sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ode - MIGUEL TORGA

Feira dos vinte e três em qualquer terra,
Com vacas holandesas amojadas.
Gente que vem, gente que vai, que berra
Pelas suas quimeras tresmalhadas.

Sardinhas fritas, descrições da guerra
Nas mãos de um cego, sujas, calejadas
Dum sentimento táctil que descerra
Trevas à sua volta acumuladas.

Linho de teias que o luar corou,
Ao pó dos dedos e ao calor da tarde.
Remédios santos que ninguém comprou

Numa doença que os podia ter.
Lenha do mundo que crepita e arde
No cósmico destino de viver!

EM - POESIA COMPLETA VOL.I - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE

1 comentário:

  1. Miguel Torga, tão genuíno, tão homem-urze, tão homem-paixão. Obrigada, Emanuel. Partilho. Deixo um beijo. LT

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