terça-feira, 26 de setembro de 2017

Sangue azul - JOSÉ LUÍZ MELO

Entre o cajado e o alfanje o meu pescoço
oscila em ziguezague na incerteza:
Se o pau esmaga e vem antes do almoço,
a espada chegará na sobremesa.

Mas ninguém há de ver que sou medroso,
meu sangue azul escorre sobre a mesa
da festa nupcial,em um treloso
desejo de soltar-se de mão presa

numa outra mão que fecha e que se agarra,
lugubremente prende e que se amarra
a um castiçal tão cego como o coice,

que a mula branca deu no meu fantasma,
agonizando num acesso de asma,
metamorfoseado numa foice.

EM - LIVRO DOS SONETOS, DOS PRIMEIROS AOS PENÚLTIMOS - JOSÉ LUIZ MELO - NOVO ESTILO EDIÇÕES DE AUTOR

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