terça-feira, 24 de agosto de 2021

Marias - RITA PINHEIRO

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Marias brotam do vento
Germinam sem jamais terem sido regadas
As Marias gemem de dor, dão prazer.
Maria do beco, da viela abandonada
Mora em alamedas
Escraviza, é escravizada.
Marias puras, impuras
São sons que tocam
Ouvidos surdos, não ouvem.
Maria é voz
É vós que me ouve, tapa orifícios
E abre fendas com o olhar.
Maria dos galhos
Das árvores sedentas por água
Rogai, rogai
Não lute!
Ouve, ouve-me, te rogo!
Maria do relento
Da cama arrumada
Do rebento que não vinga.
Maria Mulher, Maria Homem
Menina que salta a janela
e anda na chuva.
Maria do tronco
Madeira que não enverga
Grama que você deita.
Maria não se rende
Te dá colo
Derramas lágrimas por ti.
Ouve, ouve-me te rogo!
Abro seus caminhos
Afasto matas virgens
Sou o Ogó do seu Exu
Visto o manto de Nossa Senhora
Sou Maria, Mãe, Mulher
Pisa, não tenha medo
Sou luz, clarão que ilumina.
Ouve, ouve-me, te rogo!

Sou Maria, Amélia, Júlia, Rita
Sangramos, parimos
Do nosso ventre saem vidas!!!
Ouve, ouve-me, te rogo!
Sou a menina dos olhos de Oyá
sou a lua de São Jorge
Nua e cheia...
Quem eu sou?
É o que pergunto todos os dias.
Sou o lodo, sou berço
Sou Maria dos lombos chicoteados
Sou o calo das mãos dos operários
Sou pedra lapidada
Que brilha em seus olhos.
Ouve, ouve-me, te rogo.

EM - MULHERIO DAS LETRAS NA LUA - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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