sábado, 27 de junho de 2020

Já não sei - GRAÇA CANHÃO e JOÃO DORDIO


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Já não sei falar de amor
Foi por ter amado tanto
Ou provavelmente porque nunca verdadeiramente amei,
No beiral das minhas lembranças
Vou desfolhando como um malmequer fosse
Memórias de um amor que o passado levou,
Bem me quer
O beijo inesperado molhado de saudades
Mal me quer
Essa ausência que escreveu partida sem hora marcada
Na despedida um cortejo de silêncios
Porque o amor ainda pairava nas entrelinhas...

Já não sei escrever sobre o amor
Foi por já ter escrito tanto
Ou provavelmente porque esgotei todas as letras que existem
E naquelas folhas brancas dos blocos de capa preta
Hoje moram bocadinhos enrugados das lágrimas que caíram
sem dar conta.
Esta noite vou arrancar cada folha vazia e com sabor a sal
Como se de um malmequer com pele branca se tratasse...
Bem me quer
Um beijo louco, quente e molhado de saudade
Mal me quer
Esta mesma saudade repleta de recordações
De um amor que ainda não aprendi a esquecer...

Já não sei sentir sem amar
Foi por ter sentido tanto
Ou provavelmente porque nunca deixei de sentir,
Esta exacerbada emoção
Que pincelou os dias de poesia
E, no recato da sua timidez
Soltou palavras de paixão
Como se o amor fosse
Um malmequer desfolhado por este louco sentir
Mal me quer
O verso não rima
Bem me quer
O beijo é um poema nos lábios de quem se ama...

Já não sei escrever sem estar a sentir
E as palavras por aqui depositadas são espelhos
Do que sonho ser, do que fui, do que ainda sou.
A minha paixão molda o barro do meu corpo
E cada peça feita de mim tem a tua essência invisível.
Ontem inaugurei o meu jardim de flores de barro
E ao segurar em cada uma que logo se partia, percebi...
A luz do espelho amolece estas flores...
Mal me quer
Uma vida que nunca foi a minha
Bem me quer
O sonho de continuar a ter-te para além das letras...

EM - DUETOS DORDIANOS - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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