sábado, 25 de setembro de 2021

Sombras - MANUEL MACHADO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Conexões Atlânticas neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Encostado ao varandim
da casa virada ao mar
regalo o olhar e a alma
à luz prata reflectida no oceano
em dia de esplendorosa lua cheia,
águas calmas, serenas, prateadas
apenas agitadas por brincadeiras
de gorazes há muito desaparecidos.

Olho lentamente em redor
na curiosa busca das sombras
provocadas pelo intenso luar,
há sombreados escuros e estáticos
dos prédios e casas vizinhas,
os esguios, por vezes ondulantes,
das palmeiras de folhagem inalcançável
estendidos pela rua abaixo
até se esvanecerem no alcatrão
mais escuro e longínquo,
onde se desenham linhas escuras
das viaturas estacionadas e alinhadas.

Está deserta de caminhantes, a rua.

Subo ao terraço de melhor vista e alcance
onde em noites escuras como breu
reencontro e conto pacientemente
as minhas estrelas no firmamento.

Hoje, sob este intenso luar
apenas vejo estendida no chão
a sombra esguia de mim próprio,
com notória curva acentuada
provocada pela minha escoliose.

Mergulho na intensa escuridão da sombra
esbarro com cansaços estratificados
acumulados pela vida vivida,
enfrento e questiono medos,
agarrados que nem lapas
às paredes imaginárias do cérebro,
incuto esperança e positividade
a algumas fraquezas encontradas
em caminhos sinuosos da recuperação,
danço, gargalho e rejubilo
com o grande amor sentido.

Nado energicamente para as margens
da sombra escura mergulhada.
Reencontro o meu físico
melancólico no estar e ser,
olho descaradamente a minha sombra
agora menos negra e já ténue,
o olhar regressa ao mar prateado,
às estrelas na abóboda celeste
com as sombras e os sombreados
já confrontados e apaziguados.

Em rotação, a lua lá vai em passo lento
a provocar novas silhuetas
ansiosa por novos e prementes encontros
às mentes abertas e conscientes.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VI - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário