quarta-feira, 29 de julho de 2020

Afloramento do sentir, mãos que suportam - JOÃO DORDIO e SÍRIO DE ANDRADE


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

Cravam-se no peito sombras apunhaladas, sangue que jorra
Dor arrastada pelo corvo da alma, um voo rasante em estrada
aberta
Revolvo em voltas infinitas, roucos lençóis clamando o espírito
Sono moribundo do abandono solidão profusa,
Corpo inerte no brado do teu nome, arde em desejo,
crente e suicida,
Sofre, cão abandonado sem dono, por não querer suportar
o conforto,
Privação de uma trela, uma jaula de porta aberta à vida...
Há uma solidão em cada garrafa vazia, entre um sono e o sonho
de não acordar...

Peito sombra de um eco profundo de um não bater
Porque o que trago no peito partiu e deixou apenas o espaço
ao sofrimento
E à dor constante que leva esta mente alucinada verter lágrimas
em forma de insónia
Pelos lençóis de camas impuras ou cadernos com histórias loucas...
Eu já tive o teu nome à porta de entrada daquele corpo para a alma!
Eu já te tive no final de cada grito de prazer onde o orgasmo era
alvorada!
Eu já te tive em cada horizonte por estrada ou céu, mas hoje
fecho-me...
E em cada garrafa procuro mais argumentos e explicações para
ainda acordar...

Rasgo os dias e as noites nas ruas bafejadas pela memória
Em todo lado a sangue grito pelo teu nome, loucura dos passos
sem destino
Na porta fechada ao mundo crente, não há fé que habite esta alma
Apenas licor, apenas leigo, apenas ateu dessa vil estrada
A felicidade é a letargia do tempo a que chamam céu
Procuram os olhos o sal... esse que me alimenta num último trago...

A memória passou a ser um saco velho e sem fundo
de pensamentos antigos
Com tinta de caneta transformada em mar de lágrimas
de um tinteiro inesgotável
Entornado todos os dias e todas as noites em que estás sem corpo
E me habitas a alma num voar descontrolado a caminho de lugar
nenhum...
Eu sei que um dia te tive e fui o teu amor e que isso não foi
um sonho!
Hoje no pesadelo da tua ausência, coleciono garrafas e acordares
de solidão...

EM - DUETOS DORDIANOS - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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