terça-feira, 1 de abril de 2025

Estado de sitio (excerto) - Maria João Neves

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Mexeu nas mortas da grande família africana,
teve coragem,
Mas,
na grande plateia o calafrio aguça a crença de que estou
perdida e que o passado não foi despido.
Tremo muito.
Já, e à beira rua,
um sorriso abraça-se ao poste,
sem alertas desassossegados e,
os laços ficam restabelecidos.
As lágrimas poderiam escorrer em todas as faces mas,
o medo do vazio,
racista,
como um material original em estado cru e, de sensações
súbitas hostis,
dança
Sim, dança mas,
a toda a hora.
Transeuntes chamam-me vagabunda mas,
Não aceitam o meu novo emprego
o de vagabunda.
Arrastada por preguiça levar-me-ão para a raiva e revolta mas,
não faz mal,
resultado de direitos humanos adquiridos.
No café do quiosque os guardanapos são recibos
comprovativos de supergentrificanismo.
Lisboa, menina, velha mas,
de bairros sociais interageracionais continuamente destruídos.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

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