domingo, 4 de agosto de 2013

cristal - VASCO GRAÇA MOURA

tinha algum vinho ainda o copo que atirei
por cima do meu ombro e foi cair ao tejo
de madrugada, amor, e havia esse lampejo
do fogo em teu olhar a impor-me a sua lei

da minha sombra à tua, em sombras pelo cais,
tinha um som inda rouco o fado que eu cantava
tão perto já de ti, não sei se respirava,
nem se era para sempre ou para nunca mais

meu amor, meu amor, por quanto me dizias
estranho murmurar levado pelo vento
por quanto era paixão e agora é desalento
o meu rosto estremece em águas tão sombrias

por quanta embriaguês então nos consumiu
fiquei como o cristal, mas creio que esqueceste,
do copo em que eu bebi e tu também bebeste
que foi cair ao rio e nele se partiu

EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL

1 comentário:

  1. Muito compacto e carregado de desalento, de amargura pura e dura, numa visão unilateral: tudo cristalizou.

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