LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
De cemitério eu sempre fui
Portão de ferro entreaberto
Assobio entre os mármores
Ciprestes em festa ao vento solene
Cada morto em descanso na paz era envolto
No som do silêncio o fim terreno exposto
Ali brincava com amigos
E os vultos ora corriam ora sorriam
Apareciam subitamente
Entre os ciprestes e o vento
Nunca os via nitidamente
Meus amigos espantados
fugiam quando eu os mostrava
Nada viam
Escondiam-se dos vultos
que de imaginários dentes
expostos a mim sorriam
Os maus rastejavam pelas lápides
Em minha direção
Os bons logo surgiam
De braços dados comigo seguiam
Nunca fugi ou me escondi
Um dia estaria ali
Amigos já os tinha
Mas os ossos
E os cabelos longos ou curtos
Lisos ou encaracolados
E as peles escuras ou claras?
E os olhos tão lindos
E os tão feios
Azuis sem vida
Castanhos sem brilho
Aos vermes?
Incógnita que me seguiu
Por anos e anos a fio
Até que os vi dessa vez nitidamente
Com meus olhos feios, castanhos, sem brilho
Minha pele roxa
Meus cabelos lisos e brancos
Estávamos lá
Juntos.
EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS VI - COLECTÂNEA - IN-FINITA
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