Liberdade (excerto) - Mário Cantiga

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Nasci das mais profundas trevas da maldade humana

Vim da miséria e da fome, apesar de muito trabalhar

Vivi no medo de sentir, de falar e até de pensar

Não fosse haver por perto, aqueles que estavam sempre a olhar...

Nasci da vontade das mulheres e dos homens que não podiam mais

Que carregavam na garganta o grito da indignação

Porque queriam um futuro diferente de o dos seus pais

E criar e educar os filhos na sua terra

Sem terem como destino o ultramar e a maldita guerra

Nasci nas paredes húmidas e escuras da prisão

Vim da revolta incontida de gente lutadora e muito sofrida

Dos milhares que acreditaram que o imensurável impulso da revolução

Lhes traria uma outra e merecida vida!

Foi assim, que ao som de; “E Depois do Adeus”;

Que nasci numa madrugada Primaveril e em flor

Que vim como um raio de luz e de esperança

Carregada de sonhos e de amor

Ao ritmo do som dos passos: rrr, rrr, rrr, rrr

das botas militares de; “Grândola, Vila Morena”;

Trouxe o fim da repressão e da ditadura

E um enorme e crescente sinal de confiança

Para por cobro à vida dura

...

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