sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Poema para Ana - NATÁLIA CORREIA
Às vezes eu sei que não há deus
Outras, reparo nos teus olhos, Ana.
São realmente olhos? São realmente teus?
São o mistério de outra raça mais humana?
Serão assim os mortos que aparecem
E nos afagam com mãos de seda preta?
Os teus olhos, Ana, são coisas que acontecem
A quem esteve fechada séculos numa gaveta.
Se não tivesse vindo o Príncipe estrangeiro
Enchendo a nossa casa de ramos de giesta
Estariam ainda dragões de nevoeiro
A guardar os teus olhos perdidos na floresta.
Nunca mais haveria crianças de mãos dadas
No modo singular como agora te sentas
E estaríamos ainda as duas separadas
Pela cortina velha de andorinhas cinzentas.
O mundo não seria uma coisa tão grande
A noite voltaria a tirar-nos a calma.
Ah, foi o telescópio do Príncipe Alexandre
Que me salvou a alma!
in... Poesia completa - NATÁLIA CORREIA - Dom Quixote
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