domingo, 26 de julho de 2020

As quatro estações da Mulher - CLÁUDIA MONTEIRO

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Começo da estrada...
Alvorada,
Orvalhada,
Sorriso angelical em face arredondada, imaculada
Vestes pele aveludada, doce e perfumada,
Eco do chilreio da pardalada
Cobre teu virginal tronco fino
verde e entrançada hera,
Árvore menina, és Mulher-Primavera!

De estonteante sedução no olhar,
Toda tu és perdição,
Fruto apetitoso, alvo de competição
És a Mulher-Verão!
Em vaidoso corrupio, cedes à tentação
Do mais ousado assobio canção
Para as raízes fixar e o ninho construir
Como um dever a cumprir.

Sorrateiros, tons maduros pintam a frondosa cabeleira,
folhagem enternecida da mesma cor da vida.
Diminui a atração, agiganta-se o coração
com as alegrias dadas pela nova geração
São árvores pequeninas, todas ainda meninas
requerendo proteção
Começas a ser cansaço, possuída pelo sono,
És a Mulher-outono!

E eis que se instala, branco e gelado, o inferno,
És a Mulher-Inverno!

Agora árvore molengona, que, com o peso da idade,
Vais perdendo a vontade, sobrevivendo à saudade
Precisas de mil cuidados, de atenção redobrada
Sentes-te abandonada, entregue à triste sorte.
E é de tronco curvado,
ramos partidos e rasgados os vestidos,
que aguardas a morte.
... e é ver as palavras que se desprendem, uma a uma,
dos teus ramos nus,
e esvoaçam rumo à eternidade.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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