quarta-feira, 26 de junho de 2019

Constelação - PATRÍCIA PORTO

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uma mulher se desprendeu de meus braços
era outra a outra
era eu mesma a outra nela acenando
partindo de mim em volume de terra
a planta terráquea e faminta
retorcida em todo corpo
dos dedos dos pés até o alto
envolvida torta nos meus cabelos
atravessada carnívora na carne doce
me esmagando até o sufocamento
se nutrindo de minhas partes mais moles
sólidas doídas e sem camuflagem
de enormes garras entranhando vísceras
misturada ao que eu era
já não sou mais argila húmus e lodo
há o nada e emborco vazia
na outra que agora sai viva no aparte
com tronco prótese osso enigma
já não é mais outra
eu a procuro
sou legião
nuvem massa pernas e peitos
tenho várias cabeças
todas nelas hidras
outra que era eu
quando eu outra era a mesma
onde está?
reflexo e pedra
da mesma língua
levadas juntas na correnteza
fluxam nossas sementes envenenadas
fluxos de nossas regras libertadas

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - ANTOLOGIA - IN-FINITA

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