sábado, 30 de maio de 2020

Todas as noites - JOÃO DORDIO


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

A transparência da alma faz despir os corpos e, sempre
que tiro a roupa em mais um caminho que tracei
naquele cama de prazer mundano e carnal, digo à alma
para escrever mais um poema ou fazer uma canção...
No final do meu braço já não mora a tua mão
entrelaçada na minha, mas deixaste-me uma caneta
qualquer para dizer ao mundo que existe um corpo
também transparente que autorizou a alma a voar...
Todas as noites as lágrimas e as asas cosidas por dentro
desviam, de alguma forma, a tinta... Ou será apenas o
álcool, nunca sei...
Mas todas as noites essa tinta percorre também caminhos
infindáveis de folhas para deixar a um mundo que nunca
terá portas ou janelas para o meu reino...
A transparência do corpo e da alma cria o estranho
nevoeiro de olhamos sem vermos o poeta... sem perceber
realmente os seus gritos...

Esta noite há gritos de letras!
Gritos transparentes...

Com a boca fechada e a caneta destapada. Todas as
minhas canetas deixadas por ti têm tampas que também
estão desadaptadas aos seus bicos, os tais que lançam
gritos, que lançam espirros e saltos da tinta, entre o voar
das letras e das palavras...
Esta noite gritei desnecessariamente que te queria
novamente. E nas portas e nas janelas sempre fechadas
do meu reino percebi que os meus lábios ainda estão
colados aos teus sempre que uma tampa desadaptada não
fecha os gritos da caneta.

EM - TOCA A ESCREVER - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário