domingo, 28 de junho de 2020

Poema da Vó Maria - ANAMARIA ALVES

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Da casinha pequenininha
Que chovia mais dentro do que fora,
saía arrastando os chinelos,
vestida de chita a velhinha.
Lenço sujo à cabeça
ou o marido zangava.
Lá ia Bisa Maria
benzer as vacas do sr. Antônio!
Viviam as bichinhas
Morriam as bicheiras
E o fazendeiro contente
mandava chamar a benzedeira!
– Vai correndo depressa, menino!
O moleque resfolegante e risonho
mostrava na boca semi-vazia
apenas um único dente.
E sorrindo avisava:
– Dô Maria, sô Antoin mandou eu módi avisá qui tem cabeça lá,
e a sinhóra tem qui buscá!
Ia ela arrastando seus chinelos.
E voltava com uma cabeça...
– Ispia lá qui a vó invém!
– Óia os chifre da vaca que tamanhão
– Vem ver, Lalá!
E por alguns dias, naquela casinha,
havia carne para comer com angú.
Carne de cabeça de vaca.
Fubá de moinho d’água.
Mataram muita fome nesse Belo Vale...
de lágrimas!

De Anamaria Alves, Poema real, lembrança da Vó Maria
da Ponte Queimada.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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