segunda-feira, 24 de junho de 2019

Tarde demais - PATRÍCIA ANICETO

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há mais que um mar a nos separar
entre nós existe o tempo e suas intempéries
já é tarde
demasiadamente tarde para amar
para viver aquilo que negamos
quando ainda era cedo
quando ainda construíamos sonhos sobre nossos
                                                            medos
e não faltava coragem para continuar
quando ainda éramos nós
apenas nós sem que nos preocupássemos
apenas com nosso eu

eu poderia esperá-lo por toda eternidade
se acaso tivesse a certeza
de que não mudaria o tempo
e a conjugação dos nossos verbos
se acaso eu tivesse uma quase certeza
de que não seríamos apenas
uma fuligem na poeira dos anos
um rastro incerto perdido no horizonte
a nos encher de esperança

mas já é tarde
tarde demais para regressar
não espere encontrar meu vulto à beira do cais
seria o mesmo que encontrar-me à beira do
                                                              precipício
antevendo o fim onde haveria de ecoar meus ais

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - ANTOLOGIA - IN-FINITA

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