2025

Natal - Rosalina Vaqueiro

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Ah o Natal!
É a festa da paz, da luz, do amor
Celebra o nascimento de Jesus
O aconchego do lar tem mais calor
Há presépio, luzes a cintilar, árvore enfeitada
Arroz-doce, filhós, bolo-rei, azevias
Bacalhau da consoada
Há abraços, prendas, sorrisos
A família sente-se amada
Há afetos, ternuras, carinhos
Comunhão, missa do galo, sino da igreja a chamar
Boa vontade para amigos, estranhos ou vizinhos
O Deus da guerra pode até calar!
Que dádiva esta quadra Senhor!
Lembrando que o homem afinal é capaz de amar
Não é só ódio, destruição e horror
Fosse mais vezes Natal e não haveria tanta fome e dor!

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quarta-feira, 19 de março de 2025

Na noite - Rosa Fonseca

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Dentro da noite, todas as noites e um vazio que começa
Um cansaço que confunde e um medo que consome
Atravessa-nos uma solidão antiga
Uma paisagem sem amanhecer, um escuro persistente.
Por dentro da noite, uma agonia que desfaz os sonhos
Um vento que se cala, uma voz que tarda
Vestígios de uma memória sonâmbula
E uns olhos furtivos na meia-luz da casa.
Desabrigados silêncios esculpem versos por dizer
Inquietam-se as palavras rente à garganta da noite
Ao longe, um halo…
Uns braços que se libertam
Demoradamente
Uns braços

Por dentro da noite, uma saudade de asas
De pássaros entre as mãos.

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