quarta-feira, 22 de abril de 2015

a vénus ao espelho - VASCO GRAÇA MOURA

se a vénus ao espelho fosse
uma oliveira a arder por dentro
com sua chama de óleo doce
e tudo em brasa desde o centro,

se o seu espelho acaso fosse
embaciado pelo alento
que algum cupido em voo trouxe
entre desejo e atrevimento,

se o ar no quarto depois fosse
feito luz táctil do aposento
e se entranhasse a tomar posse
da nudez rósea no cinzento,

e se velásquez então fosse
pintar-lhe o ensimesmamento
eu te diria: misturou-se
ao próprio instinto o pensamento.

EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL

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