domingo, 29 de agosto de 2021

Crisálida - SÍLVIA DELÁZZARI

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Tenho a pele fustigada pelo tempo,
e marcas espalhadas pelo calendário
célere, impiedoso
a cobrar-me o voo de borboleta.

“Se virar a página”,
“quando mudar o dígito”;
vivia de condições impostas pelo medo.
Enquanto lagarta, refugio-me
para aprender a romper a casca.

Guardo os sabores da infância,
mas tramo urgente transmutação.
Alimento-me todo dia
de sonhos tão meus.

Nascida do ventre do campo,
não me fiz terra.
Pergaminho-me!
Minha escrita é água
que lava os pés,
vislumbra caminhos
e me faz ar.

Então voo, voo, voo...
nome e verbo
asas em mim!

Há tanto céu em meu olhar!

São as palavras que
transmutam a dor e o grito,
atravessados em mim,
em tecido-texto.
Reverbero-me e revelo-me autopoieses!

Trigo, água
metades de um ser inteiro,
cujas mãos polvilham o sal,
ávido tempero da espera,
nas minhas entranhas.

Minha outra metade já anuncia,
como os pães da manhã,
o vinco dos sorrisos
os recheios desconhecidos
os sabores ousados.

Sou receptáculo para as auroras
e me ofereço desnuda
nas linhas, nas entrelinhas
e nos silêncios...

EM - MULHERIO DAS LETRAS NA LUA - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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