O espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ansioso espreito e sigo,
É um espectro mudo, grave, antigo,
Que parece a conversas mal disposto...
Ante esse vulto, ascético e composto
Mil vezes abro a boca... e nada digo,
Só uma vez ousei interrogá-lo:
"Quem és (lhe perguntei com grande abalo)
Fantasma a quem odeio e a quem amo?"
- "Teus irmãos (respondeu) os vãos humanos,
Chamam-me Deus, há mais de dez mil anos...
Mas eu por mim não sei como me chamo..."
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
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