sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Conclusão - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Os impactos de amor não são poesia
(tentaram ser: aspiração nocturna).
A memória infantil e o outono pobre
vazam no verso da nossa urna diurna.

Que é poesia, o belo? Não é poesia,
e o que não é poesia não tem fala.
Nem o mistério em si nem velhos nomes
poesia são: coxa, furta, cabala.

Então, desanimamos. Adeus, tudo!
A mala pronta, o corpo desprendido,
resta a alegria de estar só, e mudo.

De que se formam nossos poemas? Onde?
Que sonho envenenado lhes responde,
se o poeta é um ressentido, e o mais são nuvens?

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA

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