terça-feira, 4 de março de 2025

Meu pai, o jatobá - Debora Pio

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Abraçavas o jatobazeiro e fechavas os olhos
Esboçando um leve sorriso
Um gesto de humilde meditação
Comunicação com a mãe
Sempre gostaste de tirar os sapatos
Sentir a terra, a água, a areia, o sol
Embalando os teus pés
Os teus pensamentos
Teus olhos verdes iam então para o horizonte infinito
Alisavas com as tuas mãos as rugas do tronco das árvores
Onde o mapa do tempo conta histórias.
Quando, juntos, por ali passávamos
Ali onde fica o jatobá ancestral
Levemente erguias o chapéu
E com voz emocionada e rouca, dizias:
- Ó, meu jatobá!
Davas-lhe, assim, um abraço
Aquele – de respeito pela Natureza.
Duma feita, deste-me uma grande semente
Caída daquele jatobazeiro.
Guardei-a.
Inocência
A peste levou-te
Hoje, temos a semente plantada na terra, junto contigo
Retorno telúrico
Destino de todos os viventes
Um dia
Comungarei convosco.

Pai, in memoriam.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário