quinta-feira, 1 de junho de 2023

A tempestade - ALEXANDRA FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Era um simples poema.
Nem precisava de rimar.
E ela fitava, há horas, a ameaçadora folha em branco,
Que não se deixava preencher,
Que sabotava as suas tentativas de escrita,
Que parecia comprazer-se em humilhá-la,
De dedo em riste, a apontar-lhe a falta de criatividade.
Tamborilou o lápis, bebeu um golinho de vinho.
Suspirou.
Na longínqua linha do horizonte,
O azul profundo do mar e o cinza plúmbeo do céu uniam-se.
Vagas alterosas quebravam-se nos rochedos,
Farrapos brancos de espuma redemoinhavam
Até pousar na areia
Coberta de paus,
Emaranhados de redes,
Restos de boias.
As gaivotas, ancoradas no paredão,
Eram emudecidas estátuas brancas.
Um clarão riscou os ares,
Um trovão ribombou.
Um poema nasceu.

EM - AMANTES DA POESIA E DAS ARTES - COLETÂNEA - IN-FINITA

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