segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A pele do verso - CRISTINA ALEXANDRA RODRIGUES

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Interessa-me a pele do verso
que me cobre de palavras paridas.
A cor das risadas que nascem das palavras
que rasgam o silêncio da voz.
Interessa-me o olhar com que as deito no papel
e a forma como se espreguiçam e gritam.
O verso nasce-me da alma e ganha asas.
E consigo voar nas palavras,
desembrulhar o coração e desnudar a vida.
Encho o vazio de gritos prensados e gemidos.
Encho-o de olhares trocados, de ardor e sentido.
E o silêncio envergonhado aconchega-se
nas palavras que rasgam o tempo
e partem em busca de um orgasmo de papel.
Sorrio perante esse êxtase que inebria a pele
e a funde ao verso que me ilumina.
Fico cativa desse enamoramento,
e do poder que nasce em mim,
cada vez que arranco as amarras silábicas
e desaperto a voz no meu peito.
E sou mares e céus e sou vento e quietude.
E sou tudo o que eu quiser ser.
Que nunca se cale o verso em mim,
e que tudo o que sei e sinto se perca cá dentro,
sem achar os poros de saída.
Preciso do verso como preciso da vida.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS V - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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